Como prescrevia o cerimonial beneditino, na noite de Natal,
ornava-se e iluminava-se a igreja com a maior preciosidade possível.
Para os ofícios das matinas, missa e laudes acendiam-se, para além das seis
velas do altar-mor, em todas as capelas, altares da igreja e todos os
mais lugares, o maior número possível de velas e brandões das tocheiras, de
modo a que toda a igreja ficasse primorosamente iluminada. Os
retábulos que tinham estado, durante o Advento, parcialmente cobertos com
cortinas roxas ou azuis são descobertos após as matinas da Vigília de Natal e,
na paramentaria, a cor branca passa a substituir as anteriores. Para o turíbulo
comprava-se grande quantidade de incenso e para a caçoula de barro, aquecida
por fogareiro a carvão, adquiriam-se toda a variedade de perfumes como pivetes,
pastilhas, aromáticas como o beijoim e o cravo-da-Índia, e águas de rosas e de
flor. Também as alfaias e altares eram rociadas com águas
odoríferas. Testemunho da preciosidade da festa é a compra, em 1719, de seis
tigelas e seis pratos da Índia, por 600 réis, para se purificar os
dedos no dia de Natal e ainda, em 1765, da compra e douramento de 20
arandelas de bronze para a capela – mor, por 21.000 réis. Também a música era
chamada para honrar a festa. Para além das matinas e laudes serem cantadas e
acompanhadas a órgão, o mosteiro pagava a músicos oriundos do exterior
para tanger e cantar. Ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX, harpistas,
contraltos tenores e triples (Segundo o dicionário de Raphael Bluteau, “das
tres vozes que fazem boa consonância na Musica, Baxo, Tenor e Tiple, esta é a
terceira e a mais alta”), enriqueciam os ofícios com a sua arte.
Às
nove horas da noite, duas horas antes do horário normal, tocavam os sinos - um
repique com todos os sinos e o dobrar do sino maior –para as matinas e o
sacristão mandava iluminar a igreja e abrir as portas, para que o povo
assistisse a toda a festa. Após o ofício, inteiramente cantado por todo o
convento na capela-mor, começava a missa da meia-noite, a matutinal desse dia,
realizada pelo abade com a maior solenidade. No altar, para além de todas as
alfaias requeridas para o acto, colocava-se, ao canto da parte do
evangelho, uma imagem do Menino Jesus deitado em bercinho ornado de
flores artificiais, ladeada por dois ou quatro castiçais pequenos com
velas. Durante a missa, e após a turificação, o Menino, depois de ser beijado
no pé por todo o convento, era dado a beijar ao povo pelo celebrante que, no
fim, com a mesma imagem fazia o sinal da cruz sobre o mesmo povo.
Mas a festa de Natal, não se limitava a este dia. Ela começava a 17 de Dezembro com as 7 antífonas maiores do Ó, assim chamadas porque têm início com esse vocativo, durante as quais era oferecido, pelo padre cantor, 1 ramo – o ramo de Ós – aos monges que levantavam a antífona; passava pela vigília de natal, dia, em que os monges, depois do ofício da prima, se dirigiam à cela do abade, para lhe apresentarem os votos de boas festas, e acabava em Janeiro, após as três oitavas, nas quais se destacavamos festejos do 1º de Janeiro e do dia de reis.
Nesta época, o rigor do jejum, apesar de ser tempo dele, era
aliviado. Perus e leitões aparecem na mesa dos monges, que se deliciam, também,
com sobremesa farta, onde abundam os variados doces secos e de calda; os
farelórios – nome genérico para doces feitos de farinha e açúcar, como cavacas,
fartens, etc. -, e os confeites, onde gastam montantes elevados que podem
rondar a média de 50.000 réis. A mero exemplo,informamos que só para
o natal de 1720, compram 6 dúzias de morgados; 6 dúzias de luas; 12 dúzias de
queijadinhas; 12 dúzias de massapães; 12 dúzias de cavacas e 10 arráteis de
fartens de açúcar.
Nesta quadra, e à imagem das prendas dos dias de hoje, os monges e
os trabalhadores permanentes do mosteiro eram obsequiados, com uma colação de
natal que, nos século XVIII e XIX, era de 120 réis para os moços mais novos,
como era o rapaz dos bois, e de 240 réis para os restantes trabalhadores,
incluindo a lavadeira e de 2.400 réis para cada monge, com excepção da do abade
geral e dos antigos gerais que recebiam 6.400 e 4.800 réis respectivamente.
E já que estamos a falar de prendas, penso que,hoje, o Mosteiro de
Tibães bem merece e precisa, urgentemente, de uma.
Se falasse, o mosteiro pediria, com toda a certeza, que lhe fizessem obras de
manutenção nos telhados, para que a chuva deixasse de o incomodar.
Aida Mata
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