Caminho de São Bento da Porta Aberta no Cávado - 3ª Etapa, 22.nov.2025

Caminhada: Mosteiro de Tibães – Ponte do Porto


A manhã registava cerca de 1º C e alguma neblina. A igreja do Mosteiro, envolta em andaimes, e o próprio Mosteiro (Tibães) marcaram nosso ponto de encontro e de partida, frente à Porta do Carro. Descemos o terreiro ladeando o esbelto cruzeiro (1804-1807), de “fuste canelado e capitel coríntio, encimado com esfera e cruz e, no pedestal, as armas da Congregação” - monumento nacional desde 1910. Seguimos em direção ao N e logo a Nascente, tomando o percurso do Caminho de S. Bento (da Porta Aberta), em que a sinalética (laranja) bastaria para nos conduzir ao destino.


Os caminhos são rurais, mas já não pelados nem estreitos como noutros tempos. Amiúde novas casas e uma ou outra urbanização. A organização – o GAMT – havia informado que “esta etapa é rica em Património Religioso, plasmado nas diversas igrejas, capelas, alminhas, cruzeiros… dedicadas a diversos oragos e devoções como S. Bento, S. Francisco, S. Sebastião, às Almas...”. 

Em área urbana da freguesia de Real o rodopio do trânsito, a estreiteza das vias, o índice sentido e suportado de CO2 fizeram-nos ansiar pelo natural em paisagem e ambiente, mas eis que já nos encontrávamos junto à Capela do Senhor do Bom Sucesso, muito ligada à tradição dos Passos quaresmais. Foi momento de pausa para a conveniente hidratação de caminheiros e, de permeio, para estórias de vivências locais de há meio século: de tabernas, de costumes da garotada, de mulheres e de homens com seus papéis sociais e familiares…

Aliviados um tanto da pressão urbana descrita, passamos pela escultura evocativa dos 500 anos da freguesia de Real e de homenagem aos artesãos e artistas desta terra (inaugurada em 12jul2025), pelo pórtico da antiga Quinta dos Lagos, pela Casa Paroquial (lugar do passal da antiga igreja paroquial e desta, demolida em meados do séc. XX), da Fonte Velha (tipo ‘fonte de mergulho´ e de cronologia medieval), chegamos ao ponto por excelência de visita guiada, percorrendo estes espaços: igreja paroquial de Real e o conjunto envolvente - Mausoléu de S. Frutuoso (séc. VII, estilo visigótico), convento e igreja de S. Francisco (séc. XVIII, estilo barroco), cruzeiro, aqueduto, caminho medieval…


No exterior do adro, os “placards” com as informações de que o nosso trilho para S. Bento da Porta Aberta tem aqui pontos comuns com o trilho dos mosteiros visigótico e beneditino (PR 19 BRG, 14,3 km / 5h00m) e com o dos mosteiros suevo e visigótico (PR 18 BRG, 4,8 km / 1h50m).


Um local muito rico em testemunhos do passado: do séc. VII / Alta Idade Média (Mausoléu / Capela de S. Frutuoso), do séc. séc. XVI (Convento de S. Francisco), do séc. XVIII (Igreja de S. Francisco).

S. Frutuoso foi bispo de Dume e Braga durante a época visigótica. É para Dume que caminhamos. Cerca de um século antes, já o rei suevo Charrarico tinha mandado erigir uma igreja (558), que S. Martinho elevou a sede episcopal, junto à qual fundou um mosteiro.

Este trilho dos mosteiros (suevo e visigótico) “propõe-se ligar estes dois emblemáticos mosteiros da região bracarense”, proporcionando “caminhada serena e de baixa dificuldade, ideal para quem procura aliar património histórico a momentos de contemplação na natureza”. “Nesse território de transição entre o urbano e o rural respira-se história: visigodos, romanos, monges e lavradores deixaram marcas visíveis na paisagem". “No trilho dos mosteiros visigótico e beneditino cada passo é um diálogo entre séculos, da austeridade visigótica à grandiosidade beneditina” – continuamos a ler nos cartazes.

Apesar de alguns de nós declarar cruzar esta freguesia de S. Martinho (Dume) quase diariamente, torna-se bem diferente percorrê-la a pé, ladeando sem pressas a capela de São Sebastião (local do antigo “São Xisto”) e ir ouvindo dicas sobre a capela de S. Lourenço da Ordem e o Caminho do Anel.

Vamos deixando ficar para trás o vale da Ribeira de Castro e a área da Cidade Desportiva (estádio “a Pedreira” e Academia do SCB), a Escola EB 2 e 3 de Palmeira, o Outeiral e o Barreiro de Adaúfe


(designação de lugares), o complexo da igreja paroquial de Navarra e a de freguesia de Crespos, e entramos na parte final com a curva à vista para nosso destino: “a emblemática Ponte do Porto, robusta, em granito, medieval e que permite cruzar o rio Cávado, sem dificuldade – o que fez dela, ao longo do tempo, o ponto de confluência de diversos caminhos de peregrinos para S. Bento da Porta Aberta” (GAMT).

Regressamos ao Mosteiro (de Tibães) onde muitos de nós almoçaram em restaurante local e, por fim, assistir à inauguração da anunciada “Exposição Fotográfica / 50 Anos de Fotografia” em que o seu autor, Miguel Louro (médico e fotógrafo), “se tornou guardião de uma memória coletiva, fixando através da luz e da sombra a essência do mosteiro [Tibães] num período decisivo da sua história [da ruína e do restauro a partir de 1987].

Percorridos cerca de 15 km.


Organização da caminhada e da visita guiada:

Conselho Diretor do GAMT – Grupo de Amigos do Mosteiro de Tibães


Texto e fotos: Silva Manuel / Manuel Duarte / Ver em Silva Manuel








































Ao Encontro de Patrimónios - "Louriçal - Livraria do Mondego - Lorvão", 08.nov.2025

 1ª Visita - Mosteiro do Santíssimo Sacramento do Louriçal  (vila do Louriçal, município de Pombal, distrito de Leiria)


Maria de Brito (madre Maria do Lado), uma irmã da Ordem Terceira Franciscana, funda nesta sua terra natal o Recolhimento das Religiosas Escravas do Santíssimo Sacramento (Recolhimento de Terceiras), decorria o ano de 1631 (nasceu a 24 de junho de 1605). Em 1688 o Recolhimento transforma-se em Convento com o apoio régio de D. Pedro II.

Em 1690 é iniciada a construção do convento sob o traçado inicial do arquiteto régio João Antunes. Por “dezoito longos anos” as obras decorreram, finalizando-se em 1708 já com o empenho do príncipe D. João V que tomou a seu cargo as obras como forma de agradecimento por cura de doença. Em 1709 é inaugurado o convento e dá-se a fusão das Escravas do Santíssimo Sacramento com as Clarissas, passando à denominação de Clarissas do Desagravo.

O templo é construído entre 1726 e 1739 sob a autoria arquitetónica do Irmão Manuel Pereira (Congregação do Oratório). De “escala monumental, constitui um valioso exemplar da arquitetura religiosa barroca da época áurea de D. João V”. “Denota uma austera sobriedade exterior, em contraste com a dinâmica e os reflexos luminosos do seu interior, para os quais contribuem decisivamente o seu revestimento azulejar”. Num diálogo harmonioso de técnicas artísticas, destacam-se os painéis a Paixão de Cristo, a vida de S. Francisco de Assis, a Virgem Maria e a vida de Santa Clara. Estes painéis são atribuídos à oficina de Valentim de Almeida (Lisboa). Deram sua contribuição para a construção dos retábulos, Carlos Mardel (desenho) e António Bellini de Pádua (escultura). 

Aqui vivem em clausura irmãs clarissas, sendo o único que se mantém com a família religiosa de origem. Para isso muitos sacrifícios foram pedidos a esta comunidade, nomeadamente que comprassem o que era seu (1927). 

Na Capela do Recolhimento visitamos a exposição “o trabalho no Convento do Louriçal”, a qual se destina dar a conhecer mais sobre a vida das Clarissas do Louriçal (lema: “ora et labora” / reza e trabalha).

Em 2009 comemoraram-se os 300 anos de história (1709-2009) deste mosteiro que em 1939 foi classificado como Monumento Nacional. 

No exterior, o imponente Aqueduto do Louriçal, mandado construir por D. João V, para assegurar o abastecimento de água ao mosteiro. Tem uma extensão de 350m com 35 arcos de volta perfeita. “Esta majestosa obra hidráulica setecentista deve o seu traço ao Irmão Manuel Pereira, da Congregação do Oratório, especialista em arquitetura, a quem o Monarca confiava para as suas obras régias. O Parque Verde local com cerca de 5.500 m2 (inaugurado em 14/agosto/2024), o Parque Natural Rico Sofia com cerca de 22.000 m2 (2024), o Mercado do Peixe (obra de 1987 e reabilitada em 2023), o Centro de Saúde, a Igreja Matriz de S. Tiago, o Pelourinho, a Fonte do Areal, as rotas PR9/PBL/FIG e PR7/PBR/FIG (rotas entre mosteiros / arrozais do Louriçal), anúncios de viagens a Luzes de Natal e Senhora da Peneda (dez.2025), aos Picos da Europa (abril.2026), um processo de licenciamento de uma churrasqueira, venda de refeições, serviços de limpeza…


Fotos e texto (com base em informações do GAMT, na audição da visita, nos registos públicos disponíveis no local, na Wikipédia, na gravação da visita guiada da RTP Play de 26/06/2019) 


Silva Manuel / Manuel Duarte / Ver em Silva Manuel


 

 2ª Visita - Mosteiro de Santa Maria de Lorvão (freguesia de Lorvão, município de Penacova, distrito de Coimbra)


Saídos do Louriçal (Pombal-Leiria) rumamos a nordeste passando pela “livraria mais antiga do mundo”, um monumento natural local, de elevado interesse científico, didático e paisagístico (com cerca de 400 milhões de anos) que integra a Rede Nacional de Áreas Protegidas nas margens do rio Mondego). Encontrávamo-nos já no município de Penacova: uma visita-passagem, em razão do confinamento local e da hora do almoço (restaurante junto à ponte J. L. Castro / Largo dos Cantoneiros).

“O Mosteiro de Lorvão, e nomeadamente a sua antiga hospedaria, foi local escolhido pelo Duque de Wellington para pernoitar uma noite com a sua comitiva antes de montar o seu quartel-general no Convento do Bussaco, enquanto as suas tropas, seguindo as suas indicações, se deslocavam para a Serra do Bussaco (Guerra Peninsular, 1807-1814).

Hoje está enriquecido com um centro interpretativo (disponível o gerador QR), um espaço cultural cujo objetivo é divulgar a história e a importância deste monumento emblemático, agora uma imagem parcial da grandiosidade de outrora. Propõe recuperar as histórias das comunidades religiosas que aqui habitavam. As religiosas procuravam reforçar a devoção dos crentes e não poupavam no enriquecimento dos seus interiores com belas imagens e ricos utensílios. O Mosteiro de Lorvão modelou o território e a vida das suas populações ao longo dos tempos – lemos nos painéis informativos.

Entramos pela portaria de cima (a menor ficava junto aos aposentos da abadessa), local de contacto com o exterior e receção. De cada lado situavam-se os locutórios, espaços para as monjas poderem receber suas visitas. No exterior duas esculturas laterais das Santas Rainhas e encimadas ao centro pela de S. Bernardo (escultura mutilada). Na parede interior do lado direito vestígios da antiga torre medieval (séc. XII).


“O claustro é o coração do mosteiro. Em sua volta se ordenavam inicialmente todas as construções monásticas. Simboliza o centro do universo com a fonte no cruzamento das quatro ruas orientadas segundo os pontos cardeais. Data de 1597. As capelas mais antigas são de 1601-03. Integra-se no tipo designado por Renascença Coimbrã, sendo dos primeiros claustros de Portugal a compreender o novo espírito de completa fruição do espaço, sem barreiras separadoras entre as galerias e o pátio central.

“Ao longo do séc. XVII encheu-se de capelas devocionais, mandadas fazer pelas religiosas, atingindo o número de treze, o que lhe confere lugar único entre os claustros portugueses”.
Os primeiros monges que aqui habitaram viveram sob um regime de regra mista (princípios de várias regras), buscando orientação espiritual. Só em meados do séc. XI Lorvão se tornou num mosteiro beneditino (Regra de S. Bento), sendo dedicado a S. Mamede.


No séc. XII foi sujeito a importantes remodelações. Transformou-se num dos principais centros de

produção de manuscritos iluminados (iluminuras), a par do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Do “scriptorium” de Lorvão destacam-se o “Livro das Aves” (final do reinado de D. Afonso Henriques) e o “Comentário do Apocalipse” (reinado de D. Sancho I). Em 2015 a UNESCO distingue este emblemático manuscrito como “Memória do Mundo”, um dos “mais belos documentos da civilização medieval ocidental”.
No início do séc. XIII o mosteiro passou para a Ordem de Cister e, ao mesmo tempo, a mosteiro feminino, agora sob invocação de Santa Maria. Esta profunda transformação deveu-se à infanta Santa Teresa de Portugal (filha de D. Sancho I e mulher de Afonso IX de Leão) que, no regresso a Portugal, viveu neste mosteiro até à sua morte e que se encontra sepultada na igreja juntamente com sua irmã, a Santa Sancha de Portugal.
O mosteiro atinge grande esplendor com as abadessas D. Catarina de Eça, bisneta de D. Pedro e de D. Inês de Castro (1472-1521) e D. Bernarda de Lencastre (1560-1564). A partir de D. Margarida da Silveira (1621-1624) o cargo de abadessa passou de vitalício a trienal.
Depois das guerras liberais e com a extinção das ordens religiosas, também este mosteiro entrou em acentuado declínio (a última freira deste mosteiro faleceu em 1887).

A 3 de maio de 2014, após cerca de 25 anos do início da reparação, foi inaugurado o órgão ibérico de dupla face (único), de dimensões e sonoridade fora do comum.
Em 2018 é anunciado o projeto de transformação das duas alas do mosteiro em unidade hoteleira, que até 2012 foi hospital psiquiátrico.
Regressamos a Braga já com umas embalagens de docinhos de Lorvão e de outras recordações.


Organização da viagem e das visitas guiadas: GAMT – Grupo de Amigos do Mosteiro de Tibães

Fotos e texto (com base em informações do GAMT, na audição da visita, nos registos públicos disponíveis no local, na net…)


Silva Manuel / Manuel Duarte / Ver em Silva Manuel



Fotos 1ª Visita
















Fotos 2ª Visita















42º Percurso Beneditino - "Tarouca - Ucanha - Salzedas", 20.set.2025

 1ª Visita - Mosteiro de S. João de Tarouca (Lamego)


Iniciamos a visita pela igreja do mosteiro. De acordo com as informações disponíveis no local,  as origens desta igreja remontam a 1152 e a sua sagração deu-se em 1169 com D. João Peculiar, arcebispo de Braga, e pelos bispos de Lamego, Porto e Viseu – estávamos nos primórdios da nacionalidade portuguesa e ainda dentro do período de espera do reconhecimento papal. 

“Possui uma arquitetura de base românica e gótica, embora se notem progressivas alterações feitas ao longo dos tempos, principalmente ao nível da fachada”. “O interior da igreja é deslumbrante (…) a qualidade do altar-mor Barroco e dos demais (…), o soberbo cadeiral com sessenta lugares, o órgão de tubos e os quatro painéis de azulejos com cenas alusivas à Ordem de Cister. Do restante núcleo museológico (…) a magnífica escultura em granito policromado da Virgem Maria com o Menino, o túmulo do Conde D. Pedro, filho bastardo de D. Dinis e o espólio que ornamenta a sacristia (pintura a óleo com a vida de S. Bernardo, tem com pintura mural, paredes embelezadas por azulejos, um relicário e um contador.”

No antigo celeiro monástico – Casa da Tulha – funciona o Centro Interpretativo do sítio, justificando a procura de quem visita a região do Douro e do Varosa.

O Mosteiro terá sido o primeiro mosteiro da Ordem de Cister em Portugal, mas dele restam ruínas, “que nos permitem apreciar o antigo sistema hidráulico e algumas edificações, de que são exemplos a casa da tulha, o moinho e três capelas: Santa Catarina, Santo António e Santa Umbelina.”

O complexo está classificado, justamente, como Monumento Nacional.

Quem demanda trilhos e cultiva o gosto e o usufruto da natureza, dispõe do GR 64 – o Caminho dos Monges. “É o 1º percurso pedestre da Grande Rota associado diretamente aos núcleos arquitetónicos da Ordem Monástica de Cister, estando implementado no coração dos territórios vinhateiros do Douro e do


Vale Távora-Varosa. Este corredor verde estende-se ao longo do Rio Varosa (afluente do Rio Douro) e percorre os municípios de Tarouca e Lamego. (…) o último troço (…) o Caminho dos Monges percorre os terrenos sobranceiros à margem esquerda do rio Douro, onde, a partir do ano de 1142 os Monges de Cister plantaram os primeiros vinhedos junto à foz do rio Varosa. Trata-se da primeira quinta do Douro, hoje Casa de Varais, a produzir o chamado ‘vinho cheirante de Lamego’, atualmente denominado Vinho do Porto.”

Dados técnicos do percurso:

Cotas: 584 m no início em Tarouca e 75 m no final (Pontão/rio Douro) 

1134 m acumulado positivo

41 km de distância

Linear

Cerca de 12 h.

Dificuldade: moderado


Texto e fotos de Silva Manuel / Manuel Duarte / Ver em Silva Manuel


2ª Visita - Ponte Fortificada de Ucanha

Estacionamos no parque, lado esquerdo do rio, descemos por entre o casario da povoação em direção à ponte e à torre. Percecionamos o conjunto construído e a área ribeirinha, mas a sala de um restaurante local estava reservada e aguardava-nos. O resultado foi de, não de fartar à abade, mas de deleitar de monge, justamente. 

“Conjunto datado do séc. XII, considerado o ex-libris da freguesia e do concelho, está classificado como Monumento Nacional [desde 1910].
“Ponte fortificada, única em Portugal, testemunha a organização senhorial medieval, numa época em que a economia dominical se baseava na cobrança de direitos e foros. Os dois elementos foram mandados erigir pelo Abade D. Fernando, para proteção da entrada para as chamadas Terras do Mosteiro de Salzedas. Deduz-se que a povoação se tenha desenvolvido devido à obrigatoriedade de passagem na ponte.
“A torre terá sido elevada a partir do momento em que o convento de Salzedas adquiriu os direitos de portagem da mesma. 
“A partir de 1504 a portagem foi extinta e, apesar de o tabuleiro continuar a ser o meio privilegiado de passagem na zona, o monumento, em particular a torre, perdeu grande parte da sua função inicial.
“Na década de 30 do séc. XX, a Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) empreendeu o restauro do conjunto de forma à valorização e preservação deste importante monumento” – lê-se na placa, junto.

A torre, de planta quadrada, tem vinte metros de altura e dez de cada lado da base, dotada ao cimo com quatro mata-cães e na base exterior a seguinte inscrição: “Esta obra mandou fazer D. Fernando, abade de Salzedas, em 1465”.
Num dos seus três pavimentos, como centro interpretativo, está exposta a biografia de um filho dileto desta terra, José Leite de Vasconcelos Cardoso Pereira de Melo (Ucanha: 7/08/1858 – Campolide/Lx: 17/05/1941). Nasceu no seu seio de uma nobre mas arruinada família beirã de tradições fidalgas. Até aos 16 anos viveu num ambiente dominado pela influência de dois importantes mosteiros cistercienses, o de S. João de Tarouca e o de Salzedas, estimulando-lhe nomeadamente o gosto pelos estudos clássicos. Igualmente marcado pelas “agrestes serranias da Beira”, Leite de Vasconcelos congregou em si o melhor de dois mundos: a paixão pela erudição e uma curiosidade insaciável a que se aliava uma enorme dedicação e capacidade de trabalho. A sua condição de beirão modelou-lhe o caráter e configurou-lhe o destino, dando ao jovem José Leite a força e firmeza necessárias para, nas condições adversas da sua família empobrecida, ter a energia que lhe permitiu trabalhar para sustentar a casa e estudar para sustentar o espírito – lê-se na exposição.

“Eu nasci nas agrestes serranias
Da nevoenta, legendária Beira
Lá onde o lobo a uivar consome os dias
E cresce e brilha a rubra flor da urgueira” (JLV)
Ucanha foi vila e sede de concelho (até 1836), integrou o concelho de Mondim da Beira (até 1896), foi anexada ao de Armamar para depois ser transferida para o atual município de Tarouca, agregando-se à freguesia de Gouviães na União de Freguesias de Gouviães e Ucanha – resultado quiçá de sua tendência de evolução populacional negativa. Apesar de fazer parte da Região Demarcada de Távora-Varosa (especializada em vinho espumante) e não da Região Demarcada do Douro, Ucanha faz parte da “Rota das Aldeias Vinhateiras do Douro”.

A agricultura, especialmente a vitivinicultura, é a principal fonte de subsistência, tendo a baga de sabugueiro um peso significativo na economia familiar, de que o pequeno comércio local reflete e harmoniza.


Texto e fotos de Silva Manuel / Manuel Duarte / Ver em Silva Manuel


3ª Visita - Mosteiro de Santa Maria de Salzedas

“O nome Salzedas provém do latim Saliceta, que significa salgueiral, vegetação muito abundante nas margens do rio Varosa, que ali corre. É de povoamento muito antigo e por aqui passaram Lusitanos e Romanos, Suevos e Visigodos e, mais tarde, Muçulmanos. 

“A génese da sua história remonta ao lugar a que hoje se dá o nome de Abadia Velha e a sua povoação cresceu em torno do Convento de Santa Maria de Salzedas.
“O grande ex-libris é o Mosteiro Cisterciense de Santa Maria de Salzedas mandado erigir por D. Teresa Afonso, terceira filha de D. Afonso Henriques e mulher de Egas Moniz, aio do 1º rei.
“De estrutura românica, completamente remodelado no séc. XVIII, a sua igreja foi sagrada no séc. XIII, representa um dos mais ricos e emblemáticos mosteiros de Portugal” – lê-se na placa dirigida ao visitante do monumento.
“Mosteiro de raiz medieval, composto por igreja, sacristia, claustros e residência paroquial. Assenta no meio do casario que se formou em seu redor, a sua importância está marcada por vários estilos decorativos, desde o românico até ao Barroco, que foi acumulando ao longo dos séculos.
“Os inícios da sua construção datam de meados do séc. XII. No entanto foi sujeito a diversas campanhas de obras ao longo dos séculos, sobretudo no tempo de D. João III. Contudo, nos inícios do séc. XVII e XVIII, o conjunto foi objeto da mais profunda remodelação, da qual resultou a atual fachada da igreja, a reforma estilística do seu interior e a reconstrução dos claustros. Como consequência (…) apenas é possível visualizar uma pequena capela absidal localizada no braço norte do transepto.”

Tal como em S. João de Tarouca, estamos perante um núcleo religioso masculino que remonta igualmente às raízes da nacionalidade:
. construção do mosteiro (anos): 1155; da igreja: 1168; sagração da igreja e conclusão da construção do complexo: 1225. Noutro registo local lê-se que a construção do mosteiro se inicia em janeiro de 1168 (com o patrocínio de Teresa Afonso, segunda esposa de Egas Moniz).
O couto inicial, também doado por Teresa Afonso, designava-se de Argeriz, sendo mais tarde denominado de Salzeda e, posteriormente, de Salzedas. 
Chegou a ser um dos mais ricos mosteiros portugueses, detentor de uma biblioteca notável.
E continuamos a ver, a ouvir, a ler e a registar:
Igreja de três naves de dimensões descomunais; fachada setecentista inacabada; retábulo de estilo neoclássico; barroco de estilo nacional; duas telas atribuídas a Vasco Fernandes (Grão Vasco); dois túmulos medievais.
“Graças às recentes intervenções do Ministério da Cultura, podemos apreciar toda a sua evolução arquitetural, desde os arcos quebrados e colunas medievais até às últimas remodelações executadas na Idade Moderna.” 
Em frente à igreja do mosteiro situa-se o Bairro do Quelho – antiga judiaria, que corresponde ao primitivo aglomerado urbano gerado em redor do mosteiro medieval: conjunto maioritariamente habitacional, com marcas de ruralidade evidenciadas por alguns pisos térreos com a função de curro para animais, sobrepostos pelos pisos residenciais, espaço público muito reduzido e ruas apertadas e sinuosas.
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A Ordem Cisterciense foi fundada em França (Citeaux/Borgonha) em 1098 por monges saídos do mosteiro cluniacense de Molesme, liderados por Roberto de Champanhe (abade de  Molesme), sendo um dos principais impulsionadores Estêvão de Harding, abade entre 1109 e 1123 e promotor da “Carta da Caridade” – documento em que figuram as primeiras regras da Ordem, bem como a noção de conversos e as ideias base da exploração agrícola cisterciense.
Bernardo de Claraval, abade entre 1120 e 1158, foi uma das figuras centrais da Ordem, exercendo um forte poder religioso e político. 
Deu-se uma enorme expansão da Ordem pela Europa, traduzida na fundação de centenas de mosteiros, tendo como um dos seus pilares base a existência de uma abadia mãe que conduz as abadias congéneres a uma boa prática monacal.
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Para quem cultiva o caminhar, para além do GR 64 (Caminho dos Monges) que por aqui passa, um outro cartaz a anunciar o Trilho de S. Pedro (Salzedas).
Ponto de partida junto ao mosteiro (Salzedas), encontrando-se a capela de S. Pedro (local de culto) a meia distância.
Distância do trilho: 2,78 km
Caraterística: circular
Duração: cerca de 40 minutos
Altitude mín. e máx.: 512 – 603 m
. Um pequeno cartaz a anunciar as Festas de S. Miguel, em Tarouca, entre os dias 19 e 29 de 2025
. Um outro a informar de um Encontro de Antigos Alunos da Escola Primária de Salzedas, com convívio, jogos e brincadeiras de antigamente e cantares da Associação Cultural de Salzedas – no de 5 de outubro de 2025.
. Do outro lado da rua deste largo do mosteiro e esquina para o Bairro do Quelho, num bom edifício em altura e pedra aparelhada, a memória esbatida de que ali, no rés-do-chão, houve comércio de Mercearia e Louças.

Organização da viagem e das visitas guiadas: GAMT – Direção do Grupo de Amigos do Mosteiro de Tibães (Braga)
Texto e fotos de Silva Manuel / Manuel Duarte / Ver em Silva Manuel


Fotos 1ª Visita
















Fotos 2ª Visita













Fotos 3ª Visita