40º Percurso Beneditino - "Por terras de Amarante", 22.fev.2025

Visitar o Mosteiro de S. Salvador de Travanca, Mosteiro de São Martinho de Mancelos, Igreja e convento de São Gonçalo e ouvir falar de Amadeo de Souza-Cardoso, Agustina Bessa-Luís e Aquilino Ribeiro.

O GAMT – Grupo de Amigos do Mosteiro de São Martinho de Tibães – através da sua Direção havia agendado para esta data uma digressão “por terras amarantinas e bater à porta de antigas casas de monges beneditinos, agostinhos e dominicanos.

”Num sábado de inverno de sol e de chuva, tolerante, em transporte rodoviário “completo”, partimos para terras do Vale do Tâmega, em direção ao Mosteiro de São Salvador de Travanca, um dos vinte e cinco locais, de entre cinquenta e oito no total, da Rota do Românico deste vale (Tâmega). Nesta e na visita seguinte fomos conduzidos por um guia desta Rota. De acordo com prévia informação escrita da organização da visita, este Mosteiro estava “associado à linhagem dos Gascos, a que pertence Egas Moniz, com uma construção balizada entre 1008 e 1066 constituiu um dos mais poderosos institutos monásticos da terra de Sousa durante a Idade Média, onde, ainda hoje, impressiona a torre isolada, considerada uma das mais elevadas torres medievais portuguesas, com o seu ar militar, puramente simbólico, e o seu portal ricamente lavrado.


“Fundado em tempos anteriores ao século XII, a sua comunidade deve ter seguido a regra de São Frutuoso, que abandonou, depois do Concílio de Coyanza (1055), para seguir a Regra Beneditina que seguiu até 1034, data da sua extinção. O seu poder monástico repercutiu-se no controlo económico, político e religioso da região atravessando com notoriedade económica os tempos medievais e vivendo com extraordinário vigor construtivo e reconstrutivo os séculos XVI a XIX.



“A Igreja de Travanca destaca-se no panorama do românico português. A sua monumentalidade é-nos não só confirmada pela sua planta de três naves, mas também pela presença da torre, assim como pelos motivos escultóricos que aqui se abrigam. Além disso, trata-se de um conjunto monumental que, pela sua implantação e aparato, expressa bem a economia agrícola que o desenvolveu e as sucessivas pretensões dos homens a ele ligados ao longo da história.”

A manhã decorria serenamente e, prestes para a partida, a líder GAMT deu voz à relação umbilical de Agustina (de Bessa-Luiz) com a sua Vila Meã de infância e juventude.

Esperava-nos São Martinho de Mancelos e ali chegámos. Seu Mosteiro estava “ligado à linhagem senhorial dos Portocarreiros e depois dos Fonsecas, com origens num cenóbio primitivo anterior ao século XII, posteriormente integrado na ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, terá sido construído no século XIII, período arquitetónico evidente no portal principal. Este é abrigado pela galilé, o que explica o seu bom estado de conservação. Os capitéis foram elegantemente esculpidos e o tímpano é sustentado por duas figuras ao modo de atlantes.

“A galilé e a torre, entre outros elementos, como as ameias, conferem monumentalidade à igreja, profundamente modificada nos séculos posteriores à sua edificação. Destes tempos posteriores, especificamente dos séculos XVII e XVIII, é o importante acervo de pinturas existentes na igreja, que só por si justificam uma visita.”

Seguimos para o centro da cidade de Amarante, “brindados” por uma surpreendente carga pluviosa que nos acompanhou até ao local do almoço.

Repastados e libertos da intempérie deslocámo-nos, bem ali perto, para a famosa ponte de S. Gonçalo, amarantina também em preito ao seu afamado arquiteto bracarense (Carlos Amarante), onde, sobre seu tabuleiro foram lidos textos de assinalados autores locais, recordadas lendas e aquelas memórias  bélicas da 2ª invasão francesa, de refregas prolongadas por estratagemas de ataques e de defesas, de 14 dias (abril-maio de 1809), de um e de ouro lado entre as forças do marechal Soult e plano de ataque de  De Laborde e  do marechal Silveira, dos quatro  barris de pólvora que na madrugada de 2 de maio quebrou o reduto resistente luso, numa ação bélica desesperada de os napoleónicos abrirem passagem e salvação.

Nesta fase a visita era conduzida pela organização do GAMT e de seus convidados, e tendo os visitantes maior liberdade de movimento, de observação e de vivência de memórias.


“A Igreja e Convento de S. Gonçalo, de estilos renascentista, maneirista e barroco, fundado em 1540, pelo rei D. João III, acolhe a estátua tumular de S. Gonçalo, de calcário policromado, onde, durante séculos e seguindo a tradição, as solteiras que se cansavam de ser solteiras reclamavam ao santo “Porque não casais as novas? / Que mal te fizeram elas?” – as mesmas vozes que, pela Primavera contavam pelo cuco os anos que viveram sozinhas “Ó cuco da ramalheira, quantos anos me dás de solteira?

“(…) e falemos da magnífica fachada, virada ao rio, com portal-retábulo, a toda a altura, de três registos, o primeiro de influência renascentista, o segundo maneirista e o último barroco. O portal apresenta nítidas semelhanças com os portais da igreja de S. Domingos, em Viana dos Castelo, a igreja de S. Martinho Pinário, em Santiago de Compostela e a Colegiada de Santiago, em Cangas, Pontevedra. Fachada onde numa decoração luxuriante, entre arcos e colunas, medalhões, nichos e cartelas, nos aparecem as imagens de S. Domingos, de S. Francisco de Assis, de S. Gonçalo, de S. Pedro Mártir, de S. Tomás e de nossa Senhora do Rosário e na loggia, a chamada Varanda dos Reis, e as esculturas régias de D. João III, D. Sebastião, D. Henrique e Filipe I.


“No interior do templo (…) entre abóbadas de berço com pinturas em trompe l’oeil e retábulos maneiristas, barrocos e neoclássicos e (…) os afamados diabos de marante, o casal de chifrudos que lado a lado com os anjos e santos daquele convento – mesmo com os caracteres sexuais expostos e pouco ou nada tendo de sagrado – conquistaram a estima de monges e do povo. Queimados durante as invasões francesas, foram, a pedido do povo, substituídos por réplicas que, após percursos atribulados, podem ser vistos no Museu Amadeo Souza-Cardoso, instalado nos claustros do convento.”


A visita ao Museu não se realizou, por motivo de obras.

As referências amarantinas a seus maiores estavam à vista ou eram evocadas: a Amadeo de Souza-Cardoso, a Teixeira de Pascoaes, a Alexandre Pinheiro Torres, a Agustina de Bessa Luís… Um “placard” a assinalar o “Prémio Eduardo Teixeira Pinto 2024”, concurso de fotografia, 9ª edição, outro a evocar “Espigueiros Levantamento fotográfico continuado dos celeiros elevados em Portugal”, com muitos participantes, registos sobre monumentos, como sobre a da fonte (e igreja) de S. Gonçalo, de estilo renascentista em cantaria pontuada (…) com pedra de armas da Ordem Dominicana ao centro e remate em frontão interrompido pela pedra de armas real de D. João III. Bica circular encimada pela data de 1545 (…) tanque retangular (…)”, ou as de vitrines com figurados comestíveis de “quilhõezinhos de São Gonçalo (…) bolos de trigo que se vendem na feira [do santo], em Amarante. Assemelham-se aos do carneiro (…). Já não se lhes liga superstição: as raparigas pedem que lhos comprem”: “Se fordes ao São Gonçalo / trazei-me um sangonçalinho / se não puderdes co’ele grande / trazei-me um pequenininho”. 

Não poucos fizemos jus às doçuras de Amarante, pendurando caixinhas coloridas, recheadas, enlaçadas, para degustar, partilhar, recordar, viver.

Tão rico, convivial e prazeroso dia, graças ao GAMT e a sua alma mater!

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Composição de texto e fotos de Manuel Duarte / Ver em Silva Manuel









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