À procura dos serões perdidos d' aldeia

No dia 8 de Setembro do mês passado, no Mosteiro de Tibães, demos início à continuidade do projecto de memória da freguesia de Mire de Tibães. Este ano, o tema escolhido foi Serões da Aldeia com o subtema "Serões em Mire de Tibães nos séculos XIX e XX".
Este projecto, apresentado no formato de tertúlia, contou com a presença do escritor e dramaturgo Fernando Pinheiro. Temos muito gosto em partilhar a sua apresentação publicada na secção Cultura do Diário do Minho, de 9 de Outubro


                 Consultar aqui artigo publicado no DM em 9 de outubro de 2019





Conhecer o Mosteiro de Tibães 1834/1986 - Sinopse de um Curso

O Mosteiro de São Martinho de Tibães tem vindo a oferecer temas de conversa e descobertas que vão aguçando e alimentando a curiosidade de pessoas que de alguma forma se interessam pelo património. Nestas digressões sobre este tesouro do património português, encontramos pessoas implicadas na sua difusão e que, por isso, sentem a necessidade de pôr em comum os seus autênticos e importantes achados.
Vem esta reflexão a propósito do curso desenvolvido no Mosteiro de Tibães, sob iniciativa do GAMT e em colaboração com a DRCN, no presente ano, ao longo dos meses de fevereiro, março, abril e maio.
Seguindo o modelo de conferência em que vários especialistas tiveram a oportunidade de expor os seus conhecimentos decorrentes das suas aturadas investigações, abordaram-se temas modulares relacionados com a desamortização dos bens das ordens religiosas: Primeiros sinais na Congregação Beneditina Portuguesa, proferida por Dr. Paulo Oliveira, Mestre em História Contemporânea, área de Igreja e Sociedade; A extinção do Mosteiro de Tibães, por Dr. Paulo Oliveira; A Desamortização em Portugal, por Aurélio de Oliveira, Professor Catedrático convidado do ISMAI; Prática religiosa e social, por Professor José Carlos Peixoto, Mestre em Educação; Monteiro's, Marques's e companhias, por Aida Mata, investigadora do Mosteiro de Tibães e em história beneditina.
Terminou este curso no formato de mesa redonda, com a presença de alguns intervenientes no processo de aquisição do Mosteiro de Tibães, onde se discutiu O Renascer de um Património. Por entre a cinquentena de participantes, surgiram questões, levantadas por opinados participantes, relacionadas com a recuperação e manutenção do vasto património do mosteiro que inclui a cerca, o edificado e o seu escasso, mas não menos valioso, espólio.
Também em 2014, o GAMT produziu um projeto didático similar, que decorreu durante o ano de 2015, com o curso Conhecer o Mosteiro de Tibães - séculos XVII e XVIII. Naquele conjunto de matérias abordaram-se aspetos artísticos, culturais e vivenciais de um espaço – o Mosteiro, o Couto de Tibães e a comunidade dos beneditinos.
Com o material produzido para esse curso foi editada, em 2017, em parceria com a Câmara Municipal de Braga/Revista Bracara Augusta e o apoio mecenático de empresas e entidades da região, uma monografia. Aproveitamos para lembrar aqui os nossos mecenas, em jeito de renovado agradecimento, pelo empenho demonstrado no apoio à investigação histórica: as empresas Enermeter - Sistemas de Medição Lda., Posterede-Postes Elétricos S.A; Casais - Engenharia e Construção, S.A e as entidades Irmandade de S. Bento da Porta Aberta e Junta de Freguesia de Mire de Tibães.
Ao longo dos sete anos de vida ativa do Grupo de Amigos do Mosteiro de São Martinho de Tibães, uma atividade marcante da associação tem sido os percursos beneditinos, com viagens pela história da Ordem de S. Bento. Houve percursos específicos cuja temática se centrou no pecúlio do Mosteiro de Tibães disperso por diversos espaços, relacionado maioritariamente com a desamortização dos bens religiosos. Estaremos a lembrar-nos de percursos que se denominaram "Tibães em Braga", realizados em fevereiro e maio de 2015.
Visitámos espaços religiosos, culturais e públicos que nos falaram da história de Tibães e da congregação beneditina. Num dos percursos, fomos à Sé de Braga, onde reencontrámos alfaias e paramentaria; estivemos na Biblioteca Pública e no Arquivo Distrital onde se conserva parte da livraria de Tibães, bem como do seu cartório, um quadro com a carta de Couto e os retratos do Conde D. Henrique e da Rainha D. Teresa e terminámos na sala de entrada da Reitoria no Largo do Paço para vermos os dois painéis de azulejos oriundos do claustro do cemitério do Mosteiro.
Noutro itinerário, visitámos o Museu Pio XII, onde nos foi proporcionado um momento para apreciar diversos capitéis coríntios oriundos de Tibães e ainda duas imagens dos vultos de S. Bento e S. Bernardo em madeira dourada e policromada. Continuámos pela igreja do Hospital de São Marcos onde descobrimos, no coro alto, o órgão de tubos que, segundo especialistas, terá vindo do coro baixo da Igreja do Mosteiro de Tibães.
No dia 13 de outubro no ano passado, no 21º percurso, fomos à Biblioteca Pública Municipal do Porto, que recebeu uma parte do espólio da livraria do Mosteiro de Tibães. Foram apreciadas algumas das melhores peças provenientes de Tibães pela mão de Alexandre Herculano.
A enumeração da visita dos espaços atrás referidos representa de alguma forma a lógica, a fundamentação e a premência da realização do curso Conhecer o Mosteiro de Tibães 1834/1986.
No fecho do curso, durante a mesa redonda, ficou evidente e concluiu-se que a recuperação do Mosteiro de Tibães não estará ainda terminada. Vieram a talhe de foice o espaço do cemitério paroquial, a torre sineira e o órgão de tubos do coro alto.
Quanto ao órgão, recorda-se a realização da tertúlia “Memórias da Freguesia de Mire de Tibães à volta do Órgãos de Tubos” no ano de 2015, por sinal muito concorrida, e a tentativa da candidatura ao orçamento participativo da Câmara Municipal de Braga com o objetivo de concretizar o seu restauro. Criou-se uma onda de unidade em torno de um elemento do património musical que foi, na altura, insensivelmente refreada. Não se verificou a necessária anuência da tutela, a DRCN, e o processo não avançou. Já passaram quatro anos e permanece a desaprazível situação de um aparente e doloroso abandono.
Na tertúlia, comentou-se que, apesar das tentativas de envolvimento da população local com o mosteiro, se verifica o seu afastamento e divórcio. Talvez a resposta seja simples: sempre que os tibanenses abraçam uma causa em torno do seu património, estes sentem rejeição das suas ideias sem uma cabal e por vezes prudente justificação. Se pensarmos com algum cuidado, o cemitério, a torre sineira e o órgão são exemplos de elementos essenciais que fazem parte do quotidiano da comunidade e que não deveriam ser menosprezados.
Estes cursos e mesas redondas mostraram-se extremamente úteis por ocasionarem uma benéfica reflexão e confronto de ideias. A última parte do Conhecer o Mosteiro de Tibães foi mais além, possibilitando desfazer alguns mitos e erros sobre a venda pública dos bens do mosteiro. Todos ficamos a ganhar com a sempre desejada clarificação de conhecimentos.

Sócio do GAMT nº 2


Paulo Oliveira - A extinção do Mosteiro de Tibães

Aurélio de Oliveira - A Desamortização em Portugal

José Carlos Peixoto - Prática religiosa e social

Aida Mata - Monteiro's, Marques's e companhias

A mesa redonda

Assembleia atenta

Participação do público








Chafariz no jardim de S. João


O final do curso e a pausa para café

Lembrando Percursos Beneditinos GAMT - Lisboa


Idas as festividades natalícias e de ano novo, estava na altura de o GAMT retomar as suas atividades com novos trajetos beneditinos.
Assim, o primeiro encontro do ano foi no passado dia 26 de Janeiro com o 23º Percurso Beneditino a Lisboa, que incluía visita guiada ao Palácio de São Bento/Assembleia da República e ao Museu e Igreja de S. Roque.
Definido o percurso, era necessário escolher o transporte. Depois de analisadas várias propostas, o GAMT decidiu-se pelo autocarro atendendo à sua versatilidade e conforto. A previsão de partida a uma hora matinal não muito comum (cinco horas da matina!), prognosticava um retraimento na adesão das pessoas para tal aventura… mas desenganem-se, foi uma anuência meteórica! No espaço de três dias tivemos lotação esgotada e com amigos em lista de espera!
Numa pontualidade quase britânica, arrancamos para a capital, uns mais ensonados que outros e alguns bem despertos pela ansiedade característica de novas descobertas.
Fachada da Igreja de S. Roque
Chegados ao largo Trindade Coelho, esperava-nos um guia atencioso para nos encaminhar para a igreja de São Roque, casa mãe da Companhia de Jesus em Portugal e um dos raros edifícios em Lisboa a sobreviver ao Terramoto de 1755 relativamente intacto.
Observando uma fachada simples e austera, entrámos e ficámos deslumbrados com uma igreja-salão, ricamente decorada com talha dourada, pinturas e azulejos, um esplendoroso teto decorado com pequenas cenas bíblicas, ladeada por diversas capelas no estilo barroco, onde se destaca a de São João Baptista, obra-prima da arte italiana do século XVIII, encomendada por D. João V, supondo-se que tenha sido à época a mais cara capela da Europa. Nesta magnífica igreja-salão, o Padre António Vieira terá proferido alguns dos seus extraordinários sermões que no século XVII terão sido verdadeiros acontecimentos sociais.
Na sequência de uma visita atenta e sempre participada, com preciosos e oportunos acrescentos informativos de Anabela Ramos, Paulo Oliveira e Aida Mata, dirigimo-nos para o edifício contíguo, o Museu de São Roque, que está instalado no espaço da antiga Casa Professa da Companhia de Jesus em Lisboa, construída no final do século XVI e decorada com diversas campanhas de trabalhos entre o final do século XVI e o XIX.
Interior da Igreja de S. Roque
Este espaço abriu ao público em 1905, com a designação de Museu do Tesouro da Capela de São João Baptista, em evocação da importante coleção de arte italiana que está na origem da sua criação. Nos anos 60 ganhou um novo sentido ao ser-lhe, explicitamente, associada a Igreja de São Roque, introduzindo-se, deste modo, o conceito de Museu de Monumento. No interior pudemos ver pintura, escultura e arte sacra do século XIV ao XVIII, com referência especial à arte indo-europeia, um dos mais importantes conjuntos de relicários do mundo e uma coleção de ourivesaria e paramentaria barroca considerada pelos especialistas como sendo de qualidade única a nível mundial, a coleção de alfaias da capela de São João Baptista, executada em Roma no século XVIII.
Como habitualmente, o tempo esfumou-se, tornando curta a visita, mesmo aumentando meia hora ao delineado. Correndo contra o relógio, encarreiramo-nos em direção à Cervejaria Trindade, uns metros abaixo do Museu de São Roque, para num almoço comum devorar os petiscos encomendados: bife de novilho à Trindade ou bacalhau conventual.
Foi bom propósito agilizar o pouco tempo de que se dispunha para almoçar num espaço com disponibilidade para receber o grupo, tendo como sinal mais tratar-se da mais antiga cervejaria de Portugal, construída em 1836, nas ruínas do Convento da Santíssima Trindade dos Frades Trinos.
Palácio de S. Bento
Feito este delicioso intervalo, raspa-te que se faz tarde! O autocarro esperava-nos para a segunda parte do programa: o Palácio de S. Bento/Assembleia da República.
Ali chegados, vislumbrámos a majestosa fachada de estilo neoclássico e rapidamente subimos a escadaria. Depois de um rigoroso controlo de entrada, como se de um embarque se tratasse, fomos encaminhados para a sala do antigo refeitório dos monges onde escutámos como prelúdio uma oportuna introdução histórica documentada do que foi o Palácio de S. Bento.

Pela voz da Doutora Teresa Parra da Silva, ouvimos falar dos diversos usos deste monumento nacional, classificado em fevereiro de 2002, desde os tempos em que foi mosteiro beneditino [1615-1834], Mosteiro de S. Bento da Saúde, até aos seus usos como Assembleia das Cortes [1834-1937]; Assembleia Nacional Constituinte [1911-1926]; Assembleia Nacional [1934-1975] e a atual Assembleia da República.
Palestra Refeitório Mosteiro de S. Bento
Apercebemo-nos dos seus diferentes edificados desde o projeto beneditino de Baltazar Alvares e de Frei João Turriano, até à construção de nova ala, [1994-1997] da autoria do arquiteto Fernando Távora, destinada à residência oficial do Presidente da Assembleia da República e a gabinetes para os deputados passando pelas obras de remodelação dos espaços interiores e exteriores, começadas em 1896 com direção do arquiteto Ventura Terra e continuadas ao longo de todo o século XX, rematadas com a monumentalização da zona envolvente e a construção da fachada principal e escadaria exterior.
(Ver vídeo sobre a história do monumento)
De Mosteiro a Parlamento | "Espaços com História"

Entrámos pelo átrio principal do Palácio de São Bento, dos raros espaços originais do antigo Mosteiro​ de São Bento, onde se situava a igreja monástica, da qual se mantém o pavimento original de mármore branco e rosa. Detetámos que no lugar das antigas capelas laterais, agora fechadas, funciona como uma sucessão de nichos, encontrando-se vários bustos de algumas personalidades históricas.
Para além do átrio principal, destacamos a visita do jardim interior, o claustro, a sala de visitas do  
Salão Nobre Palácio S. Bento
Presidente, o Salão Nobre, os Passos Perdidos, a Sala das Sessões, a Biblioteca Passos Manuel, o Arquivo Histórico Parlamentar ou Sala dos Arcos, situada numa das áreas de armazenamento do antigo mosteiro e que é um dos poucos espaços monásticos ainda existentes no Palácio de S. Bento.
Depois da foto de grupo tirada em jeito de despedida na escadaria do Palácio de S. Bento, regressámos saciados culturalmente para Braga.
Contudo, como a hora de chegada previa um jantar tardio, o bom senso determinou que se fizesse uma ligeira pausa no estratégico restaurante O Manjar Do Marquês, em Pombal, que permitisse saborear o delicioso arroz de tomate com panados, pastéis de bacalhau ou outros pitéus.
E durante a viagem as pessoas perguntavam já impacientes: Qual é a próxima atividade do GAMT?
E a resposta foi: Consultem o Facebook do GAMT!
Todos concordamos que o saber não ocupa lugar e faz-nos crescer. Continuemos pois a crescer…

Sócio do GAMT nº 2


Capela S. João Batista Igreja S. Roque

Capela-Mor Igreja S. Roque

Cofre-Relicário S. Francisco Xavier
Cervejaria Trindade 
Mosteiro de S. Bento da Saúde
Átrio Palácio S. Bento
Escadaria Palácio S. Bento 
Assembleia da República


Claustro Palácio S. Bento

Arquivo Palácio S. Bento

Biblioteca Passos Manuel Palácio S. Bento
Grupo na Escadaria Exterior do Palácio S. Bento / Lisboa


De Tibães ao Porto: uma Biblioteca em Diáspora