Lembrando Percursos Beneditinos GAMT - Coimbra

O outono chegara e o tempo escoava-se a um ritmo apressado neste último terço do ano. Como habitualmente, a nossa mente encontrava-se algo desassossegada, na perseverante espera pelo saber que permite o entendimento do passado/presente. Esperavam-se mais novidades através destas caminhadas pelo património a que o GAMT já nos habituou.
Da programação anual de dois mil e dezassete, faltava ainda concretizar o décimo sétimo percurso, talvez o mais ousado desde a conceção dos itinerários beneditinos.
Paço das Escolas
E o prometido dia 14 de outubro chegara para partirmos à descoberta pela cidade de Coimbra, no rasto do escultor beneditino Frei Cipriano da Cruz (1645-1716). Iríamos conhecer obras suas na Universidade de Coimbra, na Sé velha e no Museu Machado de Castro.
Mas sendo Cipriano da Cruz a razão primordial da nossa deslocação a Coimbra, não deixaríamos de visitar alguns espaços da Universidade de Coimbra, Património Mundial da Humanidade, a  Capela de São Miguel e a Biblioteca Joanina, e de percorrer todo o Museu Machado de Castro.
O programa prometia e, pelas oito horas, saímos do Mosteiro de Tibães, com paragem no Minho Center, para recolher os residentes da urbe Bracara Augusta. As inscrições foram muitas, ultrapassando mesmo todas as espectativas: éramos um grupo numeroso, cinquenta e três alistados para mais uma nova descoberta!
Depois de uma rápida viagem, desembarcámos em plena cidade universitária coimbrã e dirigimo-nos ao guichet para aquisição do bilhete de ingresso que nos permitia a entrada na Capela de São Miguel e na Biblioteca Joanina. Aqui, para surpresa nossa, aguardava-nos o Doutor Maia do Amaral, Bibliotecário e Diretor-Adjunto da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, amigo pessoal do nosso sócio Dr. Henrique Barreto Nunes.

Interior da Capela de São Miguel 

Iniciámos o programa da visita pela Capela de São Miguel do Paço das Escolas, datada do século XVI, com portal lateral e janelões de estilo manuelino. Entrando pela porta principal, deparámos com uma riquíssima decoração em talha dourada, maneirista e barroca; pinturas maneiristas; azulejos do tipo tapete setecentistas; imagens e um magnífico órgão de estilo barroco. Foi aqui que estabelecemos o primeiro contato com Frei Cipriano do Cruz, através da linda escultura da imagem de Santa Catarina no nicho à direita do arco cruzeiro, patrona dos estudantes.
Depois de satisfeita esta primeira curiosidade, e como a biblioteca estava com forte afluência que não permitia a entrada de um grupo tão numeroso naquele momento, descemos rapidamente pelas ruelas íngremes até à Sé Velha. Veio logo à memória de, há muitos anos atrás, uma malograda tentativa de visita a este soberbo edifício em estilo românico da época da reconquista cristã que agora dispõe de uma bilheteira algo improvisada.
Sé Velha de Coimbra

O seu aspeto exterior recorda-nos um castelo de muros altos coroados de ameias. Rodando para norte, encontramos uma sumptuosa porta tipo retábulo, portal renascentista, adossado no século XVI à construção já existente, a notável Porta Preciosa. Penetrando no edificado pela porta principal, o seu interior escuro revela-nos três naves, existindo na nave central um segundo piso com galerias em arcadas. Ao longo das naves laterais descobrimos diversos túmulos da época gótica e azulejos hispano-árabes com motivos geométricos na decoração de paredes e pilares. Na parte cimeira da nave central do templo, destaca-se, na capela-mor românica, o retábulo gótico com figuras esculpidas que ilustram a vida de Maria e Jesus. De igual modo realçámos os retábulos renascentistas de Nicolau de Chanterenne e de João de Ruão. Apreciámos também o retábulo com a imagem de Nossa Senhora da Conceição da autoria de Frei Cipriano da Cruz, originária do extinto colégio de S. Bento. 
O tempo escasseava, mas antes de nos retirarmos, ainda tivemos tempo para dar uma espiadela ao claustro. Trata-se de um espaço agradavelmente surpreendente, situado no lado sul do templo. É naturalmente uma construção mais tardia, na passagem para o gótico, onde predominam os arcos quebrados. Cada um abriga uma rosácea que encima arcos geminados de volta perfeita.
Saímos, de regresso à universidade. Pelo caminho, numa esquina, deparamos com uma casa que dispunha de uma placa evocativa de Zeca Afonso, o poeta-cantor da liberdade, momento que nos remeteu para o seu tempo de estudante, durante o período difícil do antes do 25 de abril. Houve mesmo quem cantarolasse a música Em cada esquina um amigo…
Biblioteca Joanina
Faltava-nos visitar, no período da manhã, a Biblioteca Joanina, era preciso que nos despachássemos.
Privilegiadamente guiados pelo Doutor Maia do Amaral, entrámos pelo piso inferior, a Prisão Académica, que funcionou como cárcere até 1834 e depois como depósito bibliográfico, fruto da extinção das ordens religiosas. Passámos apressadamente pelo Piso Intermédio, local onde se reunia a Guarda Real Académica. E subimos ao Piso Nobre: foi um oh geral de espanto! Trata-se de uma das mais ricas bibliotecas europeias pelo seu espólio, riqueza decorativa e construtiva. Ficámos a saber que o seu nome deriva do patrocinador da sua edificação, o rei D. João V, nos inícios do século XVIII. Como, institucionalmente, o período de permanência no seu interior é limitado a dez minutos, tempo nitidamente insuficiente, a restante explicação ocorreu no seu exterior, através de audiofones, diante da fachada principal da biblioteca.
A hora do almoço, mais que merecida, chegou. Aos grupos, cada um procurou livremente um local para retemperar energias e o meu grupo optou pelo local mais próximo, a cantina da Faculdade de Direito, uma vez que o tempo disponível era reduzido e tínhamos de nos espalhar pelos diferentes espaços disponíveis nas imediações (cantinas universitárias, bar do museu ou outros restaurantes).
A tarde estava destinada ao Museu Machado de Castro. Deixámos o movimentado átrio da universidade de Coimbra e dirigimo-nos para a receção do museu, onde fomos recebidos simpaticamente pela Diretora, Dra. Ana Maria Alcoforado, e pela Dra. Virgínia Gomes.
Criptopórtico romano
A Diretora, depois de nos informar que as atuais instalações integram três unidades interligadas (criptopórtico romano; antigo paço episcopal, contendo acervo, salas multimédia e de exposições temporárias, uma loja/livraria; edifício novo que acolhe escultura, pintura, ourivesaria), encaminhou-nos para a estatuária, a última ceia de Hodart e seguidamente para a sala das esculturas dedicada a Frei Cipriano da Cruz.
Ali, a Dra. Ana Alcoforado, falou-nos do trabalho de recuperação das peças e fez-nos apreciar, com pormenor de manufatura, o rosto, a escala da peça e o tratamento escultórico do pregueado das vestes nas imagens de São Miguel Arcanjo, Pietá ou Nossa Senhora da Piedade e Santo Anselmo.
De seguida, a Dra. Virgínia Gomes conduziu-nos ao monumental criptopórtico romano edificado pela administração romana para suporte do fórum, espaço extraordinariamente intervencionado e constituído por uma vasta e labiríntica rede de galerias e espaços comunicantes.
Capela quinhentista do “tesoureiro”

Continuamente, passámos pelo núcleo escultórico renascentista onde sobressai a capela quinhentista do “tesoureiro”, projeto museológico notável do arquiteto Gonçalo Byrne.Devido ao entusiasmo dos visitantes e por vezes da nossa guia, o tempo minguava a olhos vistos. Tivemos de acelerar para ainda passarmos os olhos pela pintura e ourivesaria.
Finda a ronda museológica, restou um tempinho para a foto de grupo que lembrará os que se associaram a este encantador percurso.
Regressámos a casa satisfeitos, agradecendo esta visita extremamente enriquecedora que ficará certamente na memória de cada um. Foi um privilégio ter os nossos habituais guias bem informados, Dra. Aida Mata e Dr. Henrique Barreto Nunes, que pelos seus conhecimentos nos facilitaram de novo a entrada nos diferentes espaços visitados.
Aos guias locais um enorme obrigado, ficamos reconhecidos pela sua disponibilidade e atenção, pelo entusiasmo e amabilidade demonstrada.



Foi um prazer estarmos juntos e de ouvir a partilha de tantos saberes.




Desembarque em Coimbra
Altar gótico

Claustro da Sé Velha

Fachada com a Porta Preciosa

Imagem de Santa Catarina no nicho

Ruelas do Bairro da Sé

Placa evocativa de Zeca Afonso

Doutor Maia do Amaral e Barreto Nunes



Pietá

Sagrada Família

Santo Anselmo

São Miguel Arcanjo

Foto de grupo


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Aniversário do Foral Manuelino do Couto de Tibães

No âmbito das comemorações dos 500 anos da atribuição da Carta de Foral pelo rei D. Manuel ao Couto de Tibães, a Junta de Freguesia promoveu, no dia 4 de setembro, um jantar festivo na Hospedaria do Mosteiro de Tibães.
É útil recordar que esta data evoca a história e a relevância que Mire de Tibães teve até 1834, perpetuando o seu rico legado histórico e justificando assim a sua escolha para Dia da Freguesia.
Desta feita, a Junta quis homenagear empresários, instituições, associações da freguesia e membros da Assembleia de Freguesia do presente mandato.
Como não podia deixar de ser, o Grupo de Amigos do Mosteiro de S. Martinho de Tibães (GAMT) esteve presente, através dos seus dois vogais executivos, recebendo uma medalha comemorativa e uma réplica do Foral Manuelino do Couto de Tibães, como Associação residente na freguesia e pelo contributo dado na organização e realização das celebrações e que citamos como exemplos:

Percurso Beneditino - S. Bento na azulejaria do Mosteiro de Tibães;
Caminhadas – Domínios do Couto de Tibães;
Participação com oradores nas palestras:
Conferência I – A Carta de Foral do Mosteiro de S. Martinho de Tibães;
Conferência II - À Descoberta de Braga - Os Beneditinos, o Mosteiro de S. Martinho de Tibães e o Processo de Reabilitação.

Pensamos que se tratou de uma homenagem simpática mas com significado a quem se dedica à divulgação e valorização da memória de Tibães.






Lembrando Percursos Beneditinos GAMT - Tibães em Braga II

Dando continuidade aos nossos percursos beneditinos, estivemos juntos no dia 9 de Maio de 2015. Tratou-se do 7º Percurso, sendo o 2º “Tibães em Braga”. Visitámos o Museu Pio XII, a Igreja do Hospital de São Marcos e a capelinha de S. Bentinho do Hospital.

Pretendeu-se, com esta série de visitas, continuar a descoberta de alguns fragmentos do espólio do Mosteiro de Tibães que, com a dissolução das ordens religiosas masculinas ocorrida em 1834, se encontram dispersos pela cidade de Braga. Ao longo de sua existência, o Mosteiro reuniu o maior e mais precioso espólio da região, desde a pintura, a escultura e a arte sacra, a uma vasta coletânea de livros sobre variados temas.
Museu Pio XII
Pelas dez horas, começámos pelo Museu Pio XII que recentemente renovou a sua exposição permanente com peças dos vários períodos da pré-história. Aqui, o arqueólogo Luís Fontes, sócio do GAMT, enriqueceu a visita com o seu singular saber mostrando-nos as peças e orientando-nos na descoberta de pormenores da vida dos povos dessa época. Tivemos mesmo a oportunidade de conhecer diversos capitéis coríntios oriundos de Tibães
Mas, para além da arqueologia, o museu dispõe também de um vasto espólio noutras áreas como a pintura e a escultura. Foi nesta área, na escultura, que encontrámos um leão rompante, fragmento de um brasão beneditino, e duas imagens dos vultos de S. Bento e S. Bernardo em madeira dourada e policromada, dadas como oriundas do Mosteiro de Tibães. Por gentileza da direção do museu, vimos também azulejos avulsos retirados do mosteiro. Crê-se que, para além de um marco do Couto (Estrada Velha), nas reservas deste museu haverá outros elementos retirados do período de abandono da abadia beneditina.
Tivemos ainda oportunidade de conhecer parte significativa da obra de Henrique Medina, um dos grandes artistas retratistas do séc. XX.
Igreja de S. Marcos
Porém, como tempo já escasseava, dirigimo-nos para a Igreja do Hospital de São Marcos, construída no século XVIII sob projeto do arquiteto Carlos Amarante e propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Braga.
Recebidos na igreja pelo representante da Misericórdia, José de Sousa Ribeiro, que nos fez uma breve introdução geral sobre a igreja e instituição, detivemo-nos em detalhes, como o túmulo de S. Marcos, orientados pelo Eduardo Oliveira e Aida Mata, fazendo um turno pela igreja e sacristia.
Mas o pormenor principal encontrava-se no coro alto aonde subimos. Trata-se do órgão de tubos, em bom estado de conservação, construído perto do fim do século XVIII, pelo organeiro Manuel de Sá Couto, da Lagoncinha que, segundo especialistas, terá vindo do coro baixo da Igreja do Mosteiro de Tibães. Argumenta-se que, por exemplo, as suas dimensões correspondem ao espaço outrora ocupado. Nesta questão, o historiador Paulo Oliveira acha-se convicto de tal facto.
S. Bentinho do Hospital

Concluímos o nosso périplo na capelinha de São Bentinho do Hospital para falar do culto. Esta pequena capela é um local de uma grande devoção popular. De entre o numeroso público participante na visita (45 pessoas!), muitos recordaram a música cantada por quem vem em romaria, à quinta-feira, a esta capela em que há uma pessoa que dita o verso e depois todos os outros o repetem enquanto vão andando.

Citando alguns versos:

Oh meu São Bentinho
De trás do hospital, (bis)
Tu deste saúde
A quem estava mal. (bis)
A quem estava mal
E aos outros também, (bis)
Oh meu São Bentinho
Para sempre ámen. (bis)

Assinalamos o nosso muito obrigado aos guias que estiveram connosco, o arqueólogo Luís Fontes e os historiadores Eduardo Pires de Oliveira e Paulo Oliveira que nos agarraram com o seu saber e nos deram a conhecer mais espólio disperso do Mosteiro de Tibães. Uma visita guiada por especialistas é um privilégio, sem dúvida, tornando-a muito mais agradável e enriquecedora.

Sócio do GAMT nº 2


Pia baptismal Mosteiro de Tibães