No 30º Aniversário da criação do Museu do Mosteiro de S. Martinho de Tibães

 A 28 de Setembro de 1990 nasceu, como garante da preservação da Memória-História do Mosteiro de Tibães, o Museu do Mosteiro de São Martinho de Tibães. 

Para além das funções específicas nas áreas da museologia, do estudo e investigação e da dinamização cultural, o Museu foi criado com a atribuição específica de fomentar e ampliar o conhecimento do Mosteiro de Tibães e da Ordem Beneditina e das suas relações históricas, artísticas, sócio-culturais e sócio-económicas com a região em que está inserido.

Esta medida institucional, veio permitir o arranque orgânico do Mosteiro de Tibães que passava a dispor de orçamento próprio, de quadro de pessoal e de maior capacidade para a gestão integrada do monumento, estatuto orgânico que, infelizmente, perdeu numa das últimas reestruturações do Ministério da Cultura, sendo hoje apenas um serviço depauperado, em meios humanos e financeiros, da Direção Regional da Cultura do Norte.

Ao longo destes 30 anos, mercê de uma conseguida intervenção de recuperação, restauro e reabilitação, o Mosteiro de Tibães foi resgatado patrimonialmente, reabilitado como monumento histórico e valorizado culturalmente, tornando-se um veículo para a protecção, salvaguarda, preservação e valorização dos patrimónios materiais e imateriais do mosteiro e do seu território; um instrumento de comunicação e informação; um recurso educativo; um lugar de cultura.

Neste percurso, e no contexto da rede de sinergias em que o Mosteiro de Tibães se move, revelou-se importante a colaboração com o Grupo de Amigos do Mosteiro de Tibães – GAMT. 

Criada em 2011, a Associação, que tem por fim:

  • Ajudar na salvaguarda, valorização, dinamização e divulgação do Mosteiro de São Martinho de Tibães;
  • Promover a ligação e a cooperação entre o Mosteiro e a região envolvente;
  • Chamar a comunidade a apoiar o Mosteiro na resolução das suas dificuldades, nomeadamente através da angariação de fundos e programas de voluntariado;
  • Promover, na medida das suas possibilidades, a localização do espólio perdido do Mosteiro de São Martinho de Tibães;

tem assegurado o cumprimento das suas atribuições e justificado a razão da sua criação.

Projectos como os “Percursos beneditinos”, que já vão na 28ª edição; os 2 Cursos “Conhecer o Mosteiro de Tibães”; “o Projecto Memória da Freguesia de Mire de Tibães” e os “Serões d’Aldeia” com as conferências e tertúlias inerentes; e ainda a edição da publicação “Conhecer o Mosteiro de Tibães” e a aquisição e entrega de 1 quadro da antiga Galeria dos Gerais da Sala do Capítulo, disperso durante o domínio privado do mosteiro, ajudaram a cimentar uma colaboração que se deseja profícua até ao fim dos tempos.

Mas, para além destes projectos e actividades da responsabilidade do GAMT,  acrescenta-se a colaboração direta com a equipa do Mosteiro em algumas das suas iniciativas, citando como exemplo as Caminhadas com História, Curso de Agricultura Biológica Familiar, Jornada sobre Doçaria Conventual, o Yoga no Mosteiro de Tibães, atividade iniciada em 2013.

Referiremos ainda o contrato de consignação de publicações e artigos destinados à comercialização, nas lojas de venda ao público da DRCN, desde 2014. 

Mencionaremos também o protocolo de depósito, no Mosteiro de Tibães, dos livros doados pela família de Ademar Ferreira dos Santos ao GAMT e finalizaremos com as assinaturas, em 2019, do “Protocolo de Cooperação Institucional” e “Protocolo de Depósito de uma Obra de Arte” (retrato de Frei Bento Santo António Vieira da antiga Galeria dos Gerais da Sala do Capítulo do Mosteiro de Tibães, adquirido pelo GAMT.

Para concluir, regista-se o contributo na divulgação do Mosteiro de Tibães, com a promoção do 1º Encontro de Amigos de Mosteiros Beneditinos, em 2018.

Neste espírito colaborativo, esperamos poder prolongar no tempo toda esta dinâmica desenvolvida já nestes longos anos de atividade.



Edição GAMT Conhecer o Mosteiro de Tibães

20.º Percurso Beneditino Arcos de Valdevez e Mosteiro de Ermelo

22.º Percurso Beneditino Casa das Pinturas do Mosteiro de São Martinho de Tibães

Caminhada com História Tibães - Rendufe

Encontro de Amigos de Mosteiros Beneditinos

Memória da Freguesia de Mire de Tibães - O Botar das Almas1

Serão com Camilo Castelo Branco

Serão Minhoto com a Rusga de S. Vicente

Serão Minhoto com o Rancho de S. Martinho de Tibães

Mosteiro de S. Martinho de Tibães

Protocolo de Depósito do retrato de Frei Bento Santo António Vieira




Lembrando Percursos Beneditinos GAMT - Por Terras de Celorico de Basto

Na entusiasta comitiva que nos acompanhou nesta visita a Celorico, houve participantes que exteriorizaram interesse em aceder a uma informação mais detalhada sobre este cenóbio beneditino…
Como o prometido é devido, aqui vai!


Mosteiro de S. João Baptista de Arnoia da Ordem de São Bento

A edificação do Mosteiro de São João de Arnoia, como a de outros mosteiros beneditinos, não é consensual. Para uns autores, teria sido edificado em 995 pelo cavaleiro francês, Arnaldo Baião,
Fachada do Mosteiro de S. João de Arnoia
companheiro de Henrique de Borgonha, o futuro conde D. Henrique; para outros, nomeadamente para o beneditino Frei Leão de S. Tomás, teria sido fundado por Múnio Moniz, alcaide do castelo de Arnoia, um cavaleiro de honrada estirpe e tronco familiar de D. Egas Moniz, cujo túmulo, que se encontra no claustro do mosteiro, tem a seguinte inscrição: V.F.D. Munius Moniz H.I. in S. Assisterio Era 1072 ou seja “D. Múnio Moniz aqui jaz no seu mosteiro…na era de 1072” (ano de Cristo de 1034).
Independentemente da sua fundação ou reedificação, é sabido que nesses tempos primitivos o pequeno cenóbio era já detentor de numerosos bens, quer imóveis emprazados - casais, herdades e quintãs - quer monetários, e que a sua comunidade seguia a
Túmulo de Múnio Moniz no claustro do Mosteiro
observância da Regra de S. Bento com tal desvelo que os seus monges de tão apartados viverem do mundo e tão vizinhos com Deus eram chamados de monges angélicos. 
Com o rolar dos tempos, porém, estes tempos de prosperidade vão acabar. Se no tempo de D. Dinis, em 1320, o mosteiro de Arnoia ainda é taxado em 700.00 libras, no século seguinte a delapidação material do mosteiro acentua-se gravemente, acompanhando a crise demográfica, económica e social que, a partir de meados do século XIV, se instalou em Portugal. Com a decadência material, instala-se a crise espiritual, revelando-se a falta de observância, a indisciplina, a relaxação e o vício. A maior parte das casas religiosas não se podem manter economicamente e, segundo um parecer da época, as oras nom se dizem em ellas nem faciam o oficio de Deus. Em 1375, numa visita pastoral ao mosteiro de Arnoia, o arcebispo de Braga faz vários reparos à vida comunitária que aí era levada, ameaçando de excomunhão o abade e os monges se não fossem cumpridas as recomendações. Os efeitos não se devem ter sido muitos pois, no primeiro quartel do século XV, o mosteiro viveu uma deplorável situação criada pelo desregramento moral e incontrolada ambição do abade D. Luís Martins, que conservava uma concubina na clausura e havia admitido um filho seu para monge. Só em 1441, D. Luís Martins acaba por renunciar às funções de abade, sendo escolhido para lhe suceder Frei Gil, monge de Pombeiro.
Neste quadro de vida demasiado terrena, o Mosteiro de S. João de Arnoia, em 1527, segundo as inquirições de D. João III, tinha 2 cercas muradas, uma com vinha oliveira e horta e a outra, a cerca da Banduja, com pinheiros, castanheiros, carvalhos, urze e matos e uma quinta anexa, a quinta da Gandara, toda murada, onde se produzia vinho, pão, azeite e tinha mato e algumas carvalhas. Havia água da Fonte Rica e tinha 3 engenhos, 1 de azeite e 2 de pão, um alveiro e outro de segunda. 
Um pouco mais tarde, em 1550, João de Barros, na sua GEOGRAHIA D’ ENTRE DOURO E MINHO E TRÁS-OS- MONTES, quando fala do concelho de Celorico de Basto, onde há três mil vezinhos e tem hum castello em hum monte alto que he mui forte e para boa deffenção, diz que o Mosteiro de Arnoia da Ordem de São Bento tem de renda duzentos mil reis e está junto a um vale a que chamão val de Bouro onde há muito pão e vinho maduro, muitas frutas e muito gado, aves e mel e algum azeite.
A partir da segunda metade do século XVI, a vivência do Mosteiro de S. João de Arnoia vai sofrer profundas alterações. A reforma monástica-beneditina portuguesa, começada há já alguns anos, atingira o seu ponto máximo com a criação, em 1569, da Congregação dos Monges Negros de S. Bento dos Reinos de Portugal; a realização do 1º Capítulo Geral da congregação; a nomeação de Frei Pedro de Chaves como Abade Geral e a escolha do Mosteiro de Tibães para Casa-Mãe. O Mosteiro de S. João de Arnoia, apesar de estar agregado à congregação desde 1576, continuou sob administração de abades comendatários até quase ao final do século e à eleição do seu primeiro abade trienal – Fr. Bento da Paz.
Novos tempos começaram, então, para o velho Mosteiro de S. João de Arnoia quer ao nível do espiritual, quer ao nível do temporal. Gradualmente, os foros, quer em géneros, quer em dinheiro, mercê de novos emprazamentos e de uma melhor administração, vão aumentando. A comunidade que, em 1569, era apenas de 3 monges, aumenta, no século XVII, para 6/7 membros.
O dia- a- dia do mosteiro, com as novas exigências orgânicas e funcionais, vai originar o fim da velha edificação medieval.
Claustro quadrado com chafariz
A partir dos anos 30 do século XVII a administração beneditina começa com uma vasta campanha de obras, de renovação e de obra nova, que passou pelas celas dos priores; dormitórios; hospedarias; secretas; claustro de 6 colunas e 3 janelas rasgadas com grades de ferro e balaustres pintados e dourados em cada lanço e com um chafariz no centro; escadas de pedra e lavabos; portarias; despensa; cozinha e forno; recibo, estrebarias e casa da renda. Na igreja e sacristia a intervenção é muito significativa. Começam por fazer o arco do cruzeiro em cantaria; picam as paredes dos frisos antigos e rebocam-na; intervêm no pórtico da igreja que tinha caído e fazem um coro novo todo de cadeiras com seus espaldares; montam um retábulo novo para o altar-mor, uma obra-prima que chegou a 110.000 rs de custo, e mais dois para os altares colaterais do mesmo lote que custaram 52.000 rs.
Altar-mor e Arco do cruzeiro em cantaria
Testemunhos destas intervenções são as duas epígrafes existentes no edifício: uma com a data de 1639, inscrita numa das janelas da igreja e outra de 1688, inscrita no chafariz do claustro e na verga de uma das portas que comunicam com o claustro. Também o terreiro é alvo de modificação profunda, tendo sido fechado com paredes altas.
Nas cercas, reconstroem muros e fazem outros de novo; conduzem águas; edificam moinhos e engenhos; plantam vides; oliveiras, carvalhos, castanheiros e pomares. No rio Tâmega levantam açudes e concertam pesqueiras.
Ao longo de toda a metade do século XVII o mosteiro ficou sempre desempenhado e desobrigado sem dívida alguma.
Com o dealbar do século XVIII a comunidade cresce para um número que oscila entre os oito e os desaseis monges e os foros em dinheiro rondam os 400.000 reis. 
Nas Memórias Ressuscitadas de Entre-Douro-e-Minho, escritas por Francisco Craesbeeck em 1726, refere-se a igreja do mosteiro como sendo uma das mais antigas de região de Basto, ressalvando o facto de ter tido obras recentes, especificando cujas officinas mostrão ser obra moderna com 17 cellas e hum claustro quadrado de 110 palmos de comprido, com 5 arcos en quada quadra, firmados em 7 columnas com 3 janellas en sima de cada banda.
Também o inquérito de 1732, mandado realizar, no reinado de D. João V, para elaboração do Diccionario Geographico do Reyno de Portugal, revela que a igreja da Paróquia dedicada a S. João Bautista tem três altares, o maior com a imagem de Santo Patrono e de S. Bento; e dois mais, um dedicado ao Nome de Jesus, e outro a Nossa Senhora do Rosário.
Igreja de nave única e quatro altares
A partir de 1743 regista-se um novo período construtivo no mosteiro que abrangerá todo o edificado desde a igreja e sacristia, ao terreiro e adro, passando pelas alas conventuais. A igreja é toda reformada recebendo novo revestimento de talha à moderna; abóboda de estuque com friso de mármores brancos e azuis; tribuna e retábulos novos, púlpito; sanefas; grades; bancos; pia batismal; guarda vento novo e muito mais…
As Memórias Paroquiais da Congregação de 1758 mostram já o resultado desta campanha de obras: 
O edificio, suposto não hé sumptuozo, consta de trez dormitorios que formam os lados ao Nascente Meyo dia e poente. Ao do Norte está a igreja. Hé esta de huma só nave e se compoem com quatro altares. No da cappella mor ao lado direyto da tribuna está a imagem de Sam João batista, orago do Mosteyro e freguezia. Ao lado esquerdo a imagem de Sam Bento. A quem os povos buscam com frequencia, e em concurso grande nos seus dias. O coleteral do Evangelho, hé dedicado a Nosa Senhora do Rozário. O da epistolla a Santa Anna. No corpo do Cruzeyro há outro altar, em que se venera huma devotíssima imagem de Christo crucificado, e no mesmo altar está o santissimo…
Dependências monacais - lar de terceira idade
Com o aproximar do fim do século a situação do mosteiro vai-se degradando. Os foros são sempre os mesmos, os encargos aumentam e o número de monges diminui. Esta realidade fica bem expressa no capítulo geral de 1786, realizado no Mosteiro de Tibães, que anuncia a sentença de morte do mosteiro:
O Mosteiro de S. João de Arnoia, situado no Concelho de Basto da Província do Minho […] tem de renda seis mil cruzados; nele, pela sua situação em uma montanha áspera, pela ruína em que se acha o edifício, que carece inteiramente reedificado de novo e pelo pouco n.º de monges que o habitam, não pode haver aquela regularidade que é necessária para conservar em seu vigor a disciplina monástica; por isso parecia ser mais útil aplicar das suas rendas cinco mil cruzados para sempre, ao Colégio da Estrela, ficando o resto para no dito Mosteiro, cuja Igreja é paroquial, se sustentar um monge escolhido para vigário e outro para companheiro, e Procurador que cobrasse as rendas e as remetesse ao dito Colégio.
É o fim da autonomia do mosteiro, que passa a priorado, até 1821, data da sua restauração.
Depois da extinção das ordens religiosas, em 1834, o mosteiro foi entregue à paróquia de Arnoia. Em 1867,
Ala conventual ocupada pelo Hospital Civil de São Bento
o rei D. Luís aprovou os estatutos da Santa Casa da Misericórdia de São Bento de Arnoia, que no ano seguinte foi oficialmente fundada, instalando-se no antigo cenóbio. Parte da ala conventual foi ocupada pelo novo Hospital Civil de São Bento.
No primeiro quartel do século XX, o hospital atravessou dificuldades financeiras e em 1918 encerrou as portas, reabrindo no ano de 1930, depois de um grande esforço da população e dos provedores da Misericórdia para angariarem fundos para a instituição. Em 1982, as instalações hospitalares foram deslocadas para o novo centro de saúde de Celorico de Basto, sendo esta zona das dependências monacais devolvida à Misericórdia. Posteriormente, a Santa Casa fundou, no espaço do mosteiro, um lar de terceira idade e um jardim infantil, que se mantêm até hoje.
Coro de cadeiras e espaldares
O atual Mosteiro de S. João de Arnoia é composto pela igreja de planta longitudinal, à qual se adossam lateralmente as dependências monacais. De nave única, o templo apresenta uma fachada de aparelho de granito, com portal principal de moldura simples, em arco rebaixado, encimado por um nicho com a imagem de São João Baptista e duas janelas retangulares, também de moldura em arco rebaixado. O conjunto é rematado por frontão triangular com dois fogaréus laterais e uma cruz no topo. Do lado esquerdo ergue-se a torre sineira fechada por remate piramidal. No interior, destacam-se o cadeiral de talha, o tímpano esculpido com um Agnus Dei, proveniente da escola de Rates, e uma representação de São Miguel atacando a serpente. 
Destacando-se pelas fachadas pintadas de branco, as dependências monacais organizam-se em torno de um pátio, dividindo-se em dois registos, pontuados pela abertura de portas e grandes janelas de sacada. O claustro tem dois pisos, sendo o primeiro composto por arcada assente sobre colunas toscanas e o segundo, fechado, rasgado por janelas de sacada com guardas de ferro. Ao centro da quadra existe um chafariz assente sobre três degraus, com tanque recortado e duas taças circulares, suportadas por coluna e rematadas por pináculo.
Nas antigas alas conventuais, distribuem-se as instalações da Unidade de Cuidados Continuados de Longa Duração e Manutenção de S. Bento de Arnoia.
A memória beneditina perdura nestes espaços na escada de pedra entre pisos; nos vãos sequenciais das portas e janelas; nos tetos abobadados e no salão nobre com teto em masseira com as armas beneditinas.

Sócia do GAMT nº 1 – Aida Mata



Claustro e torre da igreja

Sacristia


Lavabo


Escadas de pedra (pormenor)




Castelo românico de Arnoia


Castelo românico de Arnoia (interior)

Rua da Villa de Basto


Casa da Botica

Castelo de Arnoia e pelourinho

Restaurante Sabores da Quinta


Casa do Campo

Jardim da Casa do Campo com planta rectangular

Jardim com chafariz de tanque circular com repuxo

Amigos GAMT na Igreja do Mosteiro

Lembrando Percursos Beneditinos GAMT - Por terras de Bande e de Celanova na Galiza

O monge São Rosendo, figura proeminente da expansão beneditina na Europa, foi lema para dois itinerários GAMT: Santo Tirso e Galiza.
Na visita ao Mosteiro de Santo Tirso apercebemo-nos da devoção a São Rosendo e falámos do seu nascimento no ano de 907 em S. Miguel do Couto, concelho de Santo Tirso.
Segundo o beneditino Frei Geraldo Coelho Dias, São Rosendo foi uma das figuras centrais do monaquismo do norte de Portugal e da Galiza a par de S. Frutuoso e S. Martinho de Dume. Fundou o Mosteiro de S. Salvador de Celanova, dinamizador da cultura e o crescimento dos reinos cristãos no limiar do ano mil, além de participar na fundação de outros cenóbios.
Prosseguindo então na senda de S. Rosendo, o 26º Percurso Beneditino GAMT conduziu-nos até à Galiza, começando pelo simpático município de Celanova, no dia 20 de julho do ano em curso. 
Mosteiro de S. Salvador de Celanova
Pelas onze horas, orientados por uma guia do posto de turismo local, iniciámos a visita ao imponente Mosteiro de S. Salvador de Celanova, outrora um grande centro monástico. Construído em tempos da
alta idade média, viu alterada a sua fisionomia arquitetónica durante os séculos XVI, XVII e XVIII seguindo as linguagens renascentistas, barrocas e neoclássicas, presentes na igreja, coro alto, sacristia, claustros e alas conventuais.
Depois de apreciada a fachada principal em linha reta, virada à espairecida Praça Maior, entrámos para o claustro velho de colunas compactas, coberto por atrativa abóbada de arquitetura gótica. No piso superior surgem portas-sacadas ricamente emolduradas num estilo barroco e uma grande variedade de gárgulas por onde escoam as águas pluviais.
Altar-mor da igreja do Mosteiro
Numa igreja magnífica, para além de muitos outros detalhes, os visitantes deliciaram-se com o retábulo barroco da capela-mor de finais do século XVII profusamente decorado com ícones religiosos. Estranharam a existência de um coro baixo central, formando uma grande sala retangular, com um cadeiral magnífico, onde se narra a vida de S. Bento e S. Rosendo, defendido por grades e portas primorosamente esculpidas de imagens.
Num processo contínuo, passámos pela ampla sacristia decorada num tom róseo com altar e extensos arcazes. Subimos ao espaçoso coro alto com um magnífico órgão de tubos que proporciona frequentes momentos musicais em concertos memoráveis e descemos de novo ao piso térreo para visitar uma pequena capela pré-românica situada na antiga horta do mosteiro.
Perdura, dos tempos medievais, esta capela de S. Miguel, monumento nacional desde 1923, o exemplo mais paradigmático e completo da chamada arquitetura moçárabe, com a estrutura cruciforme, os três espaços interiores separados mediante arcos de ferradura, cachorros em forma de rolos, ajimezes, modelos usados também em S. Frutuoso de Montélios em Real, Braga. 

Conhecida a arte e memória beneditina presente no Mosteiro de Celanova, rumámos de seguida a Vilanova dos Infantes para conhecer a igreja paroquial do século XVII.
Igreja Vilanova dos Infantes
Ali, esperava-nos outro guia, o padre Dom António. No interior da igreja, para além de outros pormenores, apresentou-nos um Cristo crucificado em madeira talhada, de origem românica, que poderá ser procedente do desaparecido mosteiro feminino de Santa Maria, fundado pela mãe de San Rosendo e que terá existido naquele local. Falou-nos também da lenda, o cristal com a imagem de Nossa Senhora, achada por um lavrador no século XVII. A designada Virgem de Cristal, uma réplica depois do roubo de 2015, mede apenas dois centímetros e está colocada dentro de una peça de cristal maciço em forma de ovo.
O delicioso almoço no formato de piquenique estava marcado para o logradouro do santuário edificado no séc. XVIII em honra a Nossa Senhora do Cristal. Como é habitual, foi farto, muito variado de saborosos petiscos e acompanhado por boa disposição. A findar o repasto, de uma forma muito breve, tivemos a oportunidade de visitar a igreja, edifício barroco, onde acabava de terminar uma cerimónia nupcial.
Após o rápido “banquete”, fomos ao reencontro de outra memória - a Via Nova, ou Geira, cujo percurso português tão bem conhecemos com a visita ao Museu da Geira, no nosso 19º Percurso, em julho do ano transato.
Centro de Interpretação Aquae Querquennae
Dirigimo-nos ao Centro de Interpretação Aquae Querquennae-Vía Nova, ponto de informação sobre o complexo arqueológico romano Aquis Querquennis situado em Porto Quintela, a oito quilómetros de Bande. Recepcionados por uma simpática guia que nos fez a necessária contextualização da civilização romana, percorremos calmamente o centro interpretativo, bem organizado e com bastante informação.
A escassos metros fica o acampamento romano, ocupado entre o último quartel do século I e meados do século II, construído, provavelmente, para vigiar a Via XVIII ou Via Nova, que comunicava Bracara Augusta e Astúrica Augusta. Aqui, apenas realizámos uma visita individual, pois o espaço não estava totalmente visitável devido ao nível ainda elevado da água da barragem das Conchas que infelizmente cobre as ruínas durante boa parte do ano.


Igreja visigótica de Santa Comba de Bande
Mas o tempo sobrante não foi dado como perdido. Numa previsão de Plano B, fizemos um diminuto desvio na viagem de regresso para visitar a pequena igreja visigótica de Santa Comba de Bande, a única desta época que se conserva na sua integridade. Trata-se de um edifico de um mosteiro pré-românico aonde se trouxeram as relíquias de São Torcuato, discípulo do Apóstolo Santiago.
Gentilmente, a pessoa responsável pela chave acedeu ao pedido de visita e abriu-nos a porta para podermos desfrutar de uma visão singular do seu interior. Este, num formato retangular, termina numa capela-mor cuja abóbada contém pinturas murais. Foi-nos confidenciado que, junto à cabeceira, do lado esquerdo, a dependência lateral seria uma cela do período de uso monástico do templo.
E lá retornamos a casa, um pouco mais tarde que o previsto, pois o entusiasmo pelas descobertas era muito grande, não podendo faltar os imprescindíveis registos fotográficos destes momentos únicos para a maioria destes verdadeiros amigos que nos acompanharam nesta primeira viagem por terras galegas.

Sócio do GAMT nº 2


Claustro do Mosteiro

Abóbada de arquitetura gótica
Claustro Mosteiro de S. Salvador
Sacristia da Igreja do Mosteiro
Órgão de tubos


Mosteiro de S. Salvador (traseiras)
Capela de S. Miguel - exterior
Interior Capela de S. Miguel
Igreja Vilanova dos Infantes (interior)
Cristo românico
Igreja Virgem do Cristal (exterior)
Igreja Virgem do Cristal (interior)
Imagem da Virgem do cristal
Introdução à exposição no Centro de Interpretação Aquae Querquennae
Exposição a civilização romana
Acampamento romano
Igreja visigótica de Santa Comba de Bande (traseira)
Capela-mor igreja visigótica de Santa Comba de Bande
Teto da Capela-mor igreja visigótica de Santa Comba de Bande
Piquenique
Foto de grupo