Os Percursos Beneditinos voltaram com
a primavera, realizando-se, em meados de abril de dois mil e dezasseis, o décimo
primeiro percurso.
Continuando na rota da memória
beneditina, desta vez fomos visitar o Mosteiro de Bustelo, um dos mosteiros da
congregação beneditina portuguesa, fundado em tempos medievais e reconstruído
nos séculos XVII e XVIII, no concelho de Penafiel. Cumprindo a dimensão
multidisciplinar dos percursos, tivemos também uma visita guiada ao Museu
Municipal de Penafiel e visitámos a Igreja da Misericórdia.
A manhã de sábado, algo chuvosa, mostrava-se
pouco convidativa para viagens, mas à hora da partida todos se apresentaram,
ansiosos por novas descobertas. Chegados a Penafiel, onde outros participantes
nos esperavam, o tempo já prometia consideráveis melhorias, parecendo premiar os
que se sentiam impelidos pela riqueza patrimonial dos espaços a visitar.
Museu Municipal de Penafiel |
Depois de uma curta pausa para café, o
Museu Municipal de Penafiel, instalado no palacete Pereira do Lago, recentemente
renovado, em pleno centro histórico, esperava por nós com as suas coleções que
nos contam a história local, a arqueologia e a etnografia.
Entrados, percorremos cinco salas
temáticas da exposição permanente dedicadas à identidade, ao território, à arqueologia,
aos ofícios, à terra e água, com um discurso elucidativo e atual. Lográmos
apreciar o espólio arqueológico proveniente das intervenções efetuadas no
concelho. Ficámos a saber, através de uma guia atenta e capaz, que a coleção de
etnografia tem sido objeto de recolhas regulares, com vista a atender a
situações críticas de perda de bens móveis relacionados com as temáticas
agrícolas, os ofícios, a atividade piscatória e de transporte fluvial e as
festas.
Igreja da Misericórdia |
Terminada esta primeira visita do dia
que, entre outras lembranças, nos transportou para uma memória relativamente
recente do mundo rural e que tende a desaparecer ao ritmo da rápida evolução tecnológica,
dirigimo-nos para a Igreja da Misericórdia de Penafiel, situada a dois passos
do museu, onde uma jovem guia nos aguardava. O itinerário contemplava todo o complexo associado à
igreja, incluindo o atual museu de arte sacra.
A igreja, com construção datada entre
1620 e 1631, é um templo revelador de uma linguagem maneirista, de uma só nave
e capela-mor, coberta por abóbada de berço com caixotões numa composição
seiscentista. O frontispício inscreve-se nas denominadas fachadas-retábulos. O
alçado da torre sineira, setecentista, termina numa cúpula bulbiforme,
revestida por azulejos. A fachada apresenta, por cima do portal, um janelão com
a imagem de Nossa Senhora do Amparo e, no frontão, uma moldura com as armas da
Santa Casa da Misericórdia.
Cadeiral Barroco |
Como estava programado, pelas treze
horas, fizemos uma pausa para almoçamos uns saborosos rojões por um preço simpático, fruindo do tempo disponível
para convivermos, num restaurante já perto do Mosteiro do Bustelo.
Cruzeiro Monacal |
Passadas duas horas de intervalo,
dirigimo-nos ao mosteiro. Esperava-nos um grupo de voluntários que se uniu para
criar uma espécie de salvaguarda do bem cultural que representa o Mosteiro de
Bustelo e assegura a sua abertura
ao público, possibilitando o acesso à igreja, coro alto e claustro.
Logo no momento da chegada, deparamos
com um cruzeiro monacal em tudo semelhante ao do Mosteiro de Tibães, apenas de
dimensões ligeiramente mais reduzidas. A vista do conjunto arquitetónico é de alguma
forma grandiosa.
Vencida a escadaria de acesso ao
espaçoso adro, deparamo-nos com a portaria a ameaçar ruina, ostentando um
esplendoroso brasão beneditino esculpido em pedra, e a fachada da igreja. As
obras de remodelação do antigo mosteiro românico de Bustelo datam de 1633 e
foram anteriores às da igreja.
Entrando na igreja, verificámos que
possui uma planta cruciforme e nave única com teto de pedra em abóbada de berço.
Do conjunto, sobressai a capela-mor com o seu deslumbrante retábulo do
altar-mor em talha dourada de feição joanina e que evidencia já renovações que
levariam ao rococó. A meio de cada par de colunas do retábulo figuram o
padroeiro S. Miguel e o patriarca S. Bento. Na nave da igreja existem quatro
altares, dois do lado do Evangelho e dois do lado da Epístola.
Igreja do Mosteiro de Bustelo |
De seguida, circulamos pela sacristia,
onde, para além do arcaz e oratório, se destaca um curioso pilar central de
madeira que parece ajudar a suportar o peso da talha que forra o teto e termina
numa base em forma de mesa/escrivaninha.
Dirigimo-nos depois ao claustro
ajardinado, com um chafariz central ornamentado com o herói mitológico Hércules, e passamos
pelo refeitório que conserva ainda elementos icónicos, como o púlpito do
leitor, sendo atualmente usado como de sede à Associação Jovens de Bustelo.
Cadeiral em Talha do Coro Alto |
Subimos ao piso superior para aceder
ao coro alto, com um encantador cadeiral em talha e telas a óleo descritivas da
vida de São Bento e Santa Escolástica. Ainda no coro, existem duas varandas,
uma delas destinada a um órgão de tubos que se encontra na igreja da
Misericórdia, em Penafiel, como já foi referido.
Antes de descermos, tivemos a
oportunidade de visitar uma pequena área museológica criada no piso superior do
claustro e em parte da ala conventual norte, ficando esses espaços
exclusivamente destinados à evocação da memória do mosteiro.
Infelizmente
e como inevitavelmente se esperava, foi possível constatar que o grande inimigo
destes espaços patrimoniais é, para além do abandono a que foram votados, o mau
estado das coberturas e vãos que arruínam progressivamente tetos, soalhos e
paredes.
Para
terminar, averbamos um voto de louvor ao grupo de voluntários do Museu do Mosteiro
de Bustelo que faz os impossíveis pela salvaguarda do “seu” património. Perante
uma atitude como a desta associação, não podemos deixar de desejar que mil
exemplos como este floresçam para bem do legado patrimonial.
Sócio do GAMT nº 2
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