Caminho de São Bento da Porta Aberta no Cávado - 1ª Etapa, 06.abr.2025

De Fão a Barcelos, a 1ª de duas caminhadas pelos Amigos do Mosteiro de Tibães (GAMT).

Inserido no seu calendário de atividades para 2025, realizou-se a primeira de duas caminhadas do GAMT num domingo primaveril por entre antigas vias urbanas e rurais.

Chegados ao icónico templo do Bom Jesus de Fão, cerca de três dezenas de caminheira/o/s sob o comando de duas caminheiras associadas do GAMT, preparamo-nos para a partida visitando o interior desta igreja, exemplo típico dos templos de peregrinação. É um edificado do séc. XVIII, ocupando um espaço outrora de outro templo de inícios do séc. XVII, muito “acarinhado e beneficiado pela família real portuguesa na pessoa do rei D. Carlos I, que se fez Juiz Perpétuo, Patrono e Defensor do mesmo, mandando colocar na sua fachada as armas reais portuguesas”, que se mantêm impactantes, coloridas, garbosas no mesmo local. O interior do templo é em forma de cruz latina com abóbadas de pedra, o altar-mor encimado pela “milagrosa figura do Senhor dos Passos” ou “Senhor de Fão” - encontrando-se naquele momento a ser preparada a boca de cena com o içar de uma armação em arco de madeira para os rituais da semana santa e da Páscoa.

Saímos adro (emblemático) para norte com olhos postos nos edificados daquelas ruas seculares de um núcleo histórico dos séc.s XVI e XVII com S. Paio (de Córdova) santo padroeiro. Passamos junto à capela da Senhora da Lapa (séc. XVIII), de estilo tardo-barroco, visitamos brevemente seu âmago icónico e artístico e já estávamos junto à Pastelaria Clarinhas em gestão de autonomia de caminheiros para um percurso que nos esperava: higiene de banheiro e degustação de “clarinhas”, celebrizadas de entre as “7 maravilhas doces de Portugal” (líamos nas informações publicitárias da casa).

Depressa defrontamos (nosso) rio, ladeado por passeio pedonal que integra a Ecovia do Litoral Norte (2018), ampla rampa de ancoradouro de outros tempos frenético, subimos à Ponte D. Luís Filipe (séc. XIX e IIP – monumento de interesse público) de estrutura metálica assente em apoios graníticos sustentados em estacaria de madeira, passamos para a margem direita e já estávamos, ainda que no mesmo município de Esposende, a caminho de nosso destino – cidade de Barcelos. Tratando-se de um percurso de romeiros (S. Bento e Santiago de Compostela) nada de estranhar a passagem por capelas, igrejas e cruzeiros que o ladeavam, bem como referências toponímicas a barcos, barqueiros, água (lago), calçadas, travessas, quintas, náutico, “praso”, reguengo, lodeiro, souto, cruzeiro, rio, moinhos…

Ainda em Gemeses (freguesia) “mergulhamos” em Barca do Lago, com o amplo rio “rei e senhor”, e um povoado ribeirinho outrora pujante. Sua capela é uma construção do séc. XVIII, modificada em 1930, de “estilo simples e de inspiração neoclássica”, batizada de Nossa Senhora do Lago, sucedendo à anterior designação de Santa Maria do Lago.
Em plena primavera e em dia soalheiro (após pluviosos), nossas vistas deleitavam-se com os verdes e amarelos dos prados, campos e quintais, e as cores da paixão de quaresma. Foram ficando para trás isto e mais aquilo, como as modernas instalações do Centro Náutico de Gemeses, esta e aquela quinta, esta e aquela travessa qualquer coisa. As datas de edificados rurais também não nos iam escapando, curiosamente predominantes do séc. XIX (1824, 1838, 1875…). Palmilhada a Ponte Nova, estávamos já a ladear a Capela de S. Cirilo (um santo oriental), construção datada de 1673, com um pequeno e baixo púlpito em granito no frontal direito, e depois um cruzeiro “rebolido” de 1838.

Chegados ao centro de Perelhal, era hora de aliviar as mochilas de nossos almoços. Tínhamos vencido cerca de metade do percurso. Não podíamos deixar o local sem entrar na Capela do Alívio (1875), junto à estrada (Barcelos-Prado). Pela rua do “Praso de Reguengo”, o lado exterior de uma gateira de adega (ou de cortes de gado) transformada num pequeno nicho com a imagem de S. Bento, em jeito de umas alminhas e daquele modo. Antes havíamos sido alertados para um marco da Casa de Bragança na margem pedonal de uma rua (P.e Gomes da Costa).
Agora em território de Mariz, avisos sobre licenças para cães (GNR), um plano anual de exploração (caça) de uma associação de Creixomil, um cartaz sobre uma sessão de teatro de comédia em três atos (ocorrida no início do ano), informação sobre fogos florestais, intervenção de limpeza de carga combustível junto a estrada, anúncio de um “cortejo de madeira e oferendas em prol da igreja paroquial” (São Tiago de Creixomil) muito recente. Outro “Aviso” mas já em domínios da união de freguesias de Barcelos, Vila Boa, Vila Frescainha (S. Martinho e S. Pedro).

E já nos encontrávamos perante a Igreja Matriz e as ruínas do Paço Ducal (cidade de Barcelos). Cartazes de um “Tríduo de peregrinação a cavalo”, de uma “Paixão de Cristo encenada”, de uma via sacra na Franqueira, de um pedido de ofertas para obras de conservação pelo Conselho Económico de Santa Maria Maior. E o “Muzeu Arqueológico” no Paço Ducal com um manancial de testemunhos de edificados de diversos locais e tempos: um marco da Casa de Bragança do séc. XVII (D. João, duque 8º, depois rei D. João IV), arcazes e campas tumulares, colunas e capitéis, menir, ornatos disto e daquilo, legendados, com predominância do século XVIII, mas também de XIII e XIV.

Seguimos caminho em direção ao centro citadino atual: era imperioso visitar a Torre Medieval a servir de posto de turismo e albergando exposições de artesanato de figurado local (“Mostra de arte barrista”, “Exposição ”Minho, minh’Alma”), e subir ao panorâmico terraço para ter a bela cidade cá em baixo e o rodopio de cidadãos e turistas, e os sons de festa de concertinas e de cantares alegres de domingo, “que aqui é sempre uma festa”.
Pelos espaços pedonais lá estavam os do teatro e afins: “Telhados de Vidro”, “Jonas”, “Os Sonhos do Tom”, de música “Jazz ao Largo” e os arcos das numerosas freguesias deste amplo município anunciando as grandiosas festas que se aproximam – Festas das Cruzes.

E sempre à volta daquele belo e caraterístico templo de arquitetura barroca - Igreja do Senhor da Cruz ou Igreja das Cruzes -, de planta centrada em cruz grega recoberto por cúpulas (IIP desde 1958), que as pequenas e grandes festividades acontecem, bem como as concorridas feiras deste município.
Também assim foi, ao fim da tarde deste domingo, com grupos de concertinas, de cantares, de dançadores e de um número significativo de público a assistir e a ouvir ruas fora.
Percorridos cerca de 21 km.
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Caminhada organizada pelo GAMT (Grupo de Amigos do Mosteiro de Tibães) e liderada por duas das suas associadas.

Texto e a maioria das fotos de Silva Manuel / Manuel Duarte / Ver em Silva Manuel























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