1º Encontro de Amigos de Mosteiros Beneditinos

No desenvolvimento do seu programa de ação, no dia 5 de Maio, promoveu o GAMT um encontro com alguns grupos de amigos de mosteiros beneditinos.   
Estiveram presentes amigos do Mosteiro de S. Miguel de Bustelo; do Mosteiro de São Martinho de Cucujães; do Mosteiro de Santo André de Rendufe e do Mosteiro de São Martinho de Tibães.
A reunião decorreu nas antigas Cavalariças da Abadia de Tibães, abordando os seguintes aspetos:
– Apresentação e objetivos dos Grupos de Amigos
– Atividades desenvolvidas
Mosteiro de Tibães
– Propostas de trabalho em rede
Antecedida a reunião com uma pausa para café na Hospedaria do Mosteiro, a Presidente do GAMT expôs a justificação das ausências de alguns dos mosteiros convidados (S. Miguel de Refojos, Santa Maria de Pombeiro e Santa Maria do Carvoeiro).
Enquanto decorria um pequeno PowerPoint com a cartografia dos mosteiros beneditinos e algumas imagens de apresentação, cedidas pelos grupos de amigos, foi dada a palavra aos representantes dos diferentes grupos.
Pelo Mosteiro de S. Miguel de Bustelo, Miguel Santos expôs o que a seguir se transcreve:

APRESENTAÇÃO:
O grupo de voluntários do museu do mosteiro de S. Miguel de Bustelo nasceu no seio da comunidade paroquial de Bustelo, reunindo um conjunto de pessoas interessadas em salvaguardar o património que constitui aquele mosteiro. Foi seu objetivo a criação de um espaço museológico dentro do antigo edifício conventual e a abertura permanente ao público. Assim, em abril de 2012 nascia o museu do mosteiro de Bustelo, estrutura completamente amadora, mas que possibilita desde então e de forma ininterrupta a abertura da igreja e do mosteiro ao público todos os domingos entre as 15h e as 18h, totalizando já mais de duas mil visitas ao espaço museológico, sem contar com as inúmeras visitas à igreja e piso inferior do claustro. Desta forma, todos os domingos, de configuração completamente amadora, há três voluntários em Bustelo que abrem a porta e guiam o visitante. Para isso é fundamental o apoio da paróquia, detentora de todo o complexo monástico, que desde o primeiro momento aplaude e cria condições para que tal aconteça. É sempre em perfeita sintonia com ela que o grupo se movimenta e lança atividades.
O objetivo maior por detrás do projeto é o de alertar consciências para o estado em que se encontra grande parte do mosteiro. Praticamente esquecido pelo poder político, inserido numa freguesia de dimensão populacional modesta e propriedade da Igreja – que não lhe consegue atribuir uma finalidade autossustentada, o mosteiro vê a ruína adensar em cada dia que passa.

ATIVIDADES:
Nas aberturas semanais há sempre a possibilidade de uma breve visita guiada, mas têm também acontecido várias visitas programadas oriundas de vários pontos do país (Lisboa, Viseu, Braga, Porto, Penafiel, etc.).
De forma a cultivar e aprofundar o conhecimento do mundo beneditino, este grupo de voluntários organiza no último sábado de maio, e sempre com o apoio da junta de freguesia local, uma visita a um ou a dois mosteiros da antiga congregação, naquele que é apelidado pelos voluntários de “passeio do museu”. O mais recente, em 2018, foi ao mosteiro de São Martinho do Couto de Cucujães, sendo já o quinto realizado.
Embora um pouco fora do âmbito do legado beneditino, o grupo de voluntários do museu foi desafiado, em 2015, a organizar um conjunto de atividades comemorativas do centenário da tomada de posse como bispo de Coimbra de D. Manuel Luís Coelho da Silva (1859-1936), natural de Bustelo. O grupo empenhou-se neste projeto, tendo apresentado à comunidade uma exposição temporária, que funcionou no piso superior do claustro, planificando várias conferências e organizando uma visita a Coimbra aos locais mais importantes do legado deste prelado que, entre outras distinções, foi quem acolheu e ordenou o Padre Américo, para além de ter ordenado bispo o futuro Cardeal Cerejeira.
Para 2018 o grupo tem planeado o desenvolvimento de uma semana aberta, em julho, na qual pretende enaltecer a História do monumento, dando-a a conhecer aos próprios conterrâneos e demais interessados.

DESAFIO:
O mosteiro de Bustelo situa-se a menos de 3km do centro da cidade de Penafiel, a segunda mais antiga do distrito do Porto e uma das mais antigas de Portugal. Insere-se numa confluência de vários concelhos: além da proximidade da sua sede de concelho a Sul, Penafiel, tem Lousada a Norte, Marco de Canavezes a Nascente e Paredes a Poente, tudo num raio de 15km. Além disso, a própria freguesia é servida pela Linha Férrea do Douro, com apeadeiro em Bustelo, e pela Autoestrada n.º 4, com entrada a 2 minutos, e que possibilita um rápido acesso ao Porto. Com toda esta facilidade de acesso, detido em tamanha encruzilhada, quase que nos atrevemos a perguntar: como não visitar o mosteiro de Bustelo!?
Miguel Santos

De seguida, interveio o Mosteiro de São Martinho de Cucujães, representado por Eva Dias, formada em História de Arte, e que relatou a seguinte apresentação:

Mosteiro de São Martinho de Cucujães: nota histórica
Fundado no século XII, o mosteiro de São Martinho de Cucujães foi sede de couto por mercê de D. Afonso Henriques, através de carta outorgada em 7 de Julho de 1139. Integrado na Congregação de São Bento de Portugal em 1588, apenas uma década mais tarde recebeu o primeiro abade e monges reformados. Procederam à renovação arquitetónica do edifício ao longo do século XVII, operando-se a renovação das artes de interior na segunda metade do século XVIII, onde trabalharam artistas de renome como Manuel da Costa Andrade, José Teixeira Guimarães e Frei José de Santo António Vilaça.
Extinto em 1834, a igreja monástica passou para a tutela da paróquia enquanto o edifício monástico foi adquirido por particulares. Do antigo mosteiro partiu o movimento de restauração da ordem beneditina portuguesa, através de Frei João de Santa Gertrudes Amorim, que adquiriu o edifício em 1875 e o devolveu à sua primordial função, formando os monges que viriam fundar o mosteiro de São Bento de Singeverga, em 1892, atual casa-mãe da Ordem de São Bento em Portugal.
Com a instauração da República (1910) o mosteiro de Cucujães conheceu segundo processo de extinção e venda. Foi adquirido em 1923 pelo P. José Tomás do Sacramento, que o doou ao bispo de Meliapor (Índia). Nele fundou o seminário das Missões Católicas Ultramarinas, atual seminário da Sociedade Missionária da Boa Nova (SMBN), uma estrutura anexa ao antigo mosteiro beneditino, cuja construção terminou em 1929. Formalmente instituída em 1930, a SMBN assinala este ano 85 anos de vida e de missão.

Visões e perspetivas
A gestão do antigo mosteiro de São Martinho de Cucujães pela SMBN tem permitido salvaguardar o património, outrora pertencente aos beneditinos, do abandono e ruína a que outras casas monásticas foram votadas desde a extinção das ordens religiosas. A excelente situação do edificado deve-se ao desvelo de superiores gerais da SMBN e reitores do seminário que, ao longo de décadas, têm investido na conservação e manutenção do vetusto mosteiro. Esta louvável ação levou a que o edifício monástico fosse entendido pela memória coletiva unicamente como resultante da presença da SMBN e seus membros.
As evocações comemorativas da igreja paroquial de São Martinho de Cucujães, em 2015, foram preenchidas por um programa de eventos que permitiram aproximar à história e memória do antigo mosteiro beneditino os cucujanenses (e não só), que participaram nas atividades movidos pela relação afetiva com o seminário da SMBN ou por simples interesse e curiosidade pelo tema. Esta aproximação foi particularmente sentida no lançamento da monografia "Memórias do antigo mosteiro do Couto de Cucujães na Época Moderna. Artistas e Obras (século XVII a XIX)", da nossa autoria, e das visitas guiadas promovidas. A memória coletiva, fortemente ligada ao seminário da SMBN, enriqueceu-se nesta reaproximação à presença beneditina em Cucujães, perpetuada na Arte e Arquitetura legados. O resultado francamente positivo das evocações comemorativas abriu caminho à realização de outras iniciativas, como o assinalar do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios e das Jornadas Europeias do Património, marcadas sobretudo pelas visitas guiadas. 
No entanto, surgiu a necessidade de aprofundamento desta relação com o legado beneditino, através do seu estudo, divulgação e salvaguarda. Para concretização desses objetivos, é necessário estreitar a ligação entre a equipa que tem vindo a desenvolver as iniciativas – pároco e dois técnicos superiores de História da Arte e Conservação e Restauro –, a Comissão da Fábrica da Igreja da Paróquia de São Martinho de Cucujães e a SMBN. O congregar de esforços investirá a equipa de trabalho de maior solidez e eficácia na ação, abrindo caminho ao aumento do número de efetivos, através da criação de um Grupo de Amigos do Mosteiro de São Martinho de Cucujães, à semelhança do modelo criado para outras unidades monásticas beneditinas (Tibães, Rendufe, Bustelo). 
O avanço com o processo de classificação do antigo mosteiro é outro objetivo essencial permitindo, por um lado, a criação do enquadramento legal necessário para proteger, a longo prazo, o legado artístico e arquitetónico beneditino em Cucujães; por outro, fazer incidir a atenção do poder central – delegado na respetiva tutela – para esse mesmo legado, abrindo caminho à projeção do mosteiro de Cucujães para lá das fronteiras dos concelhos vizinhos.
Outro objetivo fundamental é tornar efetiva a presença do mosteiro de São Martinho de Cucujães no mundo digital, quer através de site próprio, quer nas redes sociais, por forma a permitir um contacto mais rápido e mais próximo a partir de qualquer parte do mundo. Este ponto encontra-se em fase de discussão e está prevista a sua aplicação até meados de Outubro do ano corrente.
Em termos de objetivos futuros (a longo prazo), estão em fase de reflexão a criação de um núcleo museológico nos espaços do antigo mosteiro de Cucujães, contemplando exposição permanente e temporária, e a realização de visitas guiadas de forma regular.
Para concluir, a equipa de trabalho do mosteiro de São Martinho de Cucujães ficou muito grata e honrada com o convite para participar na reunião ocorrida no dia 5 de Maio no mosteiro de São Martinho de Tibães, onde teve oportunidade de escutar e aprender exemplos maduros no estudo, salvaguarda e divulgação do património beneditino. Que desta partilha de conhecimento e experiências se reforcem os laços outrora existentes no seio da Congregação de São Bento de Portugal e que esta rede de apoio seja um estímulo ao cumprimento dos objetivos traçados por todos e cada um em particular.
Eva Trindade Dias

Terminou informando que, no dia 26 de maio, será realizada uma visita guiada ao Mosteiro de Cucujães.

A Associação dos Amigos do Mosteiro de Santo André de Rendufe esteve representada por três elementos, sendo dada voz ao seu Presidente, José Antunes. Começou por mencionar que a Associação foi criada em dois mil e catorze na Conservatória de Braga, com um regulamento interno, tendo sessenta e dois associados que pagam quotas no valor de doze euros/ano, estando a inscrição sujeita a uma joia de cinco euros. São apoiados pela Junta de Freguesia e Câmara Municipal de Amares. A criação do grupo de amigos trouxe vantagens pois permite serem interlocutores diante os órgãos do poder: DRCN, Câmara Municipal, Comissão da Cultura da Assembleia da República e Ministro da Cultura. Considerado Monumento Nacional desde 1943, o estado adquiriu as restantes alas do mosteiro que estavam na posse de um particular em 2012. Foi referida a derrocada em 1960 da abóbada e telhado da igreja, provocando grandes danos na decoração interior. A cerca continua na posse de privados. A Igreja, sendo propriedade do estado, está cedida ao uso paroquial. Sobre o mosteiro, foi editado o livro O processo de extinção e a venda do Mosteiro de Santo André de Rendufe, da autoria de Paulo Oliveira, em 2015. A associação tem como grande objetivo a recuperação do mosteiro. Aproveitou para divulgar a caminhada cultural entre mosteiros: Rendufe, Tibães e Vilar de Frades, numa distância de 30 km. Foi mencionado que as visitas ao Mosteiro de Rendufe foram reduzidas em 2017 porque a Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN) retirou um dos funcionários que acompanhavam os visitantes. Decorriam aos sábados e domingos, durante todo o dia, de junho a setembro, mas agora só se fazem visitas nos fins-de-semana de julho e agosto. O Grupo de Amigos de Rendufe gostaria de colaborar na gestão das visitas, porém precisa de autorização da DRCN.
Mencionou-se que para situações destas se pode seguir o exemplo do município dos Arcos de Valdevez. Este estabeleceu um protocolo com a arquidiocese, decidindo disponibilizar funcionários da Câmara para manter as igrejas abertas.

Por sua vez, o GAMT, representado por nove associados, fez a sua apresentação pela voz da Presidente, Aida Mata, falando da data da sua fundação, em dezembro de 2011. Acrescentou que o Grupo de Amigos do Mosteiro de Tibães nasceu com o espírito de contribuir para a defesa, valorização, dinamização e divulgação do Mosteiro de Tibães e património beneditino em geral. Pensa que é necessário promover uma estreita relação com a território onde está inserido e envolver a comunidade no apoio ao mosteiro, ajudando a resolver os problemas com que se debate para o prosseguimento da sua missão. Neste sentido, ao longo destes seis anos, desenvolveu projetos que enumerou: realização de percursos beneditinos; colaboração na edição de publicações relacionadas com o Mosteiro de Tibães; edição de uma publicação contendo o curso já realizado Conhecer o Mosteiro de Tibães; cooperação com o Mosteiro de Tibães em ações que se ajustaram aos fins do GAMT, podendo citar-se algumas visitas guiadas e conferências; desenvolvimento de tertúlias temáticas para ouvir os habitantes da freguesia com vista à salvaguarda de uma memória coletiva, citando como exemplo a palestra sobre o órgão de tubos do Mosteiro de Tibães; ajuda na localização, inventariação e recuperação de algum espólio do Mosteiro de Tibães disperso pelos mais variados locais e entidades, tendo adquirido recentemente um quadro da galeria dos abades; participação, com atividade própria, no Dia da Freguesia, referindo-se a tertúlias e caminhadas.
A concluir, acrescentou que está já nos horizontes a edição do 1º volume dos Cadernos de Tibães, sobre o Mosteiro de Tibães na Imprensa; o lançamento de programas de voluntariado em áreas definidas pela coordenação do mosteiro; o prosseguimento do estabelecimento de intercâmbios/contactos com outras associações nacionais ou estrangeiras e a continuação de cursos sobre Tibães. Referiu que, como associação que somos, estamos abertos à adesão de todos quantos estejam empenhados em preservar ativa e afetivamente a memória, a presença e o sortilégio do Mosteiro de Tibães.
Falou-se também da problemática da (in)existência de espaços próprios para as associações que sirvam de sede e local de organização de arquivos.
Antes de terminar o encontro, colocou-se a questão: Como trabalhar em conjunto? Que projetos para o futuro, em grupo?
O representante do Mosteiro de Bustelo, Miguel Santos, sugeriu a realização de Viagens com Alma, criando-se para o efeito um passaporte para a rota dos vinte e três mosteiros beneditinos;
Pelo Mosteiro de Cucujães, Eva Dias, propôs visitas guiadas a Cucujães;
O Grupo de Amigos do Mosteiro de Tibães aventou a realização do curso Artes e Ofícios nos Mosteiros Beneditinos. O estudo com três módulos seria repartido pelos três mosteiros, durante 2019/2020 e terminaria com uma publicação.
A próxima reunião dos grupos de amigos dos mosteiros beneditinos ficou agendada para 13 de outubro, pelas 10 horas, em Bustelo.
No final da reunião, cada grupo convidado foi presenteado com um exemplar Conhecer o Mosteiro de Tibães, livro editado pelo GAMT em dezembro de 2017.

Os representantes dos Grupos de Amigos:
Mosteiro de Cucujães / Mosteiro de Bustelo / Mosteiro de Rendufe /Mosteiro de Tibães

Mosteiro de Santo André de Rendufe

Mosteiro de S. Martinho de Cucujães
Mosteiro de S. Miguel de Bustelo
Mosteiro de S. Martinho de Tibães