O Mosteiro de São Martinho de Tibães tem vindo a oferecer
temas de conversa e descobertas que vão aguçando e alimentando a curiosidade de
pessoas que de alguma forma se interessam pelo património. Nestas digressões sobre
este tesouro do património português, encontramos pessoas implicadas na sua
difusão e que, por isso, sentem a necessidade de pôr em comum os seus autênticos
e importantes achados.
Vem esta reflexão a propósito do curso desenvolvido no
Mosteiro de Tibães, sob iniciativa do GAMT e em colaboração com a DRCN, no
presente ano, ao longo dos meses de fevereiro, março, abril e maio.
Seguindo o modelo de conferência em que vários especialistas
tiveram a oportunidade de expor os seus conhecimentos decorrentes das suas
aturadas investigações, abordaram-se temas modulares relacionados com a
desamortização dos bens das ordens religiosas: Primeiros sinais na Congregação
Beneditina Portuguesa, proferida por Dr. Paulo Oliveira, Mestre em História
Contemporânea, área de Igreja e Sociedade; A extinção do Mosteiro de Tibães,
por Dr. Paulo Oliveira; A Desamortização em Portugal, por Aurélio de Oliveira,
Professor Catedrático convidado do ISMAI; Prática religiosa e social, por
Professor José Carlos Peixoto, Mestre em Educação; Monteiro's, Marques's e
companhias, por Aida Mata, investigadora do Mosteiro de Tibães e em história
beneditina.
Terminou este curso no formato de mesa redonda, com a
presença de alguns intervenientes no processo de aquisição do Mosteiro de
Tibães, onde se discutiu O Renascer de um Património. Por entre a cinquentena
de participantes, surgiram questões, levantadas por opinados participantes,
relacionadas com a recuperação e manutenção do vasto património do mosteiro que
inclui a cerca, o edificado e o seu escasso, mas não menos valioso, espólio.
Também em 2014, o GAMT produziu um projeto didático similar, que
decorreu durante o ano de 2015, com o curso Conhecer o Mosteiro de Tibães -
séculos XVII e XVIII. Naquele conjunto de matérias abordaram-se aspetos
artísticos, culturais e vivenciais de um espaço – o Mosteiro, o Couto de Tibães
e a comunidade dos beneditinos.
Com o material produzido para esse curso foi editada, em
2017, em parceria com a Câmara Municipal de Braga/Revista Bracara Augusta e o
apoio mecenático de empresas e entidades da região, uma monografia. Aproveitamos
para lembrar aqui os nossos mecenas, em jeito de renovado agradecimento, pelo
empenho demonstrado no apoio à investigação histórica: as empresas Enermeter -
Sistemas de Medição Lda., Posterede-Postes Elétricos S.A; Casais - Engenharia e
Construção, S.A e as entidades Irmandade de S. Bento da Porta Aberta e Junta de
Freguesia de Mire de Tibães.
Ao longo dos sete anos de vida ativa do Grupo de Amigos do
Mosteiro de São Martinho de Tibães, uma atividade marcante da associação tem
sido os percursos beneditinos, com viagens pela história da Ordem de S. Bento.
Houve percursos específicos cuja temática se centrou no pecúlio do Mosteiro de
Tibães disperso por diversos espaços, relacionado maioritariamente com a
desamortização dos bens religiosos. Estaremos a lembrar-nos de percursos que se
denominaram "Tibães em Braga", realizados em fevereiro e maio de 2015.
Visitámos espaços religiosos, culturais e públicos que nos falaram
da história de Tibães e da congregação beneditina. Num dos percursos, fomos à
Sé de Braga, onde reencontrámos alfaias e paramentaria; estivemos na Biblioteca
Pública e no Arquivo Distrital onde se conserva parte da livraria de Tibães,
bem como do seu cartório, um quadro com a carta de Couto e os retratos do Conde
D. Henrique e da Rainha D. Teresa e terminámos na sala de entrada da Reitoria
no Largo do Paço para vermos os dois painéis de azulejos oriundos do claustro
do cemitério do Mosteiro.
Noutro itinerário, visitámos o Museu Pio XII, onde nos foi
proporcionado um momento para apreciar diversos capitéis coríntios oriundos de
Tibães e ainda duas imagens dos vultos de S. Bento e S. Bernardo em madeira
dourada e policromada. Continuámos pela igreja do Hospital de São Marcos onde descobrimos,
no coro alto, o órgão de tubos que, segundo especialistas, terá vindo do coro
baixo da Igreja do Mosteiro de Tibães.
No dia 13 de outubro no ano passado, no 21º percurso, fomos à
Biblioteca Pública Municipal do Porto, que recebeu uma parte do espólio da
livraria do Mosteiro de Tibães. Foram apreciadas algumas das melhores peças
provenientes de Tibães pela mão de Alexandre Herculano.
A enumeração da visita dos espaços atrás referidos representa
de alguma forma a lógica, a fundamentação e a premência da realização do curso Conhecer
o Mosteiro de Tibães 1834/1986.
No fecho do curso, durante a mesa redonda, ficou evidente e concluiu-se
que a recuperação do Mosteiro de Tibães não estará ainda terminada. Vieram a
talhe de foice o espaço
do cemitério paroquial, a torre sineira e o órgão de tubos do coro alto.
Quanto ao órgão, recorda-se a realização da tertúlia “Memórias
da Freguesia de Mire de Tibães à volta do Órgãos de Tubos” no ano de 2015, por
sinal muito concorrida, e a tentativa da candidatura ao orçamento participativo
da Câmara Municipal de Braga com o objetivo de concretizar o seu restauro. Criou-se
uma onda de unidade em torno de um elemento do património musical que foi, na
altura, insensivelmente refreada. Não se verificou a necessária anuência da
tutela, a DRCN, e o processo não avançou. Já passaram quatro anos e permanece a
desaprazível situação de um aparente e doloroso abandono.
Na tertúlia, comentou-se que, apesar das tentativas de envolvimento
da população local com o mosteiro, se verifica o seu afastamento e divórcio. Talvez
a resposta seja simples: sempre que os tibanenses abraçam uma causa em torno do
seu património, estes sentem rejeição das suas ideias sem uma cabal e por vezes
prudente justificação. Se pensarmos com algum cuidado, o cemitério, a torre
sineira e o órgão são exemplos de elementos essenciais que fazem parte do
quotidiano da comunidade e que não deveriam ser menosprezados.
Estes cursos e mesas redondas mostraram-se extremamente úteis
por ocasionarem uma benéfica
reflexão e confronto de ideias. A última parte do Conhecer o Mosteiro de Tibães
foi mais além, possibilitando desfazer alguns mitos e erros sobre a venda
pública dos bens do mosteiro. Todos ficamos a ganhar com a sempre desejada
clarificação de conhecimentos.
Paulo Oliveira - A extinção do Mosteiro de Tibães |
Aurélio de Oliveira - A Desamortização em Portugal |
José Carlos Peixoto - Prática religiosa e social |
Aida Mata - Monteiro's, Marques's e companhias |
A mesa redonda |
Assembleia atenta |
Participação do público |
Chafariz no jardim de S. João |
O final do curso e a pausa para café |
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