Projeto de Memória da Freguesia de Mire de Tibães - “Recriação do ritual Encomendação, Botar ou Lançar as Almas”

As antevisões meteorológicas prometiam uma intempérie com chuva intensa e muito vento, assim aconteceu na passada sexta-feira, 9-Nov. Mas tal não foi obstáculo para a recriação do ritual do “Botar das Almas” a que o Grupo de Amigos do Mosteiro de Tibães se propôs realizar. Poderemos mesmo dizer que as condições climatéricas contribuíram para transformar a noite de sexta num momento particularmente relevante.

Deste modo, perante a adversidade climática, recorreu-se a um local abrigado, com história e tradição no ato de rezar pelas almas, carecidas de afeto, na perspetiva dos hábitos do cristianismo. Podemos mesmo afirmar que o Claustro do Cemitério do Mosteiro de Tibães reviveu instantes de súplica que se tornaram únicos.
Houve então necessidade de adaptar a dinâmica prevista para atividade na deslocação pelos diferentes lugares da freguesia, realizando-a de forma simbólica, porém com todo o significado.
Antecedendo o cerimonial, procedeu-se a uma brevíssima contextualização histórica, lembrando alguns dos últimos “botadores”: Mª da Conceição Ribeiro da Silva, Ana Gomes, Esperança Lopes, Teresa de Jesus Gomes Alves, Jerónimo Gomes de Sousa, Margarida Beato, Mª Pinto Coelho, Mª Rodrigues Capa Mendes, Mª da Conceição Gomes, Francisco Fernandes Gonçalves.
De seguida, na escuridade da noite e após o toque das trindades dados pelo sineiro da freguesia, os quatro “lançadores das almas”, iluminados por uma lanterna, cada qual no seu canto do piso superior do claustro, assomaram à janela do respetivo varandim entoando o Alerta, Alerta! e apelando à reza do Pai-nosso e Ave-maria pelas benditas almas do purgatório. As suas vozes, determinadas e bem organizadas, ecoaram fortes, enchendo o espaço e atemorizando o numeroso público aderente que se deslocava rezando no piso inferior, outrora cemitério monástico e da freguesia de Mire de Tibães até ao primeiro quartel do século passado.
Intervenção do Coro Paroquial Litúrgico
A recriação pedia um momento que enriquecesse este ato e isso aconteceu com a intervenção do Coro Paroquial Litúrgico de Mire de Tibães que fez o encerramento do Cerimonial na escadaria de aceso ao salão da ouvidoria do Mosteiro com os cânticos "Desperta", de Hélder Dias e “Felizes os mortos", de compositor anónimo, interpretados de forma irrepreensível.
Viveu-se um momento inesquecível. Foi evidente a satisfação dos participantes que pareciam ter vontade de continuar este ato de oração que se perdeu num tempo ainda não muito distante.
O GAMT, reconhecido, agradece a colaboração na recriação do Ritual "Botar das Almas", à Rusga de São Vicente de Braga, ao Grupo Folclórico de S. Martinho de Tibães, a Deolinda Fernandes da Silva, a Maria da Conceição Sousa Gomes, ao Coro Paroquial Litúrgico de Mire de Tibães, pelas suas excelentes vozes, ao Pároco da freguesia, ao Grupo de Jovens e a todos que não recearam o mau tempo atmosférico que, com a sua presença, partilharam esta experiência.
Estamos certos que, juntos, continuaremos a desvendar o importante património imaterial do nosso povo e contribuiremos certamente para a preservação da sua memória.
Valeu a pena o esforço desenvolvido no levantamento de testemunhos que de uma forma voluntária ou solicitada foram aparecendo.

A Direção do GAMT


Contextualização histórica





O Botar das Almas no Mosteiro de Tibães


Notícia no Jornal 8-Nov.

Notícia no Jornal 9-Nov.

Projeto de Memória da Freguesia de Mire de Tibães - "Encomendação, Botar ou Lançar as Almas"


No ido dia 2 de setembro do ano em curso, no Mosteiro de Tibães, foi mais uma vez tempo de lembrar o passado através do projeto “Encomendação, Botar ou Lançar as Almas”.
O GAMT, consciente do importante valor patrimonial das histórias de vida, participou pelo quarto ano consecutivo nas comemorações do Dia da Freguesia, contribuindo assim para a defesa do património cultural imaterial de um povo, à beira do esquecimento, e que a todos compete defender.

Nesse sentido, projetou um trabalho de pesquisa com um pequeno levantamento sobre o ritual cantado nas noites da Quaresma ou do mês dos finados, entrevistando algumas lançadeiras e lançadores do “Botar das Almas” que na sua juventude anunciaram, cantando em alta voz, a necessidade dos pecadores se converterem e de rezarem pelas almas do purgatório. Registou também em vídeo esse costume antigo com a participação de alguns utentes do Centro Social de Mire de Tibães que decidiram partilhar os seus valiosos conhecimentos.
Na tarde de domingo, o “Botar ou Lançar as Almas” foi apresentado a um público atento e participativo, interessado numa discussão sobre este ancestral costume que, até inícios da década de setenta do século passado, fez parte da tradição cultural de Mire de Tibães e povoações circundantes, tendo como exemplo as pertencentes ao antigo Couto de Tibães.
O Culto das Almas
Houve a oportunidade de recordar o tom melancólico dessas vozes algo atemorizadoras, que ecoavam à noite, do cimo das árvores ou de um terraço por cima da cozinha ou barraco, de um muro, uma escada junto a uma meda de palha ou ramada, através das gravações efetuadas e da intervenção de uma participante na tertúlia.
Cumprimos os objetivos traçados ao ouvir, falar, recolher depoimentos, registar e transformar em informação para preservar a memória oral de uma comunidade, fonte de conhecimento, compreensão e união entre as pessoas.
 Agradecemos o apoio da Junta de Freguesia de Mire de Tibães e do Centro Social e Paroquial de Mire de Tibães que cooperaram na concretização deste trabalho.
Reconhecemos também a ajuda dos nossos oradores convidados Albertino Gonçalves, Professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho e José Pinto, Presidente da Rusga de S. Vicente, que aceitaram falar das suas experiências de pesquisa da Memória popular.

Conselho Diretor do GAMT

Orador José Pinto
Oradores Albertino Gonçalves e Aida Mata
Recolha Testemunhos


Público Participativo

1º Encontro de Amigos de Mosteiros Beneditinos

No desenvolvimento do seu programa de ação, no dia 5 de Maio, promoveu o GAMT um encontro com alguns grupos de amigos de mosteiros beneditinos.   
Estiveram presentes amigos do Mosteiro de S. Miguel de Bustelo; do Mosteiro de São Martinho de Cucujães; do Mosteiro de Santo André de Rendufe e do Mosteiro de São Martinho de Tibães.
A reunião decorreu nas antigas Cavalariças da Abadia de Tibães, abordando os seguintes aspetos:
– Apresentação e objetivos dos Grupos de Amigos
– Atividades desenvolvidas
Mosteiro de Tibães
– Propostas de trabalho em rede
Antecedida a reunião com uma pausa para café na Hospedaria do Mosteiro, a Presidente do GAMT expôs a justificação das ausências de alguns dos mosteiros convidados (S. Miguel de Refojos, Santa Maria de Pombeiro e Santa Maria do Carvoeiro).
Enquanto decorria um pequeno PowerPoint com a cartografia dos mosteiros beneditinos e algumas imagens de apresentação, cedidas pelos grupos de amigos, foi dada a palavra aos representantes dos diferentes grupos.
Pelo Mosteiro de S. Miguel de Bustelo, Miguel Santos expôs o que a seguir se transcreve:

APRESENTAÇÃO:
O grupo de voluntários do museu do mosteiro de S. Miguel de Bustelo nasceu no seio da comunidade paroquial de Bustelo, reunindo um conjunto de pessoas interessadas em salvaguardar o património que constitui aquele mosteiro. Foi seu objetivo a criação de um espaço museológico dentro do antigo edifício conventual e a abertura permanente ao público. Assim, em abril de 2012 nascia o museu do mosteiro de Bustelo, estrutura completamente amadora, mas que possibilita desde então e de forma ininterrupta a abertura da igreja e do mosteiro ao público todos os domingos entre as 15h e as 18h, totalizando já mais de duas mil visitas ao espaço museológico, sem contar com as inúmeras visitas à igreja e piso inferior do claustro. Desta forma, todos os domingos, de configuração completamente amadora, há três voluntários em Bustelo que abrem a porta e guiam o visitante. Para isso é fundamental o apoio da paróquia, detentora de todo o complexo monástico, que desde o primeiro momento aplaude e cria condições para que tal aconteça. É sempre em perfeita sintonia com ela que o grupo se movimenta e lança atividades.
O objetivo maior por detrás do projeto é o de alertar consciências para o estado em que se encontra grande parte do mosteiro. Praticamente esquecido pelo poder político, inserido numa freguesia de dimensão populacional modesta e propriedade da Igreja – que não lhe consegue atribuir uma finalidade autossustentada, o mosteiro vê a ruína adensar em cada dia que passa.

ATIVIDADES:
Nas aberturas semanais há sempre a possibilidade de uma breve visita guiada, mas têm também acontecido várias visitas programadas oriundas de vários pontos do país (Lisboa, Viseu, Braga, Porto, Penafiel, etc.).
De forma a cultivar e aprofundar o conhecimento do mundo beneditino, este grupo de voluntários organiza no último sábado de maio, e sempre com o apoio da junta de freguesia local, uma visita a um ou a dois mosteiros da antiga congregação, naquele que é apelidado pelos voluntários de “passeio do museu”. O mais recente, em 2018, foi ao mosteiro de São Martinho do Couto de Cucujães, sendo já o quinto realizado.
Embora um pouco fora do âmbito do legado beneditino, o grupo de voluntários do museu foi desafiado, em 2015, a organizar um conjunto de atividades comemorativas do centenário da tomada de posse como bispo de Coimbra de D. Manuel Luís Coelho da Silva (1859-1936), natural de Bustelo. O grupo empenhou-se neste projeto, tendo apresentado à comunidade uma exposição temporária, que funcionou no piso superior do claustro, planificando várias conferências e organizando uma visita a Coimbra aos locais mais importantes do legado deste prelado que, entre outras distinções, foi quem acolheu e ordenou o Padre Américo, para além de ter ordenado bispo o futuro Cardeal Cerejeira.
Para 2018 o grupo tem planeado o desenvolvimento de uma semana aberta, em julho, na qual pretende enaltecer a História do monumento, dando-a a conhecer aos próprios conterrâneos e demais interessados.

DESAFIO:
O mosteiro de Bustelo situa-se a menos de 3km do centro da cidade de Penafiel, a segunda mais antiga do distrito do Porto e uma das mais antigas de Portugal. Insere-se numa confluência de vários concelhos: além da proximidade da sua sede de concelho a Sul, Penafiel, tem Lousada a Norte, Marco de Canavezes a Nascente e Paredes a Poente, tudo num raio de 15km. Além disso, a própria freguesia é servida pela Linha Férrea do Douro, com apeadeiro em Bustelo, e pela Autoestrada n.º 4, com entrada a 2 minutos, e que possibilita um rápido acesso ao Porto. Com toda esta facilidade de acesso, detido em tamanha encruzilhada, quase que nos atrevemos a perguntar: como não visitar o mosteiro de Bustelo!?
Miguel Santos

De seguida, interveio o Mosteiro de São Martinho de Cucujães, representado por Eva Dias, formada em História de Arte, e que relatou a seguinte apresentação:

Mosteiro de São Martinho de Cucujães: nota histórica
Fundado no século XII, o mosteiro de São Martinho de Cucujães foi sede de couto por mercê de D. Afonso Henriques, através de carta outorgada em 7 de Julho de 1139. Integrado na Congregação de São Bento de Portugal em 1588, apenas uma década mais tarde recebeu o primeiro abade e monges reformados. Procederam à renovação arquitetónica do edifício ao longo do século XVII, operando-se a renovação das artes de interior na segunda metade do século XVIII, onde trabalharam artistas de renome como Manuel da Costa Andrade, José Teixeira Guimarães e Frei José de Santo António Vilaça.
Extinto em 1834, a igreja monástica passou para a tutela da paróquia enquanto o edifício monástico foi adquirido por particulares. Do antigo mosteiro partiu o movimento de restauração da ordem beneditina portuguesa, através de Frei João de Santa Gertrudes Amorim, que adquiriu o edifício em 1875 e o devolveu à sua primordial função, formando os monges que viriam fundar o mosteiro de São Bento de Singeverga, em 1892, atual casa-mãe da Ordem de São Bento em Portugal.
Com a instauração da República (1910) o mosteiro de Cucujães conheceu segundo processo de extinção e venda. Foi adquirido em 1923 pelo P. José Tomás do Sacramento, que o doou ao bispo de Meliapor (Índia). Nele fundou o seminário das Missões Católicas Ultramarinas, atual seminário da Sociedade Missionária da Boa Nova (SMBN), uma estrutura anexa ao antigo mosteiro beneditino, cuja construção terminou em 1929. Formalmente instituída em 1930, a SMBN assinala este ano 85 anos de vida e de missão.

Visões e perspetivas
A gestão do antigo mosteiro de São Martinho de Cucujães pela SMBN tem permitido salvaguardar o património, outrora pertencente aos beneditinos, do abandono e ruína a que outras casas monásticas foram votadas desde a extinção das ordens religiosas. A excelente situação do edificado deve-se ao desvelo de superiores gerais da SMBN e reitores do seminário que, ao longo de décadas, têm investido na conservação e manutenção do vetusto mosteiro. Esta louvável ação levou a que o edifício monástico fosse entendido pela memória coletiva unicamente como resultante da presença da SMBN e seus membros.
As evocações comemorativas da igreja paroquial de São Martinho de Cucujães, em 2015, foram preenchidas por um programa de eventos que permitiram aproximar à história e memória do antigo mosteiro beneditino os cucujanenses (e não só), que participaram nas atividades movidos pela relação afetiva com o seminário da SMBN ou por simples interesse e curiosidade pelo tema. Esta aproximação foi particularmente sentida no lançamento da monografia "Memórias do antigo mosteiro do Couto de Cucujães na Época Moderna. Artistas e Obras (século XVII a XIX)", da nossa autoria, e das visitas guiadas promovidas. A memória coletiva, fortemente ligada ao seminário da SMBN, enriqueceu-se nesta reaproximação à presença beneditina em Cucujães, perpetuada na Arte e Arquitetura legados. O resultado francamente positivo das evocações comemorativas abriu caminho à realização de outras iniciativas, como o assinalar do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios e das Jornadas Europeias do Património, marcadas sobretudo pelas visitas guiadas. 
No entanto, surgiu a necessidade de aprofundamento desta relação com o legado beneditino, através do seu estudo, divulgação e salvaguarda. Para concretização desses objetivos, é necessário estreitar a ligação entre a equipa que tem vindo a desenvolver as iniciativas – pároco e dois técnicos superiores de História da Arte e Conservação e Restauro –, a Comissão da Fábrica da Igreja da Paróquia de São Martinho de Cucujães e a SMBN. O congregar de esforços investirá a equipa de trabalho de maior solidez e eficácia na ação, abrindo caminho ao aumento do número de efetivos, através da criação de um Grupo de Amigos do Mosteiro de São Martinho de Cucujães, à semelhança do modelo criado para outras unidades monásticas beneditinas (Tibães, Rendufe, Bustelo). 
O avanço com o processo de classificação do antigo mosteiro é outro objetivo essencial permitindo, por um lado, a criação do enquadramento legal necessário para proteger, a longo prazo, o legado artístico e arquitetónico beneditino em Cucujães; por outro, fazer incidir a atenção do poder central – delegado na respetiva tutela – para esse mesmo legado, abrindo caminho à projeção do mosteiro de Cucujães para lá das fronteiras dos concelhos vizinhos.
Outro objetivo fundamental é tornar efetiva a presença do mosteiro de São Martinho de Cucujães no mundo digital, quer através de site próprio, quer nas redes sociais, por forma a permitir um contacto mais rápido e mais próximo a partir de qualquer parte do mundo. Este ponto encontra-se em fase de discussão e está prevista a sua aplicação até meados de Outubro do ano corrente.
Em termos de objetivos futuros (a longo prazo), estão em fase de reflexão a criação de um núcleo museológico nos espaços do antigo mosteiro de Cucujães, contemplando exposição permanente e temporária, e a realização de visitas guiadas de forma regular.
Para concluir, a equipa de trabalho do mosteiro de São Martinho de Cucujães ficou muito grata e honrada com o convite para participar na reunião ocorrida no dia 5 de Maio no mosteiro de São Martinho de Tibães, onde teve oportunidade de escutar e aprender exemplos maduros no estudo, salvaguarda e divulgação do património beneditino. Que desta partilha de conhecimento e experiências se reforcem os laços outrora existentes no seio da Congregação de São Bento de Portugal e que esta rede de apoio seja um estímulo ao cumprimento dos objetivos traçados por todos e cada um em particular.
Eva Trindade Dias

Terminou informando que, no dia 26 de maio, será realizada uma visita guiada ao Mosteiro de Cucujães.

A Associação dos Amigos do Mosteiro de Santo André de Rendufe esteve representada por três elementos, sendo dada voz ao seu Presidente, José Antunes. Começou por mencionar que a Associação foi criada em dois mil e catorze na Conservatória de Braga, com um regulamento interno, tendo sessenta e dois associados que pagam quotas no valor de doze euros/ano, estando a inscrição sujeita a uma joia de cinco euros. São apoiados pela Junta de Freguesia e Câmara Municipal de Amares. A criação do grupo de amigos trouxe vantagens pois permite serem interlocutores diante os órgãos do poder: DRCN, Câmara Municipal, Comissão da Cultura da Assembleia da República e Ministro da Cultura. Considerado Monumento Nacional desde 1943, o estado adquiriu as restantes alas do mosteiro que estavam na posse de um particular em 2012. Foi referida a derrocada em 1960 da abóbada e telhado da igreja, provocando grandes danos na decoração interior. A cerca continua na posse de privados. A Igreja, sendo propriedade do estado, está cedida ao uso paroquial. Sobre o mosteiro, foi editado o livro O processo de extinção e a venda do Mosteiro de Santo André de Rendufe, da autoria de Paulo Oliveira, em 2015. A associação tem como grande objetivo a recuperação do mosteiro. Aproveitou para divulgar a caminhada cultural entre mosteiros: Rendufe, Tibães e Vilar de Frades, numa distância de 30 km. Foi mencionado que as visitas ao Mosteiro de Rendufe foram reduzidas em 2017 porque a Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN) retirou um dos funcionários que acompanhavam os visitantes. Decorriam aos sábados e domingos, durante todo o dia, de junho a setembro, mas agora só se fazem visitas nos fins-de-semana de julho e agosto. O Grupo de Amigos de Rendufe gostaria de colaborar na gestão das visitas, porém precisa de autorização da DRCN.
Mencionou-se que para situações destas se pode seguir o exemplo do município dos Arcos de Valdevez. Este estabeleceu um protocolo com a arquidiocese, decidindo disponibilizar funcionários da Câmara para manter as igrejas abertas.

Por sua vez, o GAMT, representado por nove associados, fez a sua apresentação pela voz da Presidente, Aida Mata, falando da data da sua fundação, em dezembro de 2011. Acrescentou que o Grupo de Amigos do Mosteiro de Tibães nasceu com o espírito de contribuir para a defesa, valorização, dinamização e divulgação do Mosteiro de Tibães e património beneditino em geral. Pensa que é necessário promover uma estreita relação com a território onde está inserido e envolver a comunidade no apoio ao mosteiro, ajudando a resolver os problemas com que se debate para o prosseguimento da sua missão. Neste sentido, ao longo destes seis anos, desenvolveu projetos que enumerou: realização de percursos beneditinos; colaboração na edição de publicações relacionadas com o Mosteiro de Tibães; edição de uma publicação contendo o curso já realizado Conhecer o Mosteiro de Tibães; cooperação com o Mosteiro de Tibães em ações que se ajustaram aos fins do GAMT, podendo citar-se algumas visitas guiadas e conferências; desenvolvimento de tertúlias temáticas para ouvir os habitantes da freguesia com vista à salvaguarda de uma memória coletiva, citando como exemplo a palestra sobre o órgão de tubos do Mosteiro de Tibães; ajuda na localização, inventariação e recuperação de algum espólio do Mosteiro de Tibães disperso pelos mais variados locais e entidades, tendo adquirido recentemente um quadro da galeria dos abades; participação, com atividade própria, no Dia da Freguesia, referindo-se a tertúlias e caminhadas.
A concluir, acrescentou que está já nos horizontes a edição do 1º volume dos Cadernos de Tibães, sobre o Mosteiro de Tibães na Imprensa; o lançamento de programas de voluntariado em áreas definidas pela coordenação do mosteiro; o prosseguimento do estabelecimento de intercâmbios/contactos com outras associações nacionais ou estrangeiras e a continuação de cursos sobre Tibães. Referiu que, como associação que somos, estamos abertos à adesão de todos quantos estejam empenhados em preservar ativa e afetivamente a memória, a presença e o sortilégio do Mosteiro de Tibães.
Falou-se também da problemática da (in)existência de espaços próprios para as associações que sirvam de sede e local de organização de arquivos.
Antes de terminar o encontro, colocou-se a questão: Como trabalhar em conjunto? Que projetos para o futuro, em grupo?
O representante do Mosteiro de Bustelo, Miguel Santos, sugeriu a realização de Viagens com Alma, criando-se para o efeito um passaporte para a rota dos vinte e três mosteiros beneditinos;
Pelo Mosteiro de Cucujães, Eva Dias, propôs visitas guiadas a Cucujães;
O Grupo de Amigos do Mosteiro de Tibães aventou a realização do curso Artes e Ofícios nos Mosteiros Beneditinos. O estudo com três módulos seria repartido pelos três mosteiros, durante 2019/2020 e terminaria com uma publicação.
A próxima reunião dos grupos de amigos dos mosteiros beneditinos ficou agendada para 13 de outubro, pelas 10 horas, em Bustelo.
No final da reunião, cada grupo convidado foi presenteado com um exemplar Conhecer o Mosteiro de Tibães, livro editado pelo GAMT em dezembro de 2017.

Os representantes dos Grupos de Amigos:
Mosteiro de Cucujães / Mosteiro de Bustelo / Mosteiro de Rendufe /Mosteiro de Tibães

Mosteiro de Santo André de Rendufe

Mosteiro de S. Martinho de Cucujães
Mosteiro de S. Miguel de Bustelo
Mosteiro de S. Martinho de Tibães

Lembrando Percursos Beneditinos GAMT - Felgueiras

Terminada uma série de três percursos beneditinos denominados São Bento em Braga, concretizámos, no dia 3 de Junho de 2017, o nosso 16ª Percurso, desta vez a terras do Vale do Sousa.
Mosteiro de Sta Maria de Pombeiro
Continuando na vereda da reminiscência beneditina, fomos ao Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, um dos mosteiros da congregação beneditina portuguesa, fundado ou refundado em finais do século XI, que em 1112 recebeu Carta de Couto de D. Teresa.
Acercados do cenóbio, e num primeiro olhar, ficou-se logo com a sensação de que terá sido um dos maiores e imponentes mosteiros beneditinos do Entre-Douro-e-Minho.
Reunido o grupo de jornada no átrio da abadia, uma trintena de participantes, número conveniente para visitas orientadas, dirigimos o olhar para a igreja românica que foi sendo alterada ao longo dos tempos e onde na fachada se construíram duas torres maneiristas em meados do séc. XVI.
Entrados no templo, admirámos o seu interior bem iluminado (altares com os seus retábulos, púlpitos, varandins, coro-alto, sacrários, sanefas, molduras) que, na segunda metade do séc. XVIII, recebeu excelente talha rococó altamente desenhada por Fr. José de S.º António Vilaça, que aí viveu largos anos e cujo retábulo-mor ele próprio considerava “a sua melhor obra”.
Retábulo-mor da Igreja
Para além das pinturas marmoreadas, foi também interessante poder apreciar, pelo avesso, o processo criativo do retábulo do altar-mor, como a qualidade da madeira utilizada, o tamanho das peças, a forma como se encaixam, tratando-se de um verdadeiro puzzle construtivo.
Passámos pela resplandecente e bem preservada sacristia com os seus arcazes e paredes harmoniosamente decoradas com quadros representando cenas bíblicas.
 Subindo umas escadas graníticas, ascendemos ao piso superior e entrámos no espaço da livraria onde pudemos admirar um teto cuidadosamente decorado e as ainda bem conservadas estantes, em cujos espaços, alfabeticamente ordenados, os monges arrumavam os seus apreciados livros, reveladores do seu extraordinário poder cultural.
Cortámos pela ala conventual que dá acesso ao surpreendente coro alto, onde nos esperava um pequeno momento musical de manutenção do formoso órgão de tubos recentemente restaurado. Foi mais um toque peculiar nesta visita guiada.
Coro alto e Órgão de tubos
Incendiado pelas tropas francesas, o mosteiro foi reconstruído, destacando-se a surpreendente obra neoclássica do claustro (de que nos resta apenas a ala norte), modelo sem paralelo nos espaços monásticos do norte do país. Extinto em 1834, passou por trágicos momentos em uso privado, assinalando-se no entanto, os esforços de recuperação do Monumento, em que sobressai, sem dúvida, o excelente trabalho de recuperação da igreja e ala norte do Mosteiro, hoje sob tutela da DRCN.
De saída, passamos então pelo inesperado claustro neoclássico, já com a reprodução do enorme chafariz existente em tempos no local, e visitámos a bem conservada sala do recibo.
O tempo corria velozmente, já pouco faltava para o meio-dia, encaminhámo-nos para a Capela de Santa Quitéria, construída na primeira metade do século XVIII, no cimo do antigo monte Colombino, pelos cenobitas beneditinos de Pombeiro, onde fomos recebidos pela Confraria do Imaculado Coração de Maria e Santa Quitéria.
Enquadrada num santuário bem cuidado, a pequena igreja de formato oitavado contém na frontaria a torre central, de três andares. No interior, destacam-se os retábulos de estilo nacional com destaque da estátua jazente e altar com a mártir Santa Quitéria e as suas oito irmãs.
Continuando a nossa ronda, orientada por um jovem guia afável e extremamente competente, visitámos ainda um pequeno museu situado nas traseiras da capela.
A hora do almoço já tardava e no espaço da esplanada de um bar nas imediações do recinto ajardinado da capela, partilhámos um saboroso e suculento farnel com iguarias preparadas por cada um dos participantes.
De corpo ressarcido das suas energias e cumprindo a dimensão multidisciplinar dos percursos, partimos para a última etapa do programa com a visita à Fábrica de Pão-de-ló de Margaride, uma das joias da nossa doçaria, fundada em 1730 e fornecedora, desde 1888, da "Real e Ducal Casa de Bragança".
Depois de uma cuidada orientação por parte de um guia empenhado e interativo, com uma detalhada explanação do método e segredos de fabrico do célebre pão-de-ló, terminámos a visita com uma deliciosa prova de doces.

Sócio do GAMT nº 2


Claustro neoclássico
Sacristia
Sala do recibo
Tecto da Livraria
Farnel

Lembrando Percursos Beneditinos GAMT - Alto Minho

No dia 26 de Julho de 2014, ocorreu o quarto percurso beneditino. Reunimo-nos para visitar os mosteiros de Ganfei e de Sanfins de Friestas no concelho de Valença, espaços edificados por monges beneditinos no século XI, e conhecer o culto popular de São Bento de Passos na freguesia de Cerdal, em Valença, cuja festa se realiza no terceiro domingo de Julho.
Eram nove horas da manhã de um lindo dia de verão, quando abalámos do Mosteiro de Tibães em direção ao Alto Minho.
Começámos o circuito pela freguesia valenciana de Cerdal, capela de São Bento de Passos e terreiro de São Bento da Lagoa. Ali, ouvimos falar da tradicional e secular Feira dos Santos, um dos seus
Capela de São Bento de Passos
maiores momentos de interesse, documentada já nas Memórias Paroquiais de 1758, que todos os anos tem lugar entre 1 e 2 de Novembro e que atrai milhares de visitantes portugueses e galegos. Estacionados no largo da feira, encaminhamo-nos para a capela onde nos esperava o pároco, anfitrião comunicativo e bem informado, para nos falar da devoção a S. Bento e das vivências em seu redor.
Antes de abandonar o local e a conselho do pároco, decidiu-se arranjar um tempinho extra para visitarmos a linda igreja matriz de Cerdal onde pudemos apreciar uma invulgar imagem de roca de S. Bento que é vestida com trajes de tecido.
Pelo meio-dia, seguindo a rota beneditina, dirigimo-nos para o Mosteiro de Ganfei, cujo nome deriva do patrocinador da sua reconstrução no
Mosteiro de Ganfei
século XI, um cavaleiro francês que se tornou santo. Situado no termo da cidade de Valença, na margem esquerda do rio Minho, dista do centro cerca de 5 Km. Começámos por avistar a cerca, com horta e pomar, com a proeminência do edifício monástico. Visitámos a igreja, construção constituída por uma igreja românica de três naves, que serve de Matriz à freguesia, e dependências ligadas ao uso paroquial. Este pequeno complexo terá sido intervencionado pelo antigo IGESPAR, mas revelava já problemas de humidade infiltrada. Infelizmente não tivemos acesso aos edifícios monásticos e à cerca por se encontrarem em uso privado e com acesso vedado ao público.

Deram as treze badaladas e encaminhamo-nos para o Monte de Faro para realizarmos a pausa do piquenique no seu bonito e fresco parque de merendas. É um dos miradouros mais privilegiados do Alto Minho com uma vista que abrange todo o vale do rio Minho, desde Valença a Caminha. O farnel, da responsabilidade de cada participante, proporcionou um saudável e alegre convívio entre todos. Sobrou tempo para tomar um café no restaurante da estalagem existente no local e fazermos uma vista à capela barroca de Nossa Senhora de Faro.
Tínhamos ainda a visitar o Mosteiro beneditino de Sanfins de Friestas, um dos monumentos mais importantes de Valença. Lá prosseguimos pelo vale do Minho e chegámos ao lugar de Friestas.
Igreja do Mosteiro de Sanfins de Friestas

Subindo um pouco, encontrámos as ruínas do cenóbio envolvido por uma mata de carvalhos, a cerca de 200 metros de altitude, de onde se pode desfrutar de vistas sobre o vale do rio Minho. 
No meio da vegetação espontânea e ruínas conventuais algo confrangedoras, ressalta a igreja românica relativamente bem conservada, sobre plataforma acedida por escadaria.
O templo tem planta disposta longitudinalmente, com nave única e cabeceira em dois tramos, sendo um retangular e o outro em semicírculo. A cobertura é feita por telhados diferenciados de uma e duas águas. Coroando as fachadas laterais e as do tramo retangular da cabeceira corre uma cornija sobre cachorrada onde predominam cabeças humanas e de animais.
Na abside em semicírculo, que constitui o outro tramo da cabeceira, a cornija é sustentada por cachorrada do mesmo tipo da anterior e por quatro colunas adossadas cujos capitéis apresentam uma decoração muito densa em folhagens e corpos humanos. Três frestas inseridas por arcos de volta inteira assentes em colunelos com capitéis decorados permitem a iluminação do interior da cabeceira.
Depois de voltearmos pelas ruínas, imaginando a vida monacal no espaço visitado, começámos a reunir, pois já se aproximava a hora de regresso.
Tornámos ao ponto de partida, satisfeitos por mais estas excecionais descobertas, agradecendo a disponibilidade e a oportunidade proporcionada pelos nossos guias que, de forma voluntária e gratuita, nos têm proporcionado estes grandes momentos.

Sócio do GAMT nº 2


Interior da capela de São Bento de Passos

Igreja românica de Ganfei

Interior da Igreja do Mosteiro de Sanfins de Friestas


Ruínas conventuais de Sanfins de Friestas


Piquenique no Monte de Faro


Vista do Monte de Faro