Uma manhã a (Re)descobrir o Mosteiro de Tibães

Duas dezenas de pessoas puseram no passado dia 21 de Julho mãos à obra para ‘desenterrar’ mais um pouco da história do Mosteiro de S. Martinho de Tibães, em Braga, desta vez, sobre o antigo lagar de azeite.

A iniciativa, promovida pelo Grupo de Amigos do Mosteiro de S. Martinho de Tibães (GAMT), integrou-se na comemoração dos 25 anos da antiga casa-mãe dos beneditinos, contribuindo para (re)descobrir memórias.

O desafio lançado aos participantes – incluindo algumas famílias – era limpar a área onde em tempos funcionou o lagar de azeite e o trabalho árduo deu frutos, pondo a descoberto parte da estrutura do lagar e do sistema que abastecia de água o local.

Antes, os participantes tiveram oportunidade de percorrer parte do circuito de água que abastece o Mosteiro de Tibães nas suas várias vertentes guiados pela arquitecta paisagista e técnica superior do Mosteiro, Maria João Dias Costa.

A primeira paragem foi na mina de S. Bento de onde seguiram para o aqueduto da Cabrita e da Preguiça, etapas que revelam o esforço dos monges beneditinos para trazer toda a água possível para o Mosteiro.

Chegados ao antigo lagar de azeite, Maria João Dias Costa deu uma explicação sobre como funcionava aquela estrutura agora votada ao abandono.

Depois lá chegou a hora de meter mãos à obra e os ‘amigos’ do Mosteiro não regatearam esforços. Uns de enxada, outros de engaço, tesoura e foicinha lá conseguiram desbravar a zona envolvente, abrindo caminho a um melhor conhecimento do antigo lagar de azeite do Mosteiro.

A jornada de trabalho culminou com um almoço partilhado, em jeito de piquenique, junto à casa do volfrâmio.

Para os mais resistentes seguiu-se uma visita à exposição fotográfica patente em vários espaços do Mosteiro e que se integra também nos 25 anos da memória deste espaço.

Vamos Conhecer a Ruína dos Antigos Engenhos da CERCA


Em 1987, dando satisfação ao que consagram as Cartas e Convenções internacionais respeitantes à conservação e restauro de monumentos e sítios, a pequena equipa que trabalhava, então, no mosteiro de Tibães, definiu uma estratégia de intervenção que passou pelas ações de salvaguarda (limpar, vigiar, proteger, controlar a degradação); pela investigação e estudo da ordem beneditina, do Mosteiro de Tibães e do seu Couto; por um projeto de estudo arqueológico e pela dinamização e abertura ao público dum espaço que, embora em ruína, era um monumento merecedor de ser visto, entendido e respeitado. 

No dia 21, um pouco à imagem do que fizemos há 25 anos, vamos trabalhar na ruína de antigos engenhos da cerca do mosteiro, para os dar a conhecer e dinamizar. Hoje, fruto do projeto de investigação e estudo que encetámos, podemos acrescentar o conhecimento público sobre aquele espaço. 

Sabemos que foram construídos em finais do século XVIII, entre 1796 e 1798, incluídos no grande projeto hidráulico que passou para além da edificação do lago e da abertura de várias minas para o alimentarem, pela construção de uma eficaz rede de retenção e distribuição de água, que recorrendo a poças, prezas, aquedutos de pedra, caleiras, galgueiras e canos regava os campos e fazia mover os diversos engenhos da cerca do mosteiro. Entre eles encontravam-se os da ruína onde agora vamos trabalhar e que o livro do Estado de 1798 descreve deste modo:


Nesta extensão de rota apareceram algumas águas que juntas com as vertentes do Mosteiro fazem uma quantidade considerável, e para se aproveitarem se fez uma grande preza na boca da dita mina, e desta se encaminham as águas por uma caldeira ao engenho de azeite, e Segunda, que de novo se fez ao fundo dos pomares deste Mosteiro. Para este novo engenho se fez uma grande casa, que tem suas paredes rebocadas, janelas, e porta de cantaria, e o emadeiramento com toda a segurança, e se abriram algumas trapeiras pra extração do fumo. Dentro desta casa se armou o engenho de azeite conforme o método de Dollabela[1] com uma grande tulha feita por um lado de perpianho toda lajeada de cantaria; e as paredes forradas de madeira para evitar a corrupção da azeitona; por baixo desta se fez um aqueduto para extração da água ruça tanto da tulha como do engenho: ao outro lado se fez um quarto de madeira para uma azenha de Segunda; que de novo se fez com tal arte, que havendo águas bastantes uma só roda faz trabalhar as pedras de ambos os engenhos; nos quais se puseram de novo todos os trastes necessários.


Também pelo Estado de 1801 sabemos que este engenho de azeite, que era de imprensa, passou a ser de varas, o que obrigou as paredes a serem engrossadas. Na mesma data, a mina que o alimentava foi emparedada. Destas construções e do seu modo de funcionamento, continuaremos a falar no próximo sábado. 

Apareçam !!!


[1] Giovanni Antonio Dalla Bella, nasceu em Pádua, Itália. Era professor de Física Experimental na Universidade de Pádua quando foi convidado pelo Marquês de Pombal (1699-1782) para vir para Portugal, leccionar Física no Colégio Real dos Nobres, que estava então a ser criado em Lisboa. Terminado o ensino científico no Colégio dos Nobres em 1772, foi chamado para a Universidade de Coimbra, quando da reforma dos seus estudos, tendo sido nomeado professor de Física Experimental. Foi-lhe concedido o grau de Doutor em 1773, tendo leccionado na Universidade de Coimbra até à sua jubilação, em 1790. Voltou para Pádua na década de 90, onde veio a falecer por volta de 1823. Apesar da sua área de trabalho ser a Física, desenvolveu diversos estudos sobre a agricultura, tendo estudado a cultura da oliveira e a produção de azeite, em memórias que foram publicadas pela Academia das Ciências de Lisboa.

TIBÃES, 25 ANOS: (RE)DESCOBRIR A MEMÓRIA

Muitos são os anos do Mosteiro de Tibães. O ano de 2012 é apenas mais um. Mas é um que nos desperta a memória, que nos provoca a reflexão, que nos move para a acção. 25 anos é muito tempo. Mas o tempo em património é longo. É preciso tempo para conhecer, tempo para intervir, tempo para divulgar, tempo para animar, tempo para fazer viver. O Mosteiro de Tibães viveu bem os seus últimos 25 anos.
O GAMT não podia deixar passar 2012, sem explorar a potencialidade que as efemérides propiciam.
Em Março, numa colaboração profícua com o mosteiro e com alguns dos seus Amigos, trouxemos memórias e saberes, que nos aproximaram dos diversos tempos e usos deste património.
Em Julho, com a Exposição Mosteiro de Tibães: 25 anos após a aquisição pelo estado Português, uma iniciativa do Mosteiro de Tibães e do GAMT e a colaboração do Museu da Imagem, a inaugurar no próximo dia 12 de Julho às 17.00 horas, revisitaremos o passado através de imagens do tempo e veremos o presente através do olhar de fotógrafos contemporâneos.
Ainda em Julho, a 21, vamos trabalhar na ruína dos antigos engenhos da cerca do mosteiro. Com a ajuda de todos os que a nós se juntarem vamos valorizar aquele espaço para o dar conhecer e proporcionar a sua fruição museológica.
Ás 09.30 horas de sábado, 21 de Julho, apareçam com água, vestuário e calçado apropriado e merenda para partilhar no almoço/convívio, que encerrará a manhã de trabalho. À tarde faremos uma visita guiada à exposição e trocaremos memórias dos tempos da ruína.
As inscrições para esta acção deverão ser feitas, até 20 de Julho, para o GAMT, amigosdetibaes@gmail.com, ou para o mosteiro de Tibães, msmtibaes@culturanorte.pt, tel. 253622670, 253623950.

Em Dezembro, voltaremos a (RE)DESCOBRIR A MEMÓRIA