O monge São Rosendo, figura proeminente da expansão beneditina na Europa, foi lema para dois itinerários GAMT: Santo Tirso e Galiza.
Na visita ao Mosteiro de Santo Tirso apercebemo-nos da devoção a São Rosendo e falámos do seu nascimento no ano de 907 em S. Miguel do Couto, concelho de Santo Tirso.
Segundo o beneditino Frei Geraldo Coelho Dias, São Rosendo foi uma das figuras centrais do monaquismo do norte de Portugal e da Galiza a par de S. Frutuoso e S. Martinho de Dume. Fundou o Mosteiro de S. Salvador de Celanova, dinamizador da cultura e o crescimento dos reinos cristãos no limiar do ano mil, além de participar na fundação de outros cenóbios.
Prosseguindo então na senda de S. Rosendo, o 26º Percurso Beneditino GAMT conduziu-nos até à Galiza, começando pelo simpático município de Celanova, no dia 20 de julho do ano em curso.
|
Mosteiro de S. Salvador de Celanova |
Pelas onze horas, orientados por uma guia do posto de turismo local, iniciámos a visita ao imponente Mosteiro de S. Salvador de Celanova, outrora um grande centro monástico. Construído em tempos da
alta idade média, viu alterada a sua fisionomia arquitetónica durante os séculos XVI, XVII e XVIII seguindo as linguagens renascentistas, barrocas e neoclássicas, presentes na igreja, coro alto, sacristia, claustros e alas conventuais.
Depois de apreciada a fachada principal em linha reta, virada à espairecida Praça Maior, entrámos para o claustro velho de colunas compactas, coberto por atrativa abóbada de arquitetura gótica. No piso superior surgem portas-sacadas ricamente emolduradas num estilo barroco e uma grande variedade de gárgulas por onde escoam as águas pluviais.
|
Altar-mor da igreja do Mosteiro |
Numa igreja magnífica, para além de muitos outros detalhes, os visitantes deliciaram-se com o retábulo barroco da capela-mor de finais do século XVII profusamente decorado com ícones religiosos. Estranharam a existência de um coro baixo central, formando uma grande sala retangular, com um cadeiral magnífico, onde se narra a vida de S. Bento e S. Rosendo, defendido por grades e portas primorosamente esculpidas de imagens.
Num processo contínuo, passámos pela ampla sacristia decorada num tom róseo com altar e extensos arcazes. Subimos ao espaçoso coro alto com um magnífico órgão de tubos que proporciona frequentes momentos musicais em concertos memoráveis e descemos de novo ao piso térreo para visitar uma pequena capela pré-românica situada na antiga horta do mosteiro.
Perdura, dos tempos medievais, esta capela de S. Miguel, monumento nacional desde 1923, o exemplo mais paradigmático e completo da chamada arquitetura moçárabe, com a estrutura cruciforme, os três espaços interiores separados mediante arcos de ferradura, cachorros em forma de rolos, ajimezes, modelos usados também em S. Frutuoso de Montélios em Real, Braga.
Conhecida a arte e memória beneditina presente no Mosteiro de Celanova, rumámos de seguida a Vilanova dos Infantes para conhecer a igreja paroquial do século XVII.
|
Igreja Vilanova dos Infantes |
Ali, esperava-nos outro guia, o padre Dom António. No interior da igreja, para além de outros pormenores, apresentou-nos um Cristo crucificado em madeira talhada, de origem românica, que poderá ser procedente do desaparecido mosteiro feminino de Santa Maria, fundado pela mãe de San Rosendo e que terá existido naquele local. Falou-nos também da lenda, o cristal com a imagem de Nossa Senhora, achada por um lavrador no século XVII. A designada Virgem de Cristal, uma réplica depois do roubo de 2015, mede apenas dois centímetros e está colocada dentro de una peça de cristal maciço em forma de ovo.
O delicioso almoço no formato de piquenique estava marcado para o logradouro do santuário edificado no séc. XVIII em honra a Nossa Senhora do Cristal. Como é habitual, foi farto, muito variado de saborosos petiscos e acompanhado por boa disposição. A findar o repasto, de uma forma muito breve, tivemos a oportunidade de visitar a igreja, edifício barroco, onde acabava de terminar uma cerimónia nupcial.
Após o rápido “banquete”, fomos ao reencontro de outra memória - a Via Nova, ou Geira, cujo percurso português tão bem conhecemos com a visita ao Museu da Geira, no nosso 19º Percurso, em julho do ano transato.
|
Centro de Interpretação Aquae Querquennae |
Dirigimo-nos ao Centro de Interpretação Aquae Querquennae-Vía Nova, ponto de informação sobre o complexo arqueológico romano Aquis Querquennis situado em Porto Quintela, a oito quilómetros de Bande. Recepcionados por uma simpática guia que nos fez a necessária contextualização da civilização romana, percorremos calmamente o centro interpretativo, bem organizado e com bastante informação.
A escassos metros fica o acampamento romano, ocupado entre o último quartel do século I e meados do século II, construído, provavelmente, para vigiar a Via XVIII ou Via Nova, que comunicava Bracara Augusta e Astúrica Augusta. Aqui, apenas realizámos uma visita individual, pois o espaço não estava totalmente visitável devido ao nível ainda elevado da água da barragem das Conchas que infelizmente cobre as ruínas durante boa parte do ano.
|
Igreja visigótica de Santa Comba de Bande |
Mas o tempo sobrante não foi dado como perdido. Numa previsão de Plano B, fizemos um diminuto
desvio na viagem de regresso para visitar a pequena igreja visigótica de Santa Comba de Bande, a única desta época que se conserva na sua integridade. Trata-se de um edifico de um mosteiro pré-românico aonde se trouxeram as relíquias de São Torcuato, discípulo do Apóstolo Santiago.
Gentilmente, a pessoa responsável pela chave acedeu ao pedido de visita e abriu-nos a porta para podermos desfrutar de uma visão singular do seu interior. Este, num formato retangular, termina numa capela-mor cuja abóbada contém pinturas murais. Foi-nos confidenciado que, junto à cabeceira, do lado esquerdo, a dependência lateral seria uma cela do período de uso monástico do templo.
E lá retornamos a casa, um pouco mais tarde que o previsto, pois o entusiasmo pelas descobertas era muito grande, não podendo faltar os imprescindíveis registos fotográficos destes momentos únicos para a maioria destes verdadeiros amigos que nos acompanharam nesta primeira viagem por terras galegas.
Sócio do GAMT nº 2
|
Claustro do Mosteiro |
|
Abóbada de arquitetura gótica |
|
Claustro Mosteiro de S. Salvador |
|
Sacristia da Igreja do Mosteiro |
|
Órgão de tubos |
|
Mosteiro de S. Salvador (traseiras) |
|
Capela de S. Miguel - exterior |
|
Interior Capela de S. Miguel |
|
Igreja Vilanova dos Infantes (interior) |
|
Cristo românico |
|
Igreja Virgem do Cristal (exterior) |
|
Igreja Virgem do Cristal (interior) |
|
Imagem da Virgem do cristal |
|
Introdução à exposição no Centro de Interpretação Aquae Querquennae |
|
Exposição a civilização romana |
|
Acampamento romano |
|
Igreja visigótica de Santa Comba de Bande (traseira) |
|
Capela-mor igreja visigótica de Santa Comba de Bande |
|
Teto da Capela-mor igreja visigótica de Santa Comba de Bande |
|
Piquenique |
|
Foto de grupo |
Sem comentários:
Enviar um comentário