Vamos Conhecer a Ruína dos Antigos Engenhos da CERCA


Em 1987, dando satisfação ao que consagram as Cartas e Convenções internacionais respeitantes à conservação e restauro de monumentos e sítios, a pequena equipa que trabalhava, então, no mosteiro de Tibães, definiu uma estratégia de intervenção que passou pelas ações de salvaguarda (limpar, vigiar, proteger, controlar a degradação); pela investigação e estudo da ordem beneditina, do Mosteiro de Tibães e do seu Couto; por um projeto de estudo arqueológico e pela dinamização e abertura ao público dum espaço que, embora em ruína, era um monumento merecedor de ser visto, entendido e respeitado. 

No dia 21, um pouco à imagem do que fizemos há 25 anos, vamos trabalhar na ruína de antigos engenhos da cerca do mosteiro, para os dar a conhecer e dinamizar. Hoje, fruto do projeto de investigação e estudo que encetámos, podemos acrescentar o conhecimento público sobre aquele espaço. 

Sabemos que foram construídos em finais do século XVIII, entre 1796 e 1798, incluídos no grande projeto hidráulico que passou para além da edificação do lago e da abertura de várias minas para o alimentarem, pela construção de uma eficaz rede de retenção e distribuição de água, que recorrendo a poças, prezas, aquedutos de pedra, caleiras, galgueiras e canos regava os campos e fazia mover os diversos engenhos da cerca do mosteiro. Entre eles encontravam-se os da ruína onde agora vamos trabalhar e que o livro do Estado de 1798 descreve deste modo:


Nesta extensão de rota apareceram algumas águas que juntas com as vertentes do Mosteiro fazem uma quantidade considerável, e para se aproveitarem se fez uma grande preza na boca da dita mina, e desta se encaminham as águas por uma caldeira ao engenho de azeite, e Segunda, que de novo se fez ao fundo dos pomares deste Mosteiro. Para este novo engenho se fez uma grande casa, que tem suas paredes rebocadas, janelas, e porta de cantaria, e o emadeiramento com toda a segurança, e se abriram algumas trapeiras pra extração do fumo. Dentro desta casa se armou o engenho de azeite conforme o método de Dollabela[1] com uma grande tulha feita por um lado de perpianho toda lajeada de cantaria; e as paredes forradas de madeira para evitar a corrupção da azeitona; por baixo desta se fez um aqueduto para extração da água ruça tanto da tulha como do engenho: ao outro lado se fez um quarto de madeira para uma azenha de Segunda; que de novo se fez com tal arte, que havendo águas bastantes uma só roda faz trabalhar as pedras de ambos os engenhos; nos quais se puseram de novo todos os trastes necessários.


Também pelo Estado de 1801 sabemos que este engenho de azeite, que era de imprensa, passou a ser de varas, o que obrigou as paredes a serem engrossadas. Na mesma data, a mina que o alimentava foi emparedada. Destas construções e do seu modo de funcionamento, continuaremos a falar no próximo sábado. 

Apareçam !!!


[1] Giovanni Antonio Dalla Bella, nasceu em Pádua, Itália. Era professor de Física Experimental na Universidade de Pádua quando foi convidado pelo Marquês de Pombal (1699-1782) para vir para Portugal, leccionar Física no Colégio Real dos Nobres, que estava então a ser criado em Lisboa. Terminado o ensino científico no Colégio dos Nobres em 1772, foi chamado para a Universidade de Coimbra, quando da reforma dos seus estudos, tendo sido nomeado professor de Física Experimental. Foi-lhe concedido o grau de Doutor em 1773, tendo leccionado na Universidade de Coimbra até à sua jubilação, em 1790. Voltou para Pádua na década de 90, onde veio a falecer por volta de 1823. Apesar da sua área de trabalho ser a Física, desenvolveu diversos estudos sobre a agricultura, tendo estudado a cultura da oliveira e a produção de azeite, em memórias que foram publicadas pela Academia das Ciências de Lisboa.

Sem comentários:

Enviar um comentário