Lembrando Percursos Beneditinos GAMT - S. Bento em Braga I

Dando observância ao nosso plano de atividades para 2016, realizámos no dia 5 de Novembro o 13º Percurso Beneditino, a primeira etapa do projeto S. Bento em Braga.
Era dia do habitual mercado na cidade de Braga, as pessoas rodopiavam na rua carregadas de compras, algo friorentas. O tempo esfriara e apresentava uma ténue ameaça de chuva fria e um sol envergonhado.
Fachada da Igreja do Carmo 
Achávamo-nos já na hora de avançar. Formado o grupo, tendo como mote S. Bento, começámos por visitar a igreja do Carmo, pertencente à Ordem dos Carmelitas Descalços, que em setembro de 2012 foi classificada como Monumento de Interesse Público. Em 1898, a fachada da primitiva igreja, simples e sóbria, estava em desaprumo e ameaçava ruína. Por este motivo, pensaram em substituí-la com projeto feito pelo arquiteto Moura Coutinho, ficando concluída em 1911.
É este o alçado imponente que podemos observar e que conheceu a elevação que ainda hoje conserva, com a torre central a aparentar uma espécie de trono em honra de Nossa Senhora do Carmo, em vários andares, dividido em quatro registos por duplas cornijas. Esta fachada é aberta, no piso térreo, por três arcos de volta perfeita: o central permite o acesso à igreja e os laterais às antigas dependências conventuais.
Entrando na igreja, os nossos olhos enchem-se com a visão da nave única ornamentada com talha dourada omnipresente nas sanefas e retábulos barrocos e neoclássicos que nos aquecem o espírito. É uma construção com planta em forma de cruz latina, com coro alto onde se destacam as caixas dos órgãos com forma de bacias, dois púlpitos e duas capelas laterais, uma delas dedicada a S. Bento.
Núcleo Museológico do Carmo
Fomos então recebidos por um padre da comunidade carmelita que nos abriu as portas das dependências reservadas e simpaticamente nos acompanhou na visita para nos facultar mais pormenores do espírito carmelitano. Depois de uma breve contextualização orientada pelos nossos estimados guias, Eduardo Oliveira e Aida Mata, dirigimo-nos à zona cruzeira coberta por uma luminosa cúpula em cujo transepto se encontram outros dois maravilhosos altares.
Se a talha dourada nos prendeu a atenção, o conjunto da imaginária de vulto, estofada, dourada e policromada, deslumbrou os nossos olhos.
De seguida, no acesso à sacristia, encaminhamo-nos para o Núcleo Museológico do Carmo inaugurado em 2013. O espaço contém imagens, paramentos, documentos sobre a vida dos carmelitas naquele convento e outros objetos de culto da instituição religiosa. Destacamos a sua extraordinária sacristia com retábulos, relicários e volumoso arcaz, não esquecendo a sua extensa antecâmara com lavabo de parede.
O percurso contemplava ainda a igreja de S. Vicente, para onde nos deslocamos por volta do meio-dia. Ali, esperava-nos o sócio do GAMT, José Pinto, Juiz Presidente da Irmandade de São Vicente, para nos abrir as portas, acompanhar na visita e acrescentar informação.
Fachada da Igreja de S. Vicente
Depois de uma breve alusão à presença de primitivo templo num terreno lateral, principiámos por observar a fachada harmoniosa do templo que nos faz presumir que estamos diante de um quadro granítico de cariz barroco. A coroar a frontaria temos a imagem do patrono, S. Vicente, agasalhada num nicho, e, por cima deste, a cruz papal.
Entrados no interior da igreja, para além da inevitável perceção da valiosa e omnipresente talha dourada, aos nossos olhos destacaram-se os painéis de azulejos, a maioria datada do século dezanove, que relatam episódios históricos e martírio de São Vicente, o orago do templo.
Para finalizar, dirigimo-nos à sacristia. Na verdade, a sua remodelação não terá sido a mais feliz mas, segundo consta, terá ocorrido por questões de segurança do edificado. No entanto, possui objetos de interesse para apreciação. Por exemplo, numa das paredes, guarda um tesouro de estimar: uma lápide tumular visigótica com uma inscrição epigráfica que explicará a existência de um templo primitivo, bem anterior à atual igreja.
Em jeito de despedida, deixaremos aqui o registo do apelo da Irmandade de S. Vicente para a premência de uma intervenção no telhado, por parte da Direção Geral do Património Cultural, de forma a suster perigosas infiltrações que se afiguram desastrosas para um edifício há pouco tempo intervencionado.

Sócio do GAMT nº 2


Aula no interior da Igreja de S.Vicente




Sacristia da Igreja do Carmo
Epígrafe tumular visigótica - Sacristia da Igreja de S. Vicente