Ao Encontro de Patrimónios - Por terras da Galiza, 14.jun.2025

1ª Visita

Inserido no seu plano de atividades para 2025, realizou-se a viagem de visita ao conjunto de Santa Mariña de Augas Santas, ao Mosteiro de Xunqueira de Ambía e ao casco histórico de Allariz e sua igreja barroca de San Benito.
Por motivos de alteração de disponibilidade, o programa da tarde foi antecipado para a manhã e o da manhã para a tarde.
Desse jeito iniciamos pelo casco histórico de Allariz. Aparcamos junto à panorâmica Ponte Vilanova, românica/medieval, e, com a igreja de Santa Maria (de Vilanova) no percurso imediato (uma das quatro igrejas locais de origem românica), nosso escopo tinha começado.

Continuamos subindo a par do rio Arnoia, observamos do exterior a igreja de Santiago Apóstolo, de Allariz, românica (séc. XII, Ordem de Malta), com sua altiva torre sineira, fachada e retábulo barrocos (séc. XVIII), “Praza Maior” e “Casa do Concello” e depressa nos encontrávamos junto ao complexo escultórico do Boi, icónico, e de histórias antanhas da colónia judia extramuros, rua de Entreascercas. Foi do confronto entre judeus e cristãos em contexto de procissão do “Corpus Christi”, em 1317, que surgiu esta tradição festiva, a mais enraizada de Allariz – o “Boi de Corpus” - que leva setecentos anos de vida comunitária. E, continuando por pisos lajeados, ladeamos partes da antiga muralha, e eis que nos encontrávamos no Campo da Barreira onde decorria uma feira e já com algum alvoroço da “Festa do Boi 25”, início aprazado para a tarde deste sábado, dia 14, e que se prolongará até ao dia 22. Por entre tendas de roupas

e de ferramentas à venda, visitamos a igreja San Bieito/Benito (séc. XVIII/XIX, em local de anterior capela do séc. XIII), patrono da Vila e Sé desde 1900, apreciamos seus dois “hermosos cruceiros” na sua frente e o exterior do imponente convento das Clarissas e museu de arte sacra. Os cruzeiros datam de 1579 e constituem a parte dos quatro da vila que foram erigidos para esconjurar epidemias da peste, tendo sido trasladados, os dois deste Campo da Barreira, das igrejas de San Pedro e de Santo Estevo (Estêvão) em 1827.
Retornamos, descendo, com passagens pelos “Museo da Moda” e “Museo Galego do Xoguete” (brinquedo), e sempre perante construções antigas com varandas proeminentes em madeira, floridas umas tantas, de retábulos, de abundantes declarações de tabernas e do comércio às famosas festas em curso, de alertas para o “Xa cheira a boi!” e para os locais assinalados de saídas do animal, de fotos ampliadas de um trabalho cinematográfico local efetuado. Chegamos novamente aos largos espaços verdes urbanos do Arnoia, percorrendo-os, para retomar viagem de outra visita.
Sem esquecer que Allariz teve origem a partir de um castro local sobre o rio Arnoia e era local cruzado por caminhos estratégicos. Seu topónimo remonta ao séc VI, comarca da Vila Aliaricii do período suevo. Afonso VI (séc. XI) fez levantar o castelo e muralhas. Afonso VII (1154) concede-lhe foral real e converte-a em Vila. Sancho IV concede-lhe mais importância apelidando-a de “Chave do Reino da Galiza”. Aqui viveu e foi educado Afonso X, o Sábio. No séc. XV Allariz teve participação nas revoltas “Irmandiñas”. Guerras com Portugal que continuam no séc. XVIII. Ocupada por tropas napoleónicas nos inícios do séc. XIX. Desmantelamento do Castelo e parte das muralhas nesse século. Vive momentos de prosperidade cerca de 1900, mas de decadência económica e demográfica entretanto. Declarada “Conjunto Histórico Artístico” em 1971, e "Prémio Europeu de Urbanismo".
Um "Museo do Coiro" nas antigas instalações da fábrica de curtumes "família Nogueiras" nesta área ribeirinha do Arnoia. Com hortas ecológicas e de compostagem comunitária. Com ajudas europeias para a execução de seu Plano de Recuperação, Transformação e Resiliência na gestão de reservas da biosfera. Notabiliza-se igualmente com os seus concursos anuais de jardins, tal como a nossa histórica e pioneira Ponte de Lima.

Texto e fotos de Silva Manuel / Manuel Duarte / Ver em Silva Manuel

2ª Visita

Xunqueira de Ambía, igualmente na província de Orense, é um município que se situa no sudeste, comarca de Allariz-Maceda. Seu povoado, a cerca de 534 m sobre o nível do mar, tem o mesmo rio Arnoia a seus pés.
Vestígios de presença humana remontam ao Megalítico. Da cultura castreja destacam-se os castros de Cerdeira e Medorra. Um miliário testemunha vestígio de uma calçada romana.

Segundo uma tradição local, a Virgem apareceu num juncal (daí o nome da povoação) no séc. IV. A ermida erigida deu lugar ao “Monasterio de Santa María” entre os séc.s VIII a X. A igreja românica é de 1164 e sob a Ordem dos Agostinhos alcança seu maior esplendor. Seus elementos arquitetónicos vão do românico ao barroco. É um templo de três naves, havendo nas laterais um falso trifório, como no “Monasterio de Augas Santas” e de Aciveiro. O claustro, de grande interesse, é de estilo gótico (séc. XVI). Junto, a casa abacial. No interior destaca-se o órgão do séc. XVIII, de construtor santiaguês, cujas caraterísticas de musicalidade e de adequação acústica ao edifício elevam-no a um dos melhores órgãos de Espanha.
Suas festividades:
. Festa em honra de S. Pedro Mártir de Verona;
. Corpus Christi;
. Festa da Virgem da Assunção (padroeira);
. Ciclo de Órgão e Música Antiga com entrada livre (meses de agosto e de setembro);
. Festa da Arroutada em junho (jogos populares, confraternização e animação musical).

Texto e fotos de Silva Manuel / Manuel Duarte / Ver em Silva Manuel

3ª Visita 

Conjunto de “Santa Mariña de Augas Santas”, paróquia de Augas Santas, município de Allariz.
Um local repleto de vestígios do passado: de magia, mistério e lenda. Perto do espaço ocupado pelo santuário situava-se uma povoação galaico-romana – Armea. Olíbrio, prefeito romano, encantou-se, perdidamente de amores, pela órfã pastora Marina. Mas a jovem, recusando-se a abandonar a doutrina cristã, sofreu numerosos martírios. Ao terceira dia já estava recuperada das calamidades sofridas. Torturada de formas diversas (presa, açoitada com peças de ferro, atada e lançada a um poço, salvou-a S. Pedro das incandescências no forno). Por fim foi decapitada e a sua cabeça rolou três vezes, de cujos locais brotaram mananciais de água cristalina. Isto terá ocorrido, segundo afirmam, por volta do ano 139 (d.c.), tendo-se perenizado parte de alegados vestígios: um enterramento megalítico, um possível forno crematório, uma “pileta” (pequena piscina) que não impediram os Templários de ali construir a Basílica de Ascensão. As águas que se retêm nestas pias ou banhos de Santa Maria – a Pioca da Santa –, quiçá um antigo lagar romano, são tidas por milagrosas.

Antes do santuário terá existido um templo anterior (séc. VIII ou IX), no qual se descobriu o sepulcro da santa e sobre o qual se construiu o mausoléu ou camarim da santa, que se situa no interior do santuário. Este é uma igreja românica do séc. XII, constituída por três naves e falso trifório, como nas de Xunqueira e de Aciveiro. Junto a ela se situa o “Pazo de Verán do Bispo” (atual casa paroquial), o tanque da decapitação (reconstruído no séc. XIX) e a suposta primeira das três fontes no interior da capela de São Tomé (um pouco mais abaixo).
Esta igreja, declarada monumento nacional em 1931, está inserida num povoado de interessante arquitetura, o qual (povoado) foi classificado como conjunto histórico na década de 60 (séc. XX).

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Visitas organizadas pelo GAMT – Grupo de Amigos do Mosteiro de Tibães
Texto e fotos de Silva Manuel / Manuel Duarte / Ver em Silva Manuel


Fotos 1ª Visita










Fotos 2ª Visita















Fotos 3ª Visita