Caminhada: Mosteiro de Tibães – Ponte do Porto
A manhã registava cerca de 1º C e alguma neblina. A igreja do Mosteiro, envolta em andaimes, e o próprio Mosteiro (Tibães) marcaram nosso ponto de encontro e de partida, frente à Porta do Carro. Descemos o terreiro ladeando o esbelto cruzeiro (1804-1807), de “fuste canelado e capitel coríntio, encimado com esfera e cruz e, no pedestal, as armas da Congregação” - monumento nacional desde 1910. Seguimos em direção ao N e logo a Nascente, tomando o percurso do Caminho de S. Bento (da Porta Aberta), em que a sinalética (laranja) bastaria para nos conduzir ao destino.
Os caminhos são rurais, mas já não pelados nem estreitos como noutros tempos. Amiúde novas casas e uma ou outra urbanização. A organização – o GAMT – havia informado que “esta etapa é rica em Património Religioso, plasmado nas diversas igrejas, capelas, alminhas, cruzeiros… dedicadas a diversos oragos e devoções como S. Bento, S. Francisco, S. Sebastião, às Almas...”.
Em área urbana da freguesia de Real o rodopio do trânsito, a estreiteza das vias, o índice sentido e suportado de CO2 fizeram-nos ansiar pelo natural em paisagem e ambiente, mas eis que já nos encontrávamos junto à Capela do Senhor do Bom Sucesso, muito ligada à tradição dos Passos quaresmais. Foi momento de pausa para a conveniente hidratação de caminheiros e, de permeio, para estórias de vivências locais de há meio século: de tabernas, de costumes da garotada, de mulheres e de homens com seus papéis sociais e familiares…
Aliviados um tanto da pressão urbana descrita, passamos pela escultura evocativa dos 500 anos da freguesia de Real e de homenagem aos artesãos e artistas desta terra (inaugurada em 12jul2025), pelo pórtico da antiga Quinta dos Lagos, pela Casa Paroquial (lugar do passal da antiga igreja paroquial e desta, demolida em meados do séc. XX), da Fonte Velha (tipo ‘fonte de mergulho´ e de cronologia medieval), chegamos ao ponto por excelência de visita guiada, percorrendo estes espaços: igreja paroquial de Real e o conjunto envolvente - Mausoléu de S. Frutuoso (séc. VII, estilo visigótico), convento e igreja de S. Francisco (séc. XVIII, estilo barroco), cruzeiro, aqueduto, caminho medieval…
No exterior do adro, os “placards” com as informações de que o nosso trilho para S. Bento da Porta Aberta tem aqui pontos comuns com o trilho dos mosteiros visigótico e beneditino (PR 19 BRG, 14,3 km / 5h00m) e com o dos mosteiros suevo e visigótico (PR 18 BRG, 4,8 km / 1h50m).
Um local muito rico em testemunhos do passado: do séc. VII / Alta Idade Média (Mausoléu / Capela de S. Frutuoso), do séc. séc. XVI (Convento de S. Francisco), do séc. XVIII (Igreja de S. Francisco).
S. Frutuoso foi bispo de Dume e Braga durante a época visigótica. É para Dume que caminhamos. Cerca de um século antes, já o rei suevo Charrarico tinha mandado erigir uma igreja (558), que S. Martinho elevou a sede episcopal, junto à qual fundou um mosteiro.
Este trilho dos mosteiros (suevo e visigótico) “propõe-se ligar estes dois emblemáticos mosteiros da região bracarense”, proporcionando “caminhada serena e de baixa dificuldade, ideal para quem procura aliar património histórico a momentos de contemplação na natureza”. “Nesse território de transição entre o urbano e o rural respira-se história: visigodos, romanos, monges e lavradores deixaram marcas visíveis na paisagem". “No trilho dos mosteiros visigótico e beneditino cada passo é um diálogo entre séculos, da austeridade visigótica à grandiosidade beneditina” – continuamos a ler nos cartazes.
Apesar de alguns de nós declarar cruzar esta freguesia de S. Martinho (Dume) quase diariamente, torna-se bem diferente percorrê-la a pé, ladeando sem pressas a capela de São Sebastião (local do antigo “São Xisto”) e ir ouvindo dicas sobre a capela de S. Lourenço da Ordem e o Caminho do Anel.
Vamos deixando ficar para trás o vale da Ribeira de Castro e a área da Cidade Desportiva (estádio “a Pedreira” e Academia do SCB), a Escola EB 2 e 3 de Palmeira, o Outeiral e o Barreiro de Adaúfe
(designação de lugares), o complexo da igreja paroquial de Navarra e a de freguesia de Crespos, e entramos na parte final com a curva à vista para nosso destino: “a emblemática Ponte do Porto, robusta, em granito, medieval e que permite cruzar o rio Cávado, sem dificuldade – o que fez dela, ao longo do tempo, o ponto de confluência de diversos caminhos de peregrinos para S. Bento da Porta Aberta” (GAMT).
Regressamos ao Mosteiro (de Tibães) onde muitos de nós almoçaram em restaurante local e, por fim, assistir à inauguração da anunciada “Exposição Fotográfica / 50 Anos de Fotografia” em que o seu autor, Miguel Louro (médico e fotógrafo), “se tornou guardião de uma memória coletiva, fixando através da luz e da sombra a essência do mosteiro [Tibães] num período decisivo da sua história [da ruína e do restauro a partir de 1987].
Percorridos cerca de 15 km.
Organização da caminhada e da visita guiada:
Conselho Diretor do GAMT – Grupo de Amigos do Mosteiro de Tibães
Texto e fotos: Silva Manuel / Manuel Duarte / Ver em Silva Manuel
















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