As antevisões meteorológicas prometiam
uma intempérie com chuva intensa e muito vento, assim aconteceu na passada
sexta-feira, 9-Nov. Mas tal não foi obstáculo para a recriação do ritual do
“Botar das Almas” a que o Grupo de Amigos do Mosteiro de Tibães se propôs
realizar. Poderemos mesmo dizer que as condições climatéricas contribuíram para
transformar a noite de sexta num momento particularmente relevante.
Deste modo, perante a adversidade
climática, recorreu-se a um local abrigado, com história e tradição no ato de
rezar pelas almas, carecidas de afeto, na perspetiva dos hábitos do
cristianismo. Podemos mesmo afirmar que o Claustro do Cemitério do Mosteiro de
Tibães reviveu instantes de súplica que se tornaram únicos.
Houve então necessidade de adaptar
a dinâmica prevista para atividade na deslocação pelos diferentes lugares da
freguesia, realizando-a de forma simbólica, porém com todo o significado.
Antecedendo o cerimonial,
procedeu-se a uma brevíssima contextualização histórica, lembrando alguns dos
últimos “botadores”: Mª da Conceição Ribeiro da Silva, Ana Gomes, Esperança
Lopes, Teresa de Jesus Gomes Alves, Jerónimo Gomes de Sousa, Margarida Beato, Mª
Pinto Coelho, Mª Rodrigues Capa Mendes, Mª da Conceição Gomes, Francisco
Fernandes Gonçalves.
De seguida, na escuridade da
noite e após o toque das trindades dados pelo sineiro da freguesia, os quatro “lançadores
das almas”, iluminados por uma lanterna, cada qual no seu canto do piso
superior do claustro, assomaram à janela do respetivo varandim entoando o Alerta, Alerta! e apelando à reza do
Pai-nosso e Ave-maria pelas benditas almas do purgatório. As suas vozes, determinadas
e bem organizadas, ecoaram fortes, enchendo o espaço e atemorizando o numeroso
público aderente que se deslocava rezando no piso inferior, outrora cemitério monástico
e da freguesia de Mire de Tibães até ao primeiro quartel do século passado.
Intervenção do Coro Paroquial Litúrgico |
A recriação pedia um momento que
enriquecesse este ato e isso aconteceu com a intervenção do Coro Paroquial
Litúrgico de Mire de Tibães que fez o encerramento do Cerimonial na escadaria
de aceso ao salão da ouvidoria do Mosteiro com os cânticos
"Desperta", de Hélder Dias e “Felizes os mortos", de compositor
anónimo, interpretados de forma irrepreensível.
Viveu-se um momento inesquecível.
Foi evidente a satisfação dos participantes que pareciam ter vontade de
continuar este ato de oração que se perdeu num tempo ainda não muito distante.
O GAMT, reconhecido, agradece a
colaboração na recriação do Ritual "Botar das Almas", à Rusga de São
Vicente de Braga, ao Grupo Folclórico de S. Martinho de Tibães, a Deolinda
Fernandes da Silva, a Maria da Conceição Sousa Gomes, ao Coro Paroquial
Litúrgico de Mire de Tibães, pelas suas excelentes vozes, ao Pároco da
freguesia, ao Grupo de Jovens e a todos que não recearam o mau tempo
atmosférico que, com a sua presença, partilharam esta experiência.
Estamos certos que, juntos, continuaremos
a desvendar o importante património imaterial do nosso povo e contribuiremos certamente
para a preservação da sua memória.
Valeu a pena o esforço
desenvolvido no levantamento de testemunhos que de uma forma voluntária ou
solicitada foram aparecendo.
Contextualização histórica |
O Botar das Almas no Mosteiro de Tibães |
Notícia no Jornal 8-Nov. |
Notícia no Jornal 9-Nov. |
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