Nos limiares do mês de fevereiro,
decidimos prosseguir com o projeto de retornarmos à Galiza e visitarmos cenóbios
ainda com vida, animados pelos seus monges em clausura.
Era uma pretensão audaciosa por desejarmos
conduzir, durante dois dias, um grupo de pessoas num itinerário algo extenso. Depois
de algumas pesquisas na Web e de uma viagem de reconhecimento, lá começámos nós
a aventura das inscrições.
E, no dia 27 de maio, pelas 6
horas da manhã, saímos do adro fronteiro ao Mosteiro de São Martinho de Tibães,
passando pela cidade de Braga, e continuámos a nossa jornada em direção à
Galiza.
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1-Chegada a Oseira |
Com cerca de duas horas de
viagem, passámos por San Cristovo de Cea, Ourense, e aproximámo-nos do Mosteiro
de Santa Maria de Oseira, recuperado pelos monges cistercienses em 1929.
Visualizando-o de longe, umas curvas antes da chegada, pudemos apreciar a sua
extraordinária dimensão e o seu enquadramento num vale verdejante. (1a) (1)
Próximos, antes do desembarque,
houve um pequeno despertar para a singularidade arquitetónica da fachada granítica
maneirista do mosteiro e igreja. Também se fez alusão à existência de um pequeno
museu etnográfico privado nas imediações do recinto, resultado de um projeto de
vida de um casal galego.
Observados os nichos da Virgem da
Assunção, São Bernardo e São Bento na fachada da igreja ornamentada com o
escudo antigo de Espanha e flanqueada por duas torres gémeas, dirigimo-nos à
receção do mosteiro. Ao atravessarmos o vestíbulo da portaria, reparámos nas
colunas salomónicas com capitéis coríntios a suster a sacada da varanda central.
(2)
Adquiridos os bilhetes, uma guia
simpática conduziu-nos para uma visita com a durabilidade de aproximadamente
uma hora. (3)
Começámos pelo primeiro de três
claustros, o dos Cavaleiros, e dali tivemos a oportunidade visitar a igreja com
planta de cruz latina, a parte mais importante deste conjunto monumental com
elementos românico/góticos e barrocos, e a antiga sacristia renascentista. (4)
(5) (6) (7) (8)
Atravessámos outros dois claustros:
o renascentista Pináculo, o maior dos três, e o barroco dos Medalhões.
Visitámos a Grande Escadaria Episcopal de Honra com uma decoração muito
marcante dos degraus de estilo barroco. (9) (10) (11)
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12-Mosteiro de Oseira, antiga Sala Capitular |
Passámos por outras dependências
do conjunto monacal como o refeitório, a botica e a antiga sala capitular de
estilo gótico tardio do século XV, com suas quatro colunas torcidas, que se
erguem do chão, como palmeiras e que alguns especialistas supõem ser de
influência manuelina. (12) (13)
Finalizámos na loja do mosteiro
onde se adquiriram livros, licores, pastas de chocolate e outros doces que se produzem
na abadia. (14)
Pensávamos regressar ao autocarro
para continuarmos a viagem, quando a maioria do grupo demonstrou grande vontade
em conhecer o museu etnográfico. E se assim pensou melhor o fez, entrando no
edifício para fazerem uma breve viagem ao passado, observando milhares de
utensílios outrora usados no meio rural campesino.
Dispondo de apenas meia hora,
retornamos ao autocarro e encaminhámo-nos para a vila de Samos. Ali chegados, um
lugar verdejante de uma elevada beleza natural, direcionámo-nos para o pequeno hotel
onde ficaríamos condignamente alojados e recuperaríamos as energias através de
um alegre e agradável almoço de convívio.
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15-Mosteiro de S. Julião de Samos, visita exterior |
O relógio parecia movimentar-se
mais rápido que o pretendido e, num instante, a hora de visitar o Mosteiro de
S. Julião de Samos, reanimado em 1880, velozmente se aproximou. Feita uma
pequena caminhada próxima do calmo rio Sarria para apreciação do vilarejo, reparámos
no aspeto construtivo do mosteiro com as suas paredes em xisto, cuja história abeira
a sua fundação ao século VI, sob a responsabilidade de S. Martinho de Dume. (15a)
(15)
Para aceder à portaria do
mosteiro beneditino, defrontámo-nos com a grandiosa fachada barroca da igreja,
onde pudemos observar os nichos com as imagens de S. Bento e dos patronos da
abadia, S. Julião e Santa Basilisa. Habituados à existência de torres sineiras,
estranhámos a sua ausência revelando-se esta uma opção arquitetónica diferente.
(16) (17)
Encaixados num grupo, demasiado
numeroso, fomos encaminhados por um monge que nos guiou também num percurso de aproximadamente
uma hora para conhecermos o interior do cenóbio.
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19-Mosteiro de Samos, pinturas murais |
Abriram-nos a porta para o amplo,
sóbrio e classicista claustro do P. Feijoo, século XVII-XVIII, considerado
pelas suas dimensões um dos maiores de Espanha. Ao centro, num pedestal,
encontrámos um monumento ao P. Benito Jerónimo Feijoo, considerado o monge mais
ilustre da abadia. No segundo piso do claustro, conseguimos admirar pinturas
murais de artistas contemporâneos, a narrar a vida de S.
Bento, executadas após
a recuperação do incêndio dos anos cinquenta do século passado. (18) (19)
Passámos por um claustro de
menores dimensões, mais vistoso e antigo, o claustro gótico ou das Nereidas, assim
designado devido à sua decoração e existência na zona central do jardim de uma
fonte com o tema das figuras mitológicas gregas. Num dos seus ângulos, pudemos
contemplar uma portada românica, século XII, vestígio das antigas edificações.
Em torno deste claustro girava a vida monástica, permitindo o acesso à cozinha,
refeitório e biblioteca. Foi-nos possível entrar no refeitório de estilo
renascentista, um lugar de refeição e leitura. (20) (21) (22)
Do devastador
incêndio de 1951, provocado por um depósito de álcool, salvaram-se unicamente a
botica, a sacristia de planta octogonal e a igreja barroca de três naves do
século XVIII. A característica luminosidade do templo, de gradeza e sobriedade
clássica, não foi evidente devido ao instante de pluviosidade vivido nesse
momento da visita. (23) (24) (25)
Concluída a
visita ao mosteiro, percorremos um passadiço à procura da capela moçárabe de
Salvador do Cipreste, de finais do século IX, já algo afastada do cenóbio. É o
monumento mais antigo que pertencera outrora à abadia e que se encontra muito
bem conservado. (26) (27)
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28-Mosteiro de Samos, placa evocativa D. António Coelho |
Ao final da
tarde, no termo da missa do peregrino, aconteceu o inesperado convite para
fazer uma visita suplementar a abranger a parte privada dos monges. E algo que
esperançosamente aguardávamos aconteceu ao encontrarmos, junto à porta de uma
cela, a alusão à residência do D. António Coelho, OSB. Este ilustre doutor da
liturgia lecionou na Abadia de Samos entre 1922/26 e, entre 1932/38, dirigiu a paróquia
de Mire de Tibães, fundando os Patronatos e dirigindo obras significativas de
recuperação de parte do Mosteiro de Tibães (igreja, claustro, tribuna,
eletrificação, sinos, claraboia e janelas do salão de residência, cemitério,
estrada da igreja). (28)
Encantados pela
confirmação desta descoberta, retornámos ao hotel onde de novo confraternizámos
com um agradável jantar e recobrámos forças para prosseguir a jornada no dia
seguinte.
Pelas nove
horas da manhã, depois de um simpático pequeno almoço, partimos para a capital
da Ribeira Sacra, Monforte de Lemos, onde ainda nos aguardavam três visitas
pelo património edificado.
A primeira
aconteceu na Torre de Menagem, construção situada entre os séculos XIII e XV. No
alto de uma elevação e dominando as vistas sobre a cidade de Monforte e longínquas
paisagens circundantes, a torre de quatro pisos e 30 metros de altura detinha
em exposição uma parte da sua cronografia a qual cruza com o período da
fundação de Portugal. (29)
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29-Monforte de Lemos, Torre de Menagem e Mosteiro de S. Vicente do Pino |
De seguida, visto
do alto da torre, mesmo ao lado, descobrimos o Mosteiro de S. Vicente do Pino
recuperado das ruínas no século XVII num estilo barroco neoclássico. Este
edifício, adquirido e restaurado pela abadia beneditina de Samos, em 1922, foi
transformado num parador/pousada em 2003, num processo que soube preservar
parte da sua história. Aqui, depois de observar a fachada com o escudo real e a
imagem de S. Bento, pudemos visitar livremente os espaços comuns como o bar,
restaurante e o claustro de três pisos com cinco grandes arcadas. (30) (31)
Antes de
descermos, num trajeto pedonal para o coração da cidade de Monforte, ainda
observámos a fachada renascentista da igreja do mosteiro e o exterior do palácio
dos Condes de Lemos.
Passando pelo memorial que honra
a figura do combativo poeta galego Manuel Maria, chegámos à espaçosa praça onde
se encontra bem enquadrado o Colégio dos Escolápios, conhecido também por o
Escorial Galego. Tivemos uma visita guiada à parte ocupada pelo Colégio de N.ª
S.ª de la Antigua, num percurso interior bastante limitado: parte da escadaria,
claustro maior, pinacoteca e igreja. De entre estes espaços percorridos,
despertou-nos mais à atenção a pinacoteca pelas pinturas expostas e a igreja
com o seu belo altar-mor. (32) (33) (34) (35) (36) (37)
A hora de almoço já tardava.
Encaminhámo-nos para um restaurante com um confortável serviço de menu galego, o
El Hórreo, onde calmamente readquirimos a genica necessária para a viagem de
regresso a casa.
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38-Foto de grupo no claustro do Mosteiro de Oseira |
E, ouvimos comentar: foi uma viagem organizada, divertida e
bem-disposta, num convívio enriquecedor… um feliz espaço de encontro,
aprendizagem e cultura (38)
- Agradecendo a sugestão para
partirmos à descoberta do poeta galego Manuel Maria, acrescentamos aqui um
texto escrito pelo sócio do GAMT, Henrique Barreto Nunes.
Consultar aqui texto de Henrique Barreto Nunes - Galegos no Minho
Sócio nº 2
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1a-Mosteiro de Santa Maria de Oseira, 1929 |
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2-Mosteiro de Santa Maria de Oseira, parte frontal |
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3-Mosteiro de Oseira, aula1 |
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4-Mosteiro de Oseira, claustro dos Cavaleiros |
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5-Mosteiro de Oseira, nave central da igreja |
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6-Mosteiro de Oseira, capela-mor da igreja |
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7-Mosteiro de Oseira, tecto da capela-mor |
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8-Mosteiro de Oseira, rostos de anjos decorativos |
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9-Mosteiro de Oseira, claustro dos Medalhões |
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10-Mosteiro de Oseira, claustro do Pináculo |
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11-Mosteiro de Oseira, Escadaria Episcopal de Honra com decoração barroca |
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13-Mosteiro de Oseira, botica |
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14-Mosteiro de Oseira, produtos da loja |
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15a-Mosteiro de Samos, Monges restauradores |
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16- Mosteiro de Samos, fachada da igreja |
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17-Mosteiro de Samos, fachada noturna da igreja |
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18-Mosteiro de Samos, claustro P. Feijóo |
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19-Mosteiro de Samos, pinturas murais |
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20-Mosteiro de Samos, claustro Nereidas |
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21-Mosteiro de Samos, corredor interior do claustro das Nereidas |
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22-Mosteiro de Samos, refeitorio |
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23-Mosteiro de Samos, sacristia |
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24-Mosteiro de Samos, capela-mor da igreja |
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25-Mosteiro de Samos, tecto da capela-mor |
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26- Samos, capela do Ciprès |
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27- Samos, capela do Ciprès |
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30-Monforte de Lemos, fachada do Parador-Mosteiro de S. Vicente do Pino |
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31-Monforte de Lemos, claustro do Parador-Mosteiro S. Vicente de Pino |
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32-Monforte de Lemos, Colégio N.S. da Antíqua |
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33-Colégio N.S. da Antiqua, fachada da igreja |
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34-Colégio N.S. da Antíqua, altor-mor da igreja |
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35-Colégio N.S. da Antíqua, claustro |
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36-Colégio N.S. da Antíqua, escadaria |
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37-Fundação Real Colégio N. S. Antíqua |
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