Lembrando Percursos Beneditinos GAMT - Minho

Recuando um pouco atrás nos itinerários beneditinos já realizados, recordamos aquele que foi efetuado no primeiro dia de Agosto do ano findo em que visitámos a paisagem de Orbacém e Gondar, freguesias perdidas no sopé da serra d'Arga, no concelho de Caminha, que até ao século XV pertenceram ao mosteiro beneditino de São Cláudio e o Convento de S. João de Cabanas, outrora beneditino, na freguesia de Afife.
Interior da Igreja S. Cláudio de Nogueira
Até àquele momento, a maior parte dos intervenientes não conjeturava que a história do Mosteiro de Tibães pudesse estar de alguma forma ligada a estas paragens do Minho, fosse pela cobrança de impostos ou pela existência de cenóbios pertencentes outrora aos monges negros de S. Bento. Afife seria, sobretudo, uma localidade com uma praia de areia branca e fina, a norte de Viana do Castelo, apetecível para uns banhos de sol e piqueniques conviviais em família no terreiro da capela de Santo António.
Saímos então, numa linda manhã de sol, do Mosteiro de Tibães para o nono percurso beneditino, dirigindo-nos para norte, rumo à Igreja de Nogueira, antigo Mosteiro de S. Cláudio, classificado como monumento nacional. Aqui, fizemos a primeira paragem com uma visita guiada por jovens historiadores/investigadores da Universidade do Minho que nos levaram a apreciar a arquitetura com os pormenores construtivos deste templo de estilo românico que reflete o que foi a construção religiosa dos séculos XI a XIII. Fizeram-nos uma resenha histórica do mosteiro e a sócia do GAMT, Anabela Ramos, coadjuvou no tema da incorporação de Gondar no Mosteiro de Tibães no século XVI, com os seus rendimentos, constando-se um proveito anual de 50 mil reis.
Aula em Orbacém
Uma dúzia de quilómetros andados, e a segunda paragem ocorreu na extinta freguesia de Orbacém. Ali, ouvimos descrever a sua história, visitámos a Igreja e relógio de sol barroco e apreciámos as habitações tradicionais em alvenaria de xisto que fazem parte do património edificado local.
A hora de almoço apertava, achávamo-nos nas margens do rio Âncora, num verdejante parque de merendas a convidar para uma pausa já merecida. Enquanto a água corria no leito calmo do rio num rumorejo suave, na sua pequena viagem para o mar, desfrutámos de um alegre piquenique confraternizador, em que o farnel composto por alguns deliciosos petiscos foi da responsabilidade de cada participante.
Altar-Mor Igreja de Gondar
Findo o ligeiro mas gostoso repasto, continuámos o nosso trajeto: estávamos em Gondar para cumprir a terceira etapa. Esta freguesia foi vigairaria da apresentação do convento de Tibães. Detivemo-nos na linda igreja paroquial, cuja traça é da primeira metade do século XVIII, com uma decoração barroca em talha polícroma de cores alegres caracteristicamente minhotas. Foi a vez de Eduardo Oliveira auxiliar na compreensão do talento decorativo que aí estava patente. Cumprimos ainda o delineado percurso por algumas habitações típicas do séc. XVIII e lugares sacralizados.
O tempo já se fazia escasso e partimos para a última etapa: o convento beneditino de S. João de Cabanas.
Este antigo mosteiro masculino, classificado como Imóvel de Interesse Público mas em uso privado, situa-se no lugar de Cabanas, em Afife, distrito de Viana de Castelo, implantado numa vertente da encosta, junto à margem direita do rio Afife, num local agradável e propício à irmanação absoluta com a natureza.
Aula em S. João de Cabanas
Encontrámos uma construção de pequenas dimensões, vedada por muros altos, reformulada no início do século XVII: constituída por igreja, uma torre sineira e dependências monásticas com pequeno claustro de planta quadrangular. O acesso principal fez-se por um portão com a epígrafe “Quinta de Cabanas”. Dali, visualizámos de imediato a fachada principal da igreja, em cujo frontispício encontramos um nicho com a imagem de S. João e, mais acima no tímpano, o brasão beneditino, simbologia de mosteiros da ordem de S. Bento.
Entrando na igreja, de planta longitudinal e uma só nave, pudemos observar a abóbada de berço, o coro-alto, o altar-mor e altares laterais com retábulos de talha, púlpitos quadrangulares sobre mísulas e encimados por janelas. Tivemos nessora o sempre esperado momento de aula de arte que a todos enriquece, proporcionado desta vez pela Presidente do Conselho Diretor, Aida Mata.
Claustro em S. João de Cabanas
Convirá registar que, do ponto de vista arquitetónico e decorativo, o corpo da igreja é, sem dúvida, a parte mais interessante deste espaço visitado. Inquieta-nos que, apesar da manutenção da limpeza existente, a humidade esteja a tomar conta progressivamente desta área com a indesejável degradação que o passar do tempo trará.
Visitámos de seguida o claustro, de dimensões reduzidas, e as restantes dependências conventuais. Ao centro da quadra do claustro está edificada uma fonte com tanque circular e imagem escultórica ao centro.
Antes de nos retirarmos, pudemos visitar parte da cerca conventual: uma ajardinada, outra agrícola, com uma vinha e um laranjal já a requerer manutenção, e a parte sobrante ocupada pela mata, esta separada do restante de modo natural pelo riacho que atravessa a propriedade.
Como no século XX, o Convento de São João de Cabanas ficou conhecido por ser o local onde o
Homenagem a Pedro Homem de Mello
poeta Pedro Homem de Mello viveu e escreveu, achamos oportuno prestar-lhe uma reconhecida e sentida homenagem com audição de um seu poema cantado admiravelmente pela fadista Amália Rodrigues, à volta da mesa de pedra situada nas traseiras da adega, debaixo de uma ramada refrescante, onde certamente o escritor terá meditado e redigido as suas composições poéticas e saboreado deliciosas refeições estivais.
Já fora do recinto, antes de encetarmos a viagem de regresso, despedimo-nos com a tradicional e animada foto de grupo, postada junto ao muro da cerca conventual.
  
Sócio do GAMT nº 2
Prontos para a partida
Igreja S. Cláudio de Nogueira
O Piquenique


Altar-Mor Igreja de Orbacém


Igreja de Gondar
Mosteiro de S. João de Cabanas

Habitação senhorial em Orbacém

Foto de grupo